Cerca de 274 mil toneladas de garrafas e outros materiais plásticos são reciclados todo ano no Brasil, o que representa 51% do descarte total do produto no País, de acordo com dados mais recentes da Associação Brasileira de Indústria PET (Abipet). A atividade, além de vital para preservação do meio ambiente e para a sobrevivência de catadores e cooperativas, também pode ajudar a salvar vidas no Rio Grande do Sul, por meio de um projeto permanente da Associação de Assistência em Oncopediatria (Amo Criança), de Novo Hamburgo.
Desde 2015, a entidade promove a campanha "Eu amo tampinhas", em parceria com o Santuário das Mães, ligado à diocese do município. Centenas de cartazes foram espalhados no Estado para sensibilizar os gaúchos a doarem tampas de garrafas PET, de caixas de sucos e de leite, de embalagens como xampu, amaciante, creme dental, entre outras. Os pontos de coleta vão de igrejas e paróquias até escolas, empresas e condomínios. "Arrecadamos, em média, duas toneladas de tampinhas por mês. Nossa meta é chegar a 30 toneladas neste ano", afirma a gerente administrativa da Amo Criança, Carla Silva. Em Porto Alegre, um dos principais locais de entrega é a Fundação São João (rua General Lima e Silva, 925).
Os materiais são armazenados na sede da entidade (rua Vidal Brasil, 1.695) e na da instituição católica parceira (Estrada Santuário das Mães, 1.000). As tampinhas passam então por uma triagem, realizada por pessoas que receberam sentença de serviço comunitário, para serem, posteriormente, vendidas a um negócio de reciclagem automotiva. Geralmente, o quilo é comercializado a R$ 1,50, conforme a empresa. A renda é revertida para o diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes vítimas de câncer, de até 18 anos.
Atualmente, 42 famílias são assistidas, com origens em Novo Hamburgo, São Leopoldo, Campo Bom e Estância Velha. A entidade oferece consultas médicas, acompanhamento terapêutico, social e emocional aos pacientes e seus familiares, além do encaminhamento para exames e tratamento em hospitais de referência e auxílio no fornecimento de medicamentos, transporte e outros pedidos. Os serviços abrangem as áreas de oncopediatria, odontologia, serviço social, psicologia, fisioterapia, nutrição, pedagogia e musicoterapia. Além disso, há esforço em fortalecer vínculos e integração social das famílias em oficinas de tablets, de inglês, grupo das mães e o chamado Grupo Ama (Atividades Motoras com Animais), um espaço de brincadeiras entre as crianças e um "gato terapeuta".
Em dois anos de campanha, quase 11,9 milhões de tampinhas deixaram de ir para o lixo, cerca de 29 toneladas de plástico, que geraram recursos para viabilizar atendimentos em um conturbado cenário econômico para o terceiro setor. A campanha, conta Carla, tomou uma dimensão que ela não imaginava quando recebeu a sugestão de projeto do monsenhor Oscar João Colling, da diocese de Novo Hamburgo. "Não contava com a capilaridade da Igreja Católica, com a divulgação que ela fez. O monsenhor falava na missa, outros padres começaram também. Quando vi, estávamos recebendo tampinhas de todo o Estado", lembra ela. "As pessoas vão na entidade e levam os cartazes de volta, é uma rede de solidariedade que se espalha rapidamente. Vira um vício mesmo. Tem gente que diz que não consegue mais ir num aniversário e não ficar catando tampinha, outros, que pegam na rua."
Hoje, a ação é considerada indispensável para equilibrar as finanças: no primeiro semestre do ano, a coleta e venda das tampinhas foi responsável por 5% da captação total de recursos da entidade, que ainda promove eventos beneficentes, concorre a editais da iniciativa privada, recebe destinação de imposto de renda e depósitos bancários (Banrisul, Ag. 0290, CC. 06.858.655.2.2) e participa de iniciativas como o McDia Feliz, da rede de fast food McDonald's, e a Ação Infância e Vida, do Banco do Brasil. A campanha também deve ajudar na reforma do prédio, prevista para outubro, melhorando o acesso e o isolamento acústico das salas de atendimento, de olho no conforto e na privacidade de pacientes e seus familiares.
Carla ainda defende que o valor da tampinha vai além do recurso financeiro. "Com essa campanha, a causa do câncer infantil ficou conhecida nas escolas, nas empresas. Crianças e adolescentes foram diagnosticados precocemente porque seus pais ouviram falar na Amo Criança. A comunidade passou a contribuir e realizou outras doações", enumera a gerente, citando ainda o benefício ambiental que a reciclagem dos materiais apresenta.
Mais informações sobre a "Eu amo tampinhas" podem ser obtidas no telefone (51) 3582-4800.