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Cinema

- Publicada em 16 de Julho de 2017 às 18:14

Homenagens

A dupla formada por Fiona Gordon e Dominique Abel exerce, em Perdidos em Paris, o direito de se aproximar de alguns mestres do humor e da sátira. Os grandes e definitivos modelos certamente nunca devem ser menosprezados ou esquecidos. Só os medíocres não olham para o passado. Ignorar os monumentos é mergulhar no rio em cujo leito repousam para sempre os ousados sem estrutura e os criadores de ruídos sem sentido. O filme da dupla de realizadores e intérpretes não merece passar em branco, nem está entre aqueles que certamente serão punidos pelo tempo. Trata-se de um trabalho apreciável em alguns momentos, embora em outros, infelizmente a maioria, permaneça a uma distância considerável dos modelos nos quais se inspira. O humor, e quem admira Chaplin e Tati sabe bem disso, necessita da surpresa, do inesperado, do ineditismo. Em muitas passagens, o filme é regido pela redundância e mesmo pela vulgaridade.
A dupla formada por Fiona Gordon e Dominique Abel exerce, em Perdidos em Paris, o direito de se aproximar de alguns mestres do humor e da sátira. Os grandes e definitivos modelos certamente nunca devem ser menosprezados ou esquecidos. Só os medíocres não olham para o passado. Ignorar os monumentos é mergulhar no rio em cujo leito repousam para sempre os ousados sem estrutura e os criadores de ruídos sem sentido. O filme da dupla de realizadores e intérpretes não merece passar em branco, nem está entre aqueles que certamente serão punidos pelo tempo. Trata-se de um trabalho apreciável em alguns momentos, embora em outros, infelizmente a maioria, permaneça a uma distância considerável dos modelos nos quais se inspira. O humor, e quem admira Chaplin e Tati sabe bem disso, necessita da surpresa, do inesperado, do ineditismo. Em muitas passagens, o filme é regido pela redundância e mesmo pela vulgaridade.
É quando o relato se afasta dos modelos, refletindo, assim, uma crise, que, nos últimos tempos, tem afetado a comédia como gênero, talvez a consequência de uma época em que são ocultos os verdadeiros valores, enquanto as riquezas mais esplendorosas são escondidas, numa operação que - esta sim - merece ser chamada de elitista.
Na sequência inicial, desenrolada num Canadá de caricatura, o vento e a neve que alteram o cenário e agridem os personagens parecem ser uma referência a Em busca do ouro, que transcorre em paisagem semelhante. Mas tudo não passa de uma simples citação, pois não há em cena criatividade alguma. A cena é só um ponto de partida. Melhor é a carta colocada no lixo, depois recolhida e finalmente enviada para a sobrinha canadense. É a personagem interpretada por Emmanuelle Riva a autora de tal façanha. O filme de Gordon e Abel presta, assim, involuntariamente, uma homenagem póstuma à grande atriz de Hiroshima, meu amor, de Alain Resnais, filme que, ao lado de Nascimento de uma nação e Cidadão Kane, forma o trio do qual o cinema nunca se afastará, até porque nele se encontram as bases e os fundamentos necessários ao desenvolvimento de uma forma de expressão. Mas os admiradores de Riva, que muito contribuiu com sua presença para o filme de Resnais, certamente preferirão como despedida sua impressionante atuação em Amor, de Michael Haneke. Ela, aqui, não tem oportunidades para brindar o espectador com seus dotes de comediante. Sua participação se limita a trazer outra vez para a tela a figura da idosa simpática e irreverente, um recurso que muitos utilizam para seduzir espectadores pouco exigentes e que preferem olhar apenas para aspectos mais amenos da natureza humana. Uma outra característica da grande comédia é o interesse pelas complexidades, algo que não acontece em Perdidos em Paris.
Há muitos perfis percebidos no filme. Na faixa sonora, por exemplo, são feitas várias citações, inclusive a O último tango em Paris, o mais célebre, mas não o melhor, dos filmes realizados por Bernardo Bertolucci. Mas a melhor delas não se refere ao cinema, mas à música de Eric Satie, no plano final da sequência da Torre Eiffel, que, não importando a ordem em que as imagens foram filmadas, é a derradeira aparição de Riva no cinema. Em outros momentos, os realizadores igualmente revelam alguma ousadia. Na cena do restaurante, a música ambiente transforma os clientes em bonecos manipulados. E a sequência das pompas fúnebres é marcada por uma irreverência que não teme ser chamada de politicamente incorreta. A grande comédia é também marcada pela crítica. Chaplin e Tati deixaram isso claro em obras como Tempos modernos e Meu tio. Gordon e Abel também revelam sua admiração por Boudu Salvo das Águas, de Jean Renoir, filme no qual, através da figura daquele que, na época, ainda não era chamado de sem teto e era conhecido pelo nome de clochard, exercia a crítica dirigida à sociedade estabelecida. No filme agora em exibição, o que se vê é o culto da dança, no qual se entrelaçam desejos, mas não aparece, como nos modelos homenageados, a contundência da crítica a um mundo e a uma proposta de vida em sociedade. Perdidos em Paris aposta em amenidades e nelas procura seu material cômico.
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