Às vésperas da votação da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o presidente Michel Temer (PMDB) se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no final da manhã deste domingo para discutir o agravamento da crise política e a votação da denúncia apresentada contra o peemedebista. Temer chamou Maia ao Palácio do Jaburu por volta das 11h. Os dois conversaram por pouco mais de uma hora na residência oficial do presidente.
As articulações prosseguiram à tarde. Líderes da base aliada e ministros de Estado participaram de reunião no Palácio da Alvorada. Além dos comandantes de bancada, os ministros Eliseu Padilha (PMDB, Casa Civil) e Aloysio Nunes (PSDB, Relações Exteriores) também estiveram no encontro. Outras presenças confirmadas foram os líderes do governo no Congresso Nacional, deputado André Moura (PSC), e no Senado, Romero Jucá (PMDB).
O governo quer acelerar a votação da denúncia contra Temer na CCJ e no plenário da Câmara, mas o cronograma estabelecido até agora deixa aberta a possibilidade de que o processo só seja concluído em agosto - após o período de recesso parlamentar, que começa em 18 de julho.
Auxiliares de Temer tentam articular a suspensão desse recesso, com o adiamento da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Oficialmente, os parlamentares só saem de folga se esse projeto for votado até o dia 17.
Nesse cenário, seria preciso entrar em acordo com as bancadas para evitar também o chamado "recesso branco", em que as atividades no Congresso são mantidas, mas não há sessões de votação convocadas.
Temer também recebeu, neste domingo, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que recomendou cautela ao governo para a votação da reforma trabalhista, na terça-feira.
Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, há promessa de votos suficientes para aprovar o texto, mas a margem pró-governo é apertada.
Dos 81 senadores, 42 declararam apoio ao texto. O governo precisa de ao menos 41 para ganhar a votação no plenário. São contra a proposta pelo menos 23 senadores, de acordo com a enquete, e 16 não se manifestaram.
De quinta-feira até sábado, Eunício Oliveira foi o presidente do Brasil em exercício, porque tanto Temer quanto Maia estavam fora do País. Maia retornou ontem da Argentina, onde estava para o Fórum de Relações Internacionais e Diplomacia Parlamentar; e Temer também voltou neste sábado da Alemanha, onde participou de encontro do G-20.
Primeiro na linha sucessória do Palácio do Planalto, Maia poderá assumir interinamente o cargo por até seis meses caso a Câmara e o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovem o recebimento da denúncia que acusa Temer por corrupção passiva. O afastamento só se dá após análise da Justiça, mas antes é necessário aval da Câmara por ao menos 342 votos.
Maia tem dado declarações públicas em que enfatiza sua lealdade a Temer. Ele não tem feito movimentos para minar a sustentação dada ao presidente no Congresso, mas já recebeu em sua casa dezenas de deputados que participam dessas articulações. Na Alemanha, na sexta-feira, Temer disse que confia no presidente da Câmara. "Acredito plenamente. Ele só me dá provas de lealdade", afirmou.