Em palestra na mesma loja maçônica em que o general Antonio Hamilton Mourão falou em "impor uma solução" para a crise política no País, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, disse que uma "intervenção" militar poderia ocorrer a partir de uma iniciativa do Executivo, Legislativo ou Judiciário, mas que as Forças Armadas pretendem ser "protagonistas silenciosos" da crise.
"Poderemos, eventualmente, ser empregados, mas sempre condicionados por princípios legais e como reza o artigo 142 (da Constituição), por iniciativa de um dos Poderes. E pagamos um preço caro até hoje exatamente por, em alguns eventos, não termos observado esse princípio", disse Villas Bôas.
A reportagem indagou nesta terça-feira, por meio da assessoria do Exército, que "eventos" seriam esses, e se incluíam o golpe militar de 1964, e também pediu que o general comentasse trechos do seu pronunciamento, mas não houve resposta até a conclusão deste texto.
A referência do comandante ao artigo 142 da Constituição é uma interpretação de Villas Bôas sobre o texto, que nada fala sobre "intervenção militar", expressão inexistente na Carta. O artigo se refere a operações para garantia de lei e da ordem, como as realizadas atualmente no Rio de Janeiro para combate ao crime organizado. A palestra de Villas Bôas ao grupo da maçonaria Grande Oriente do Brasil ocorreu em 17 de março, seis meses antes da fala de Mourão, na sexta-feira.
Em entrevista veiculada nesta terça-feira, ao comentar o caso, o comandante do Exército afirmou que o subordinado não receberá punição pelas declarações. O vídeo com a fala de Villas Bôas em março está disponível no site da maçonaria e não indica o local de realização da palestra. A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou ontem um requerimento para ouvir esclarecimentos do general Mourão.