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Justiça

- Publicada em 10 de Setembro de 2017 às 21:30

Joesley e Saud se entregam à PF em São Paulo

Joesley Batista chegou à sede da PF na tarde de ontem

Joesley Batista chegou à sede da PF na tarde de ontem


MATEUS BONOMI/AGIF/FOLHAPRESS/JC
Principal acionista da JBS, o empresário Joesley Batista e o executivo do grupo J&F Ricardo Saud se entregaram ontem à Polícia Federal. Ambos firmaram acordo de delação premiada. O dono da JBS foi protagonista de gravações que levaram o governo Michel Temer (PMDB) a sua maior crise.
Principal acionista da JBS, o empresário Joesley Batista e o executivo do grupo J&F Ricardo Saud se entregaram ontem à Polícia Federal. Ambos firmaram acordo de delação premiada. O dono da JBS foi protagonista de gravações que levaram o governo Michel Temer (PMDB) a sua maior crise.
Joesley e Saud chegaram em seus carros à sede da PF em São Paulo na tarde de domingo. Eles vinham negociando como se apresentariam à polícia após a ordem de prisão expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, também ontem.
Eles devem ser transferidos para Brasília somente hoje, segundo a PF, em um avião da própria instituição.
Joesley esteve no fim de semana em um edifício na região dos Jardins, em São Paulo. Na casa dele, no bairro Jardim Europa, não houve movimentação durante toda a manhã. Três carros saíram do imóvel, o último deles, um Porsche, dirigido pela jornalista Ticiana Villas Boas, mulher de Joesley.
Em Brasília, os delatores farão exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
O ministro Edson Fachin decidiu decretar a prisão do empresário e de Saud após ver "indícios suficientes de que os colaboradores omitiram informações sobre a participação do ex-procurador Marcello Miller no processo de delação premiada da JBS.
Na segunda-feira passada, Janot anunciou a abertura de investigação para apurar possíveis irregularidades nas negociações da colaboração firmada com o Ministério Público.
O centro da crise é uma gravação, datada de 17 de março, em que Joesley e Saud indicam possível atuação de Miller no acordo de delação quando ainda era procurador - ele deixou o cargo oficialmente em 5 de abril. O áudio foi entregue pelos delatores no dia 31 de agosto.
Para a equipe de Janot, houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação que trata de omissão de má-fé, o que justificaria rever os benefícios.
Os três, Joesley, Saud e Miller prestaram depoimentos entre quinta e sexta-feira. Janot não se convenceu dos argumentos. Para ele, há indícios fortes de que Miller tenha participado sim da elaboração do acordo de colaboração.
No sábado, Janot e o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, se encontraram em um bar em Brasília, um dia depois de a Procuradoria pedir a prisão do cliente dele e de Saud.
A informação foi divulgada pelo site "O Antagonista", que reproduziu uma foto do encontro.
Bottini confirmou à reportagem o encontro. O advogado assinou a petição protocolada no Supremo, após o pedido de prisão feito por Janot, em que colocou o passaporte de Joesley à disposição e pediu audiência com o ministro Edson Fachin, que decretou a prisão do empresário e de Saud.
A defesa de Joesley Batista e Ricardo Saud também se manifestou sobre a prisão. Em nota, os dois afirmam que se apresentaram voluntariamente à PF e que não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada. Afirmam, ainda, que estão cumprindo o acordo.
"Em todos os processos de colaboração, os colaboradores entregam os anexos e as provas à Procuradoria e depois são chamados a depor. Nesse caso, Joesley Batista e Ricardo Saud ainda não foram ouvidos", diz a nota.
Ambos afirmam que entregaram aos investigadores uma série de anexos complementares, além dos áudios, e estão à espera de serem chamados para serem ouvidos.
"O empresário e o executivo enfatizam a robustez de sua colaboração e seguem, com interesse total e absoluto, dispostos a contribuir com a Justiça", finaliza a nota.
O advogado de ambos, Antonio Carlos Almeida de Castro, o Kakay, que assumiu a defesa dos executivos, afirma que eles prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. "Não pode o dr. Janot agir com falta de lealdade e insinuar que o acordo de delação foi descumprido."
Kakay disse que o pedido de prisão "levará à descrença e à falta de credibilidade do instituto da delação". Segundo Kakay, Joesley Batista e Ricardo Saud agiram "com lealdade" e seguem à disposição da Justiça.

