Higienista concursada no Hospital Nossa Senhora da Conceição, pertencente ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC), desde março de 2015, Raquel Furtado, de 34 anos, recebeu com surpresa a notícia, na segunda-feira, de que estava sendo demitida por justa causa. A demissão ocorreu após conclusão de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) referente, segundo Raquel, à sua postagem, em abril, no Facebook, denunciando assédio sexual cometido por um médico.
"O setor de higienização sempre sofreu perseguição, com os servidores recebendo recorrentes advertências e suspensões por atrasos, faltas e participação em manifestações. Quando eu fui assediada sexualmente, denunciei, conforme fui orientada pela minha supervisora, e nada aconteceu", relata a higienista.
Conforme relato da servidora, no ano passado um médico a apalpou e encostou com o corpo em suas nádegas no corredor do Conceição. Depois da denúncia, Raquel foi transferida de setor e até mesmo de hospital durante um período. "Enquanto isso, ele seguiu onde estava, sem penalização", destaca.
Em abril, quando o ator José Mayer foi denunciado por assédio sexual por uma figurinista, a servidora do GHC abriu o jogo publicamente e falou sobre o seu caso no Facebook. "Depois disso, a diretoria me chamou para entender a questão e alegou não ter tomado conhecimento do assunto antes. Aí, abriu PAD contra o médico, por assédio sexual, e contra mim, por supostamente ter 'denegrido' a imagem do GHC", conta.
O processo administrativo durou 60 dias, e sua conclusão envolveu uma advertência por escrito à higienista. Pouco mais de uma semana depois, veio a demissão por justa causa. "Eles alegam insubordinação e má conduta", afirma Raquel. O PAD sobre o assédio do médico ainda não foi concluído, e a servidora teve negado seu pedido de informação a respeito.
Para a higienista, retaliações ocorreriam independentemente do que tivesse escrito. "Contei a minha história, o que realmente aconteceu. Eu fui assediada, busquei ajuda e me foi negada. Não tive intenção de denegrir o hospital", critica.
Mesmo assim, Raquel não se arrepende de ter feito a denúncia. "Quando somos vítimas, não temos que nos envergonhar. Fiz concurso, passei, estava no meu direito de trabalhar naquele hospital. Quem deve ter vergonha são o médico e o GHC, que está acobertando o caso", defende. O recurso contra a demissão está correndo judicialmente, com a supervisão do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Casas de Saúde do Rio Grande do Sul (SindiSaúde-RS).
Em nota, o GHC informou que, "em respeito à profissional, que não faz mais parte dos quadros desta instituição de saúde", o estabelecimento, "seguro dos procedimentos administrativos", não irá se manifestar sobre o caso.