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Sustentabilidade

- Publicada em 11 de Setembro de 2017 às 21:16

Falta de planejamento urbano atrapalha o desenvolvimento harmônico de cidades

Para Cabral, distância não é necessariamente um problema, desde que haja transporte público adequado

Para Cabral, distância não é necessariamente um problema, desde que haja transporte público adequado


FREDY VIEIRA/JC
Muitos desafios estão no caminho do desenvolvimento sustentável das cidades em todo o mundo. Os municípios, quase sempre carentes de recursos para investimentos em infraestrutura, precisam superar um obstáculo ainda mais severo: a falta de um planejamento urbano mais detalhado, que leve em consideração a sustentabilidade e a inclusão - fatores que estão entre as principais diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU) para a urbanização no planeta.
Muitos desafios estão no caminho do desenvolvimento sustentável das cidades em todo o mundo. Os municípios, quase sempre carentes de recursos para investimentos em infraestrutura, precisam superar um obstáculo ainda mais severo: a falta de um planejamento urbano mais detalhado, que leve em consideração a sustentabilidade e a inclusão - fatores que estão entre as principais diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU) para a urbanização no planeta.
Essas orientações globais - voltadas a aspectos como transporte público, controle das emissões de carbono, igualdade de oportunidades e gestão adequada dos recursos naturais - foram renovadas na terceira edição da Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III). Realizado em Quito, no Equador, em outubro de 2016, o evento reuniu cerca de 36 mil pessoas de 167 países. "A faceta mais importante desse debate é fazer com que as cidades sejam mais úteis, e mais utilizadas pelas pessoas", resume o arquiteto Alberto Cabral, integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS), que acompanhou as discussões da conferência.
As diretrizes deliberadas no Equador convergem para a busca da melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. Nesse sentido, medidas como a implantação de sistemas de tratamento de água e esgoto e de criação de fontes de energia são apontados como itens essenciais. O transporte público é outro aspecto importante, também no sentido da inclusão das populações das áreas mais periféricas. "A distância não é necessariamente um problema, desde que haja transporte público adequado", observa Cabral, citando cidades como Vancouver (Canadá) e Seul (Coreia do Sul) como bons exemplos nesse sentido.
Um dos problemas mais comuns das cidades, na visão do arquiteto, é a estrutura fiscal. "As cidades são geradoras de riquezas. Em torno de 70% da população mundial habitam cidades, e devem ser mais de 80% até 2050. As cidades vão gerar ainda mais receitas, que em geral vão para governos centrais, que retornam só um percentual. Essa estrutura financeira terá de mudar", prevê Cabral, lembrando que uma exceção é o Canadá, onde o sistema de arrecadação está nas grandes cidades, permitindo que os municípios administrem suas receitas.
Além do aspecto financeiro, há outra questão primordial a ser enfrentada pelas cidades brasileiras na trilha da sustentabilidade: a falta de planejamento. "Poucas cidades do Brasil têm planejamento urbano. Em Porto Alegre, por exemplo, essa questão ficou jogada à quinta necessidade, praticamente não existiu nos últimos 20 anos. A prefeitura simplesmente homologou os projetos propostos pela iniciativa privada. O empreendedor faz e o município fica a reboque", diz o arquiteto, acrescentando críticas ao Plano Diretor da Capital: "O Plano Diretor é aberto, pode-se propor exceções na forma de projetos especiais. É rígido por um lado, mas flexível por outro".
Cabral reconhece exceções nesse padrão, inclusive no interior do Rio Grande do Sul - Teutônia, segundo ele, é um caso de cidade que obteve bons resultados a partir de um planejamento simples. "Mas são sempre casos pontuais. Das grandes cidades, nenhuma tem características que levem a ser cidades inclusivas. Brasília, por exemplo, tornou-se uma ilha de exclusão, com prédios quase isolados", compara o arquiteto.
No caso específico de Porto Alegre, o arquiteto acredita que uma alternativa seria a divisão do município em subprefeituras, ou áreas administrativas similares, para que a gestão dos bairros pudesse ser compartilhada, "e não ficar à mercê de um prefeito que só conhece uma parte da cidade". "Porto Alegre poderia ser dividida em quatro ou cinco partes, cada uma com autonomia", conclui Cabral.

Novo prédio da Unisinos em Porto Alegre combina economia e paisagismo

As paredes verdes da fachada da nova sede da Unisinos em Porto Alegre, inaugurada recentemente no bairro Boa Vista, são o aspecto ambiental mais visível para o público que circula pela região. Mas trata-se mais de uma questão visual e paisagística do que de sustentabilidade, de acordo com o projeto. "Havia uma linha de árvores na calçada. A preocupação era recompor essa paisagem, fazer com que o projeto se encaixasse da maneira mais sutil possível, não agredisse (o ambiente)", explica o arquiteto Tarso Carneiro, da AT Arquitetura, escritório que fez o projeto arquitetônico e a coordenação de projetos da edificação.
Carneiro explica que a parede verde - e também o telhado verde, implantado na cobertura do prédio comercial do complexo - contribuem para renovar o oxigênio e amenizar a temperatura no local. Mas, lembrando que "sustentabilidade se sente no bolso", o arquiteto esclarece que o projeto buscou especialmente a eficiência no consumo de energia: "Iluminação e ar-condicionado são os grandes consumos de energia em um prédio. Trabalhamos no sentido de reduzir esse consumo, por meio do isolamento térmico eficiente da periferia do prédio".
Para isso, além do telhado verde, foram usados vidros insulados de 28 mm de espessura (duas camadas de vidro, com uma camada de vácuo entre elas) com um pigmento de prata que reflete a luz e não deixa o calor entrar.
Outro item foi uma fachada ventilada nas laterais, com uma camada externa de cerâmica. "Isso tudo deu uma boa inércia térmica para o prédio, então o ar-condicionado consome bem menos energia", diz Carneiro. Sem citar números exatos, o arquiteto calcula que, "em pouco tempo", o gasto com esses materiais será compensado com a economia na conta de energia elétrica.
Também norteou o projeto a relação entre os prédios e o entorno. A área comercial, por exemplo, foi concebida para atrair um público que não se limitasse aos estudantes da universidade - em vez de vitrines, o olhar do transeunte é atraído pela parede verde. O estacionamento, que representa praticamente metade da área construída, está no subsolo. Há também um bicicletário com vestiário, para quem se desloca até ali pela ciclovia. "Isso também é sustentabilidade, é contribuir para termos uma cidade melhor, onde as pessoas possam caminhar ou chegar de bicicleta", define Carneiro.