No final da década de 1970, o Brasil era importador de aveia, cultura de inverno presente em apenas 58,4 mil hectares por aqui, segundo dados da Embrapa. O motivo era bem simples: pouco adaptado ao clima brasileiro, o grão apresentava baixa qualidade e ainda concorria diretamente com a soja, já que o longo ciclo só permitia aos produtores colherem as áreas entre novembro e dezembro.
Nessa mesma época, o jovem Luiz Carlos Federizzi concluía mestrado em Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e se preparava para um curso de doutorado em Genética e Melhoramento Genético de Plantas na Universidade da Califórnia, Davis, nos Estados Unidos. A ideia era continuar a pesquisar sobre trigo, cultura que chegou a ser o esteio econômico da região Sul na década de 1950, até que o orientador sugeriu a ele focar os estudos na aveia. Foi o começo de uma carreira que representa muito das 690 mil toneladas do grão colhidas em 2016, que teve mais de 291,5 mil hectares semeados com a cultura no Brasil, hoje autossuficiente.
Federizzi, agora professor titular da Faculdade de Agronomia da Ufrgs, lidera há anos o Programa de Melhoramento Genético de Aveia da universidade gaúcha. É uma equipe multidisciplinar e variável, composta por professores de diversas áreas e de seis a 10 alunos de pós-graduação. A principal contribuição do programa é oferecer variedades de sementes cada vez melhores e mais adaptadas às regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde a aveia é cultivada. A estimativa é que mais de 90% dos agricultores que apostam nessa cultura para o inverno plantam cultivares URS, sigla que identifica a instituição de ensino no mercado.
Assim, ao longo dos anos, os produtores rurais brasileiros passaram a investir numa aveia mais tolerante ao alumínio presente no solo, de maior qualidade, com menor estatura, mais resistentes à principal doença da cultura, a ferrugem da folha, e que florescia mais cedo (eles identificaram genes que não dependiam da luz para essa etapa do desenvolvimento), viabilizando o cultivo da soja no mesmo ano-safra, entre outros avanços genéticos. Resultado: a produtividade que, em meados da década de 1980, era em torno de 940 quilos por hectare, chegou a 2.367 quilos por hectare, em média, na safra passada - com muito mais aceitação da indústria, inclusive atraindo novos empreendimentos para o País.
"Tentamos lançar novas variedades a cada dois ou três anos, sempre superando as anteriores", conta Federizzi, que observa pouco interesse de empresas públicas e multinacionais na cultura, o que amplia a responsabilidade das universidades. Para ele, o maior mérito do programa, além de fortalecer esse nicho de mercado no agronegócio, é a formação dos estudantes para trabalhar "desde tomate a eucalipto", conforme suas palavras. "Eles saem empregados, ganhando mais que a gente", brinca.
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Homenageados em 2017 |
PRÊMIO ESPECIAL |
Luiz Carlos Federizzi - Ufrgs |
CADEIAS DE PRODUÇÃO E ALTERNATIVAS AGROPECUÁRIAS |
Aproccima |
Geovano Parcianello - Irga |
Jorge Tonietto - Embrapa |
INOVAÇÃO, TECNOLOGIA RURAL E EMPREENDEDORISMO |
Julio Otavio Jardim Barcellos - Ufrgs |
SIA - Serviço de Inteligência em Agronegócio |
Homero Bergamaschi - Ufrgs |
Maria do Carmo Bassols Raseira - Embrapa |
Antonio Folgiarini de Rosso - Irga |
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL |
Cimélio Bayer - Ufrgs |
Alianza del Pastizal - BirdLife International |
Flávia Fontana Fernandes - UFPel |