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Limpeza urbana

- Publicada em 19 de Julho de 2017 às 22:30

Focos de lixo persistem no Morro Santana

Em barranco, móveis abandonados unem-se a sacolas com dejetos

Em barranco, móveis abandonados unem-se a sacolas com dejetos


MARCELO G. RIBEIRO/MARCELO G. RIBEIRO/JC
Com inúmeras ocupações, o Morro Santana, na Zona Leste de Porto Alegre, enfrenta problemas típicos de locais sem muita presença do Estado - áreas irregulares, sem saneamento básico, ruas sem asfalto, estreitas e, frequentemente, sem coleta de resíduos. O resultado são grandes focos de lixo, que, somados à mata existente na região, tornam-se os locais ideais para a proliferação do mosquito-palha, transmissor de leishmaniose.
Com inúmeras ocupações, o Morro Santana, na Zona Leste de Porto Alegre, enfrenta problemas típicos de locais sem muita presença do Estado - áreas irregulares, sem saneamento básico, ruas sem asfalto, estreitas e, frequentemente, sem coleta de resíduos. O resultado são grandes focos de lixo, que, somados à mata existente na região, tornam-se os locais ideais para a proliferação do mosquito-palha, transmissor de leishmaniose.
Três pessoas já morreram vitimadas pela doença na região desde o final do ano passado. Para combater a epidemia, a prefeitura determinou, em maio, a intensificação da limpeza no local. Os focos, contudo, persistem.
Diante do mau cheiro, a comunidade promove queimadas, causando risco de incêndio na mata e problemas respiratórios nas pessoas. A estudante de confeitaria Sônia Pereira, de 40 anos, mora em frente a um dos focos, no beco 503 da rua 6. Quando a reportagem do Jornal do Comércio estava lá, se aproximou, com esperança que fosse alguém da prefeitura. "Meus filhos pequenos têm asma e já tiveram crises por causa da fumaça. Queria pedir para alguém tirar o lixo e proibir a sua colocação ali. Se não proibir, vai continuar", explica.
Em frente à casa de Sônia há um barranco onde, além de dezenas de sacolas plásticas com dejetos, seria possível montar uma casa inteira - fogão, colchão, cama, sofá, mesa, tudo se encontra ali. "As pessoas se mudam e jogam as coisas ali", reclama. Quando o acúmulo é muito grande, algum vizinho acaba queimando o lixo. "Esses dias, a fumaça estava tão forte que tive que apagar com água." Para chegar ao lugar onde a estudante e tantas outras pessoas moram, é preciso fazer uma trilha pelas pedras, comum em municípios rurais, e não na capital do Estado.
Sônia vive há dois meses no local. No bairro Rubem Berta, onde morava, ela sabia que funcionava o projeto Bota-Fora, no qual o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) buscava os resíduos que não eram recolhidos na coleta diária, como caliça, móveis ou eletrodomésticos velhos. "Aqui, eu não sei, porque ainda não conheço muita gente e não temos assistente social no posto", pontua.
O posto sem assistente social a que a estudante se refere é o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Leste II, que atende ao Morro Santana. A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), no entanto, assegura que há uma psicóloga e uma assistente social no local, e que o Cras Leste II não está fechado nem autorizado a fechar. Contudo, admite que, desde o início de junho, a equipe dos Cras está reduzida, com menos assistentes sociais e psicólogos. O motivo é o fim do convênio com a Sociedade Meridional de Educação (Some), que disponibilizava, de forma terceirizada, 55 dos 97 profissionais que atendem aos 22 Cras de Porto Alegre.

Moradores fazem limpeza por conta própria enquanto DMLU estuda como acessar o local

Edna Grasiela Mattos é educadora da Associação Madre Teresa de Jesus (AMTJ), uma instituição que atende 46 crianças no contraturno da escola. A entidade está localizada em área regular, asfaltada, com coleta de lixo. Contudo, nem sempre o caminhão passa - a via é estreita e fica na entrada de um beco no qual carros não conseguem trafegar. Por isso, os carros dos habitantes do beco ficam estacionados ali, impedindo a passagem do caminhão.
Em nota, o DMLU informou que se trata de uma área irregular e de difícil acesso, onde os moradores têm depositado os mais diversos materiais. "Está sendo estudada uma forma de fazer o recolhimento destes resíduos, devido à dificuldade operacional no local", pontua. Quando a coleta não é feita, a comunidade procura fazer a limpeza. "Mas os próprios coletores querem ajudar. Se não conseguem passar, sempre tentam descobrir de quem é o carro, para abrir passagem", conta Edna Grasiela.
Na AMTJ, as professoras procuram trabalhar com as crianças, em conjunto com o posto de saúde da região, temas como os perigos do acúmulo de lixo e os modos de contrair leishmaniose. "Trabalhamos as causas, o que a doença pode trazer, pedimos para quem tem cachorro manter o animal dentro do pátio, porque aqui é uma região que tem mata e é na mata que o mosquito se prolifera", relata a educadora.
De acordo com Edna Grasiela, todos os seus alunos têm cão em casa. "É preciso um cuidado maior, para não perdermos os bichinhos. A prefeitura estava querendo matar os animais. Imagina? Se tem outras soluções, não dá para fazer isso", defende. Os casos de leishmaniose assustaram a comunidade, mas, com isso, surgiu a conscientização. "Sempre vem agente de saúde aqui, pergunta como os cachorros estão, se estão sendo tratados. Isso faz com que a vizinhança entenda melhor que precisa cuidar."
Jeane Terezinha Batista Luiz, de 40 anos, caminhava pela trilha do beco 503 com sua filha, Daniela Virgínia Batista Luiz, de 22, e observava a vista lá de cima, que seria mais bonita se não tivesse lixo espalhado por toda a área irregular. "O caminhão vem quando quer e não chega nos becos. Então, sempre tem lixo aqui", afirma Jeane. Daniela destaca que essa é a realidade, também, de outros becos da região. A dupla tem três cachorros, todos "atados" no pátio.