O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiu a licença ambiental que autoriza o início das obras da linha de transmissão de energia que vai se estender por 2,5 mil quilômetros e ligar a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao Rio. A linha que começará a ser erguida será a mais extensa do País e cortará 78 cidades de cinco estados.
O linhão de transmissão será construído pela concessionária Xingu Rio Transmissora de Energia, que pertence à chinesa State Grid, dona do projeto. Os empresários devem investir mais de R$ 10 bilhões para a construção do linhão. O atraso das obras de linhas de transmissão de energia vai começar a afetar a operação da maior hidrelétrica brasileira.
A partir de setembro, a usina de Belo Monte, em construção no Pará, ficará tecnicamente impedida de entregar todo o volume de energia que suas turbinas são capazes de produzir, por causa de linhas de transmissão que deveriam estar prontas, mas que só existem no papel.
A restrição técnica, foi oficialmente comunicada pela concessionária Norte Energia, dona de Belo Monte, ao Ministério de Minas e Energia (MME), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com seis turbinas da casa de força principal em operação, além de seis máquinas de menor porte da casa de força complementar, a usina atingiu potência de 3.899 megawatts (MW) - o limite que a rede atual de transmissão consegue suportar. Acima disso, essa malha, que foi improvisada para distribuir a energia da usina, não aguentaria.
Ocorre que, entre setembro e dezembro, mais duas máquinas de 611 MW cada entrarão em operação, energia adicional suficiente para atender mais de 2,1 milhões de pessoas. Sem linha, essas turbinas terão de ficar desligadas. O governo alega que, com o período seco na região e a baixa vazão do rio Xingu nesta época, o acionamento de Belo Monte já seria reduzido, independentemente das máquinas à disposição.
Em novembro, porém, com o início do período chuvoso, seria hora de operar a plena carga. Não bastasse o prejuízo operacional que a falta de transmissão pode produzir - a geração hidrelétrica reduziria a dependência do uso de usinas térmicas, mais caras e poluentes -, há a possibilidade de que o consumidor brasileiro tenha de pagar por uma geração que não usou, já que Belo Monte tem direito a ser remunerada.
O plano de distribuição de energia de Belo Monte se apoia na construção de três novas linhas. A primeira, conhecida como "linhão pré-Belo Monte", teve seu contrato assinado com a espanhola Abengoa em fevereiro de 2013. Previa uma rede de 1.854 quilômetros de extensão para fevereiro de 2016. Seria a malha de estreia da hidrelétrica, afinada com o cronograma das 18 máquinas de 611 MW da usina. Essa rede levaria a carga inicial de Belo Monte para o Nordeste; outras duas linhas de 2,1 mil quilômetros, que seguem para o Sudeste, entrariam em operação em março de 2018 e dezembro de 2019. A Abengoa naufragou com a crise financeira, e nada foi feito.
Desde o ano passado, o governo tem improvisado a entrega da energia de Belo Monte com redes locais de transmissão que chegam ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse que o governo está empenhado em adiantar o cronograma da linha que segue até São Paulo. O plano é apertar o passo nas obras da concessionária Belo Monte Transmissora de Energia, para tentar ligar a linha liderada pela chinesa State Grid em dezembro.
"Acreditamos que seja viável essa antecipação. Assim, teríamos o aproveitamento de todas as máquinas de Belo Monte sem problemas, já no período chuvoso." A estratégia foi confirmada pelo MME. "Em função do período seco, até o mês de dezembro, somente haverá disponibilidade hídrica para geração em até seis unidades geradoras", declarou o ministério. "Com a antecipação do sistema de transmissão e com a previsão das afluências à Hidrelétrica de Belo Monte, não se vislumbra, até dezembro de 2017, restrição de escoamento da geração disponível na usina, mesmo com a entrada em operação de unidade geradoras adicionais."