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Cinema

- Publicada em 04 de Setembro de 2017 às 21:39

Real e imaginário

Quatro filmes nacionais lançados simultaneamente formam um conjunto de resistência à avalanche de propostas simplista de olho apenas no mercado. Cumpre ver tais filmes, a fim de que seja constatado que é possível realizar um cinema aberto a qualquer público e afastado da grosseria e da mediocridade. Um filme de cinema, de Walter Carvalho; O filme da minha vida, de Selton Mello; Como nossos pais, de Laís Bodansky; e Bingo - O rei das manhãs, de Daniel Rezende, são trabalhos a serem vistos, não apenas para o aplauso fácil, algo que parece estar na moda e que se constitui quase sempre em simples bajulação. São filmes, sem dúvida, marcados pela honestidade e pela busca de um cinema que não procure apenas a cumplicidade barulhenta de plateias adeptas de panfletos e discursos superficiais. São, todos eles, obras interessadas em discutir relações entre realidade e ficção e também em focalizar dificuldades e complexidades no relacionamento entre os integrantes da família humana. A crítica social, não pode abandonar o indivíduo, até porque é através dele que imperfeições e injustiças se manifestam. Dos quatro filmes citados um pertence ao documentário, gênero no qual o cinema brasileiro tem conseguido momentos expressivos nos últimos anos.
Quatro filmes nacionais lançados simultaneamente formam um conjunto de resistência à avalanche de propostas simplista de olho apenas no mercado. Cumpre ver tais filmes, a fim de que seja constatado que é possível realizar um cinema aberto a qualquer público e afastado da grosseria e da mediocridade. Um filme de cinema, de Walter Carvalho; O filme da minha vida, de Selton Mello; Como nossos pais, de Laís Bodansky; e Bingo - O rei das manhãs, de Daniel Rezende, são trabalhos a serem vistos, não apenas para o aplauso fácil, algo que parece estar na moda e que se constitui quase sempre em simples bajulação. São filmes, sem dúvida, marcados pela honestidade e pela busca de um cinema que não procure apenas a cumplicidade barulhenta de plateias adeptas de panfletos e discursos superficiais. São, todos eles, obras interessadas em discutir relações entre realidade e ficção e também em focalizar dificuldades e complexidades no relacionamento entre os integrantes da família humana. A crítica social, não pode abandonar o indivíduo, até porque é através dele que imperfeições e injustiças se manifestam. Dos quatro filmes citados um pertence ao documentário, gênero no qual o cinema brasileiro tem conseguido momentos expressivos nos últimos anos.
O documentário do grupo é Um filme de cinema, obra realizada durante vários anos e formada por entrevistas com diversos diretores. As perguntas feitas aos cineastas poderiam ter sido outras ou acrescentadas às relacionadas a temas formais e estéticos. Mas alguns momentos são preciosos, como a síntese feita por José Padilha sobre filmes realizados para os grandes estúdios, e o momento que Hector Babenco cita uma recordação de Federico Fellini. E há também a palavra de Kenneth Loach, ressaltando o que realmente importa numa obra cinematográfica. Um dos entrevistados, o cineasta chinês Jia Zhang-Ke, recorda sua emoção ao ver, pela primeira vez, Ladrões de bicicleta, de Vittorio De Sica, e perceber que elementos exteriores podem ser diferentes, mas a essência humana é a mesma. Carvalho utiliza a sequência final do clássico italiano, quando a criança salva o adulto, como numa espécie de recomeço. O filme de Selton Mello já foi abordado neste espaço, sendo outro a falar de cinema para focalizar complexidades nos relacionamentos humanos. No caso, trata-se de homenagem a outro clássico: Rio vermelho, de Howard Hawks, além de diversas referências a outros filmes.
O filme de Laís Bodansky também se refere a uma obra de ficção. No caso, trata-se de Casa de bonecas, a peça de Henrik Ibsen, encenada pela primeira vez em 1879. Diversas vezes filmada, inclusive por Joseph Losey, em 1973, com Jane Fonda no papel de Nora, a peça ganhou, recentemente, uma "parte dois", escrita por Lucas Hnath e encenada na Broadway. Temas como o da inconformidade feminina diante de convenções repressoras poderiam merecer tratamento mais profundo, e são dispensáveis as referências a figuras políticas e à cena partidária. A iluminação de tevê contribui para um certo artificialismo, e o filme é mais um a esquecer que, em cinema, a interpretação herdada do teatro não é o melhor caminho, algo que até realizadores ligados aos palcos, como Visconti e Bergman, claramente demonstraram. E a referência a Ibsen evidencia que certos temas são mais antigos do que muitos pensam. Bingo - O rei das manhãs, boa estreia na direção do montador Daniel Rezende, completa o quarteto. Embora reconstituindo fatos ligados à televisão, as imagens do filme são iluminadas de maneira cinematográfica, tudo é editado de forma precisa, e o ator principal atua de forma a transmitir dramaticidade sem exageros. Outra vez a ficção serve de ponto de partida, no caso, a criação de um personagem que, mais do que dominar seu intérprete, como no episódio dirigido por Alberto Cavalcanti em Na solidão da noite, o condena ao anonimato e ao sofrimento. Rezende, que inclusive trabalhou com Terence Malick em A árvore da vida, agora se revela cineasta com senso de ritmo e capaz de ver, apoiado em roteiro de Luiz Bolognesi, significados reveladores num caso em que um ser humano foi sufocado por uma engrenagem indiferente a individualidades.
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