Para Fachin, delatores da JBS podem ocultar as provas

Ao mandar prender Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), ressaltou que, em liberdade, os colaboradores encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios.
O magistrado decretou prisão temporária, por cinco dias, dos empresários e negou o encarceramento do ex-procurador Marcelo Miller.
"Percebe-se pelos elementos de convicção trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaboradores, quando da celebração do acordo, diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselhamento que vinham recebendo do então procurador da República Marcello Miller", anotou Fachin.
O procurador-geral da República havia pedido a detenção dos delatores e do advogado em razão de áudio enviado pela defesa dos colaboradores em anexo complementar sobre o senador Ciro Nogueira (PP), que revela conversa entre Saud e Joesley na qual Miller é mencionado como um integrante do Ministério Público Federal que teria atuado em benefício da JBS.
"No caso, a análise do áudio e dos documentos juntados na mídia das fls. 15 revela indícios suficientes de que os colaboradores omitiram, no momento da formalização do acordo de colaboração premiada, informações a que estavam obrigados prestar sobre a participação do então procurador da República Marcello Miller no aconselhamento destes quando das negociações dos termos da avença. Num juízo de cognição sumária, como é próprio desta fase, tal fato pode implicar justa causa à ulterior rescisão dos acordos celebrados, nos termos da Cláusula 25 em relação a Ricardo Saud e Cláusula 26 em relação a Joesley Mendonça Batista", anotou Fachin.
Miller é o pivô da investigação que pode culminar com a rescisão da delação da JBS, embasada em áudio enviado pela defesa dos colaboradores em anexo complementar sobre o senador Ciro nogueira. Miller integrou a força-tarefa da Operação Lava Jato e atuou nas delações do ex-senador Delcídio do Amaral e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Marcelo Miller diz que o conteúdo dos áudios é 'fantasioso e ofensivo'

O ex-procurador da República Marcello Miller, suspeito ajudar executivos da JBS na elaboração do acordo de delação premiada, afirmou, ontem, que é "fantasioso e ofensivo" o conteúdo das menções ao seu nome nas gravações feitas pelos delatores. Ele negou que tenha feito jogo duplo ou agido contra a lei. "Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016", diz em nota.
Miller também declarou que, quando era procurador, "nunca atuou em investigações ou processos relativos ao Grupo J&F, nem buscou dados ou informações nos bancos de dados do Ministério Público Federal sobre essas pessoas e empresas". Na sexta-feira, Janot pediu a prisão de Miller e dos executivos da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido, com o argumento de que não havia indícios mínimos de que Miller havia mesmo sido cooptado pela organização criminosa, como sustentou Janot. Na nota, o ex-procurador afirma que "continua à disposição, como sempre esteve, para prestar qualquer esclarecimento necessário e auxiliar a investigação no restabelecimento da verdade".

Michel Temer aposta em cenário mais favorável para encarar a nova denúncia da Procuradoria

O presidente Michel Temer (PMDB) aposta em um cenário mais favorável para enfrentar a nova denúncia que deve ser apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em conversas com ministros e parlamentares durante o fim de semana, o peemedebista avaliou que as prisões dos executivos Joesley Batista e Ricardo Saud enfraqueceram ainda mais a chance de prosperar essa acusação, que precisará ser votada no plenário da Câmara dos Deputados.
Para auxiliares e assessores presidenciais, o episódio fragilizou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e reduziu a legitimidade de uma segunda denúncia contra Temer, desta vez por obstrução judicial e organização criminosa.
A pedido do presidente, foi feita uma consulta informal a líderes da base aliada para avaliar o impacto de uma nova denúncia. O prognóstico recebido é de que ela deve ter menos apoio inicial do que a acusação anterior, por corrupção passiva, que acabou barrada em plenário.
Ainda assim, o Palácio do Planalto avalia que o episódio deve levar os partidos da base aliada a retomar a reivindicação por cargos e emendas parlamentares. Além disso, a postura do PSDB, que votou em peso a favor da denúncia anterior, é considerada uma incógnita em uma nova votação.
A ideia é que o próprio presidente se reúna com partidos governistas que tiveram alto índice de traição na votação passada.