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Conjuntura

- Publicada em 17 de Julho de 2017 às 20:48

Bancos travam crédito do Bndes aos pequenos

Os pequenos negócios, responsáveis por 27% do PIB brasileiro, estão com dificuldades para conseguir empréstimos do Bndes. As instituições financeiras que operam essa linha de crédito para o banco estatal travaram os empréstimos na ponta sob o argumento de que não podem arcar com o elevado risco das operações - o calote nesta linha quadruplicou nos últimos dois anos.
Os pequenos negócios, responsáveis por 27% do PIB brasileiro, estão com dificuldades para conseguir empréstimos do Bndes. As instituições financeiras que operam essa linha de crédito para o banco estatal travaram os empréstimos na ponta sob o argumento de que não podem arcar com o elevado risco das operações - o calote nesta linha quadruplicou nos últimos dois anos.
Os desembolsos do Cartão Bndes para micro, pequenas e médias empresas caíram 60% entre janeiro e maio deste ano, de R$ 2,84 bilhões para R$ 1,15 bilhão. Para driblar a resistência dos grandes bancos e pulverizar o acesso aos financiamentos, o banco estatal estuda parcerias com empresas tecnológicas que atuam no setor financeiro, as "fintechs".
Os grandes bancos alegam que a modalidade de crédito via cartão Bndes não cobre os riscos de inadimplência, inteiramente assumidos por eles. Embora o Bndes seja a fonte de recursos para esse tipo de financiamento, ele não arca com os prejuízos em caso de calote. Com o agravamento da crise econômica e as poucas garantias oferecidas pelas empresas que buscaram o crédito mais barato, a inadimplência chegou a quadruplicar em instituições que repassaram grande volume dessa linha entre 2015 e 2017.
As empresas reclamam que os gerentes bancários "escondem" o Cartão Bndes dos clientes para vender produtos mais caros. A taxa de juros do Cartão Bndes estava em 1,12% ao mês em julho de 2017. Apenas um terço da taxa é repassada aos bancos operadores. Mas o banco estatal já estuda mudar essa remuneração. "O Bndes está alterando a estrutura de preços do cartão, incorporando indicadores de inadimplência e de desempenho ao spread dos agentes financeiros, de maneira que o banco emissor seja melhor remunerado, de acordo com sua performance, e estimulado a ampliar a emissão", disse, em nota.
Segundo o Bndes, a retração nos desembolsos do cartão ocorreu, segundo os principais bancos emissores, em decorrência do aumento do risco de inadimplência das empresas de menor porte. Além disso, a crise contribuiu para diminuir o interesse dos empresários por investimentos.
O Banco do Brasil (BB) era o maior repassador dessa linha, mas, neste ano, caiu para o 3º lugar, com participação de 15% nos desembolsos. Diante dos calotes, o BB passou a exigir mais garantias dos clientes. Em 2017, os maiores operadores do cartão são Bradesco (38,6%) e Caixa Econômica Federal (29,8%). Bndes e BB planejam agora criar uma nova linha que deve substituir o Cartão Bndes.
A reportagem procurou BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander. A Caixa negou que esteja represando financiamentos da modalidade e reconheceu que eventual mudança na remuneração dos bancos pode ampliar a demanda. O Itaú disse apenas que "mantém sua oferta de concessão de crédito por meio do Cartão Bndes". Os demais não responderam.
O aumento do crédito para pequenas e médias empresas está sendo discutido pela área econômica do governo, que vê também nesse segmento uma alavanca para diminuir o desemprego nos próximos meses, já que os pequenos negócios empregam 63% da força de trabalho formal do País, segundo dados do Sebrae. O presidente do Bndes, Paulo Rabello de Castro, tem se reunido periodicamente com os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para avaliar o cenário do crédito no País.
Em apresentação ao Congresso na semana passada, a Fazenda chegou a comparar o desempenho do Bndes com o do Bradesco. Enquanto o Bndes concentra 80% do seu crédito nas grandes empresas, o Bradesco concede 64% dos financiamentos às pequenas e médias.
 

Fintechs podem ser incluídas no rol de agentes a fim de ampliar os financiamentos

Em meio à resistência dos grandes bancos em oferecer crédito a micro, pequenas e médias empresas, o Bndes pretende diversificar sua rede de repassadores para garantir que o segmento, um de seus principais focos desde a mudança de política do banco, tenha acesso aos financiamentos. O principal objetivo é incluir no rol de agentes financeiros as empresas tecnológicas que atuam no setor, as chamadas "fintechs".
A intenção do banco é que as fintechs sejam no futuro articuladoras de "comunidades creditícias", assim como são hoje as cooperativas. Com isso, o banco poderia oferecer linhas ainda mais especializadas para determinados segmentos, como tecnologia ou saúde, por exemplo.
O Sebrae avalia usar o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe) para oferecer garantias em financiamentos contratados junto às fintechs. O fundo tem hoje R$ 780 milhões, que podem alavancar empréstimos equivalentes a 12 vezes esse valor, ou seja, mais de R$ 9 bilhões. De acordo com o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, a ideia é abrir uma seleção para eleger qual fintech será contemplada. O presidente do Bndes, Paulo Rabello de Castro, tem dito a interlocutores que se trata de um projeto a ser desenvolvido ao longo de dois anos.
As fintechs hoje não são regulamentadas pelo Banco Central (BC), mas a atividade tem despertado o interesse por parcerias. O presidente do Sebrae afirmou que os grandes bancos estão "enferrujados" na forma de ofertar o crédito para esse público e que a própria entidade está estudando canais alternativos para dar suporte ao segmento.