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Cinema

- Publicada em 17 de Agosto de 2017 às 22:02

O sacrifício

Prêmio de direção no Festival de Cannes deste ano, o novo filme da diretora Sofia Coppola é uma aproximação com um dos clássicos de Donald Siegel, que, em 1971, realizou uma versão do romance The beguiled, de Thomas Cullinan, com Clint Eastwood no papel agora vivido por Colin Farrell. O ator protagonista daquele clássico, que depois também ocuparia um lugar entre os maiores, reconheceu, na dedicatória de Os imperdoáveis, que Siegel não foi apenas seu diretor naquele e em outros filmes, tendo sido igualmente um mestre cujo trabalho estava sendo atentamente observado, como o de Sergio Leone, também lembrado naquela dedicatória. Se a comparação com o filme de Siegel é inevitável, é importante lembrar que não estamos diante de uma refilmagem. Isso seria verdade se o roteiro do primeiro filme fosse original. Como não é o caso - e mesmo que a cineasta tenha visto e estudado o relato de Siegel -, o que temos não é uma revisão de outro filme, e sim uma retomada do tema, a partir do livro original. Depois da obra atualmente em cartaz, a diretora realizou um filme tendo por base um espetáculo italiano, baseado em La Traviata, de Verdi. Obviamente, não se trata de uma refilmagem da obra realizado por Franco Zeffirelli sobre a mesma ópera, e sim a visão da diretora sobre o tema, abordado por muitos, inclusive por George Cukor em outro clássico, baseado na peça A dama das camélias, de Dumas Filho, a origem daquele drama musical, filme que utilizava a música de Verdi na faixa sonora.
Prêmio de direção no Festival de Cannes deste ano, o novo filme da diretora Sofia Coppola é uma aproximação com um dos clássicos de Donald Siegel, que, em 1971, realizou uma versão do romance The beguiled, de Thomas Cullinan, com Clint Eastwood no papel agora vivido por Colin Farrell. O ator protagonista daquele clássico, que depois também ocuparia um lugar entre os maiores, reconheceu, na dedicatória de Os imperdoáveis, que Siegel não foi apenas seu diretor naquele e em outros filmes, tendo sido igualmente um mestre cujo trabalho estava sendo atentamente observado, como o de Sergio Leone, também lembrado naquela dedicatória. Se a comparação com o filme de Siegel é inevitável, é importante lembrar que não estamos diante de uma refilmagem. Isso seria verdade se o roteiro do primeiro filme fosse original. Como não é o caso - e mesmo que a cineasta tenha visto e estudado o relato de Siegel -, o que temos não é uma revisão de outro filme, e sim uma retomada do tema, a partir do livro original. Depois da obra atualmente em cartaz, a diretora realizou um filme tendo por base um espetáculo italiano, baseado em La Traviata, de Verdi. Obviamente, não se trata de uma refilmagem da obra realizado por Franco Zeffirelli sobre a mesma ópera, e sim a visão da diretora sobre o tema, abordado por muitos, inclusive por George Cukor em outro clássico, baseado na peça A dama das camélias, de Dumas Filho, a origem daquele drama musical, filme que utilizava a música de Verdi na faixa sonora.
A distribuidora brasileira optou por manter o título com o qual o filme de Siegel foi exibido no Brasil. Assim, temos em cartaz um novo O estranho que nós amamos, uma denominação que está longe do significado do relato proposto. O que o espectador acompanha na tela é uma espécie de explosão de forças reprimidas por elementos constituídos por formas destinadas a moldar comportamentos e atitudes. É o combate entre instinto e civilização. A ação transcorre durante uma guerra, esta outra manifestação da irracionalidade contida e momentaneamente liberta, da qual sete mulheres - a diretora de um colégio feminino, sua auxiliar e as alunas - se afastam através do isolamento. Enquanto são ouvidas explosões ao longe, os rituais estabelecidos são rigorosamente cumpridos. As aulas de francês seguem regularmente, e as orações são recitadas segundo as normas há séculos criadas. E certamente não é por acaso que na faixa sonora são tecidas variações sobre o Magnificat, de Monteverdi, um dos criadores do drama musical. Assim, formas culturais no sentido mais amplo são abaladas pela chegada do cabo do exército nortista, que representa em cena o elemento que foi afastado, algo que dá origem a um novo tipo de ritual, aquele destinado a encobrir desejos e a ocultar manifestações. O retrato composto pela realizadora é convincente, e a forma pela qual ela procurou registrar tal conflito exibe inegável capacidade de sintetizar complexidades, sem que a força dramática seja diluída.
O personagem de Farrell traz para cada uma das mulheres do colégio algo que supre carências e desejos. Isto é evidente em muitas cenas, dede a figura paternal até a configuração de um desejo dolorosamente reprimido. E nada como a figura de um ferido pela irracionalidade maior - uma forma de resposta às leis que reprimem e controlam os seres humanos - para representar um agressivo gênero de resposta. Mas é esta resposta que termina gerando algo ainda mais radical. Para ser mantida a harmonia, para que a cultura seja preservada e os rituais voltem à sua forma original é necessária a imolação. É quando a realizadora se esmera ao encenar o ritual do sacrifício. A castração simbólica não é apenas um castigo imposto ao transgressor. Estamos diante de um cerimonial encenado com rigor e que expõe na tela a essência da trama. O filme focaliza com perfeição esta cerimônia na qual a civilização paga tributo às leis por ela mesmo criadas. O plano definitivo é composto pela oferta de um sacrifício, as grades da repressão e o altar das leis vencedoras.
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