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RESPONSABILIDADE SOCIAL

- Publicada em 25 de Julho de 2017 às 13:48

Felicidade Interna Bruta

Entidade está localizada no Morro da Cruz, uma das áreas mais carentes da Capital

Entidade está localizada no Morro da Cruz, uma das áreas mais carentes da Capital


MARCELO G. RIBEIRO/fotos MARCELO G. RIBEIRO/JC
Ao assumir o trono do Butão em 1972, com apenas 17 anos, o rei Jigme Singye Wangchuck rebateu as críticas a respeito do baixo crescimento do país atacando os parâmetros internacionais de medição da economia. Para ele e outros pensadores do pequeno país do Sul da Ásia, cerca de sete vezes menor em área do que o Rio Grande do Sul, o desenvolvimento não deveria ser calculado com base no Produto Interno Bruto (PIB), mas sim na Felicidade Interna Bruta (FIB), conceito que analisa também bem-estar humano, preservação e promoção da cultura, conservação ambiental e relação com instituições públicas.
Ao assumir o trono do Butão em 1972, com apenas 17 anos, o rei Jigme Singye Wangchuck rebateu as críticas a respeito do baixo crescimento do país atacando os parâmetros internacionais de medição da economia. Para ele e outros pensadores do pequeno país do Sul da Ásia, cerca de sete vezes menor em área do que o Rio Grande do Sul, o desenvolvimento não deveria ser calculado com base no Produto Interno Bruto (PIB), mas sim na Felicidade Interna Bruta (FIB), conceito que analisa também bem-estar humano, preservação e promoção da cultura, conservação ambiental e relação com instituições públicas.
Desde então, a ideia influenciou fortemente decisões do governo do Butão, como a proibição da venda de cigarro no país e a limitação do turismo para não prejudicar o meio ambiente - e também ganhou críticas e adeptos fora dos Himalaias. Em 2011, a assembleia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou resolução que colocava a "felicidade" na agenda mundial. Na época, o Butão tinha menos de 800 mil habitantes, com renda média de US$ 110 por mês, mas era considerada a nação mais feliz da Ásia e a oitava mais feliz do mundo pela Business Week, revista da Bloomberg.
Nesse mesmo ano, após uma década trabalhando como voluntária na organização global de proteção ao meio ambiente Greenpeace, a ex-comerciante de enxovais e decoração de interiores, Tânia Pires, hoje com 66 anos, resolveu criar o Centro de Inteligência Urbana de Porto Alegre (Ciupoa), com outras nove pessoas. A ideia era fazer projetos sustentáveis na cidade, com foco na questão das mudanças climáticas. E o primeiro local de atuação foi o Morro da Cruz, uma das áreas mais carentes da Capital, onde os pilares da FIB se encaixavam perfeitamente, na sua visão.
Os primeiros anos foram de visitas regulares à região, buscando formar uma rede de parcerias com Associação Comunitária do Morro da Cruz (Acomuz), prefeitura municipal de Porto Alegre, comerciantes e empresas, universidades, postos de saúde, Polícia Civil, entre outras instituições. O maior desafio, porém, era conquistar a confiança e estima dos moradores, desacreditados com promessas políticas que nunca se concretizam e pesquisas acadêmicas que não trazem resultados de fato, segundo Tânia.
A solução encontrada foi fundar uma sede no local, como forma de mostrar que o projeto era de longo prazo. "Eles entenderam que não era um trabalho 'drone', que entra, faz de longe e vai embora", afirma a voluntária. Com a ajuda dessas parcerias, o Ciupoa recuperou uma área que, há três anos, era um lixão no Morro da Cruz, também sendo beneficiado com parte da madeira certificada da Sibéria restante das obras do Velódromo do Rio de Janeiro, para as Olimpíadas. O espaço foi inaugurado em setembro do ano passado e recebe, hoje, diversas oficinas voltadas a crianças, jovens e adultos da comunidade.
Uma das primeiras foi a de construção e uso de fogões solares. O Ciupoa tem um desses equipamentos, doado pelo Greenpeace, parecido com uma caixa de madeira, assim como duas placas solares no teto da sede. Já o que os moradores aprendem a fazer é de baixo custo, cerca de R$ 10,00, gastos na compra de papelão e laminado de presente. Os materiais são cortados e colados de modo a fazer um "efeito estufa" quando expostos ao sol, cozinhando os alimentos que são colocados dentro em uma panela preta. "Funciona como um fogão de uma boca, resolve quando falta dinheiro para o gás de cozinha", explica Tânia.
Outra atividade desenvolvida na comunidade é um curso de gastronomia social, ministrado por uma chef de cozinha da Unisinos, de maneira gratuita, a 14 pessoas, um sábado por mês. Mas os pratos não são mirabolantes, garante Tânia, pelo contrário - são usados produtos que podem ser encontrados perto de casa, o tempero é feito na hora e o alimento, saudável, pode ser vendido como forma de complementar a renda familiar. Em dezembro, os organizadores planejam uma feira gastronômica numa das quadras esportivas da mesma rua, que o Ciupoa e parceiros tentam recuperar junto à Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer (SME).
Também já houve curso de horta urbana, em parceria com a entidade de assistência rural Emater-RS, em que a comunidade aprendeu a plantar cerca de 400 mudas em garrafas PET, fixadas na parede. A capacitação deve ser retomada neste ano e seria uma forma de o morador economizar no mercado. O espaço ainda recebe oficina de desenho à mão livre (cartum) para crianças, nas sextas-feiras, e de crochê, nas segundas-feiras, ambas com instrutores, além de uma roda de tricô, em que "todo mundo ensina todo mundo".
Por fim, existem ainda projetos mais ambiciosos para o Morro da Cruz, como ajudar a transformar a região num polo de energia solar, incentivando o comércio local a adotar a fonte renovável como "investimento que de pouco em pouco se paga", criar uma biblioteca pública em frente à sede, ser um centro de troca de serviços entre os moradores, cada qual com sua habilidade e experiência, e montar uma escola de samba, que não só faria apresentações, mas também construiria os próprios instrumentos.
A maior meta, no entanto, seria tornar a comunidade "resiliente", mesmo sem grandes aportes financeiros e investimentos públicos. "O Morro tem que se recuperar e ser forte por si só", defende a fundadora e presidente do Ciupoa. As ainda pequenas iniciativas seriam o primeiro passo, sempre focando na geração de renda.

Nove domínios da FIB

1- Bem-estar psicológico
2- Saúde
3- Uso do tempo
4- Vitalidade comunitária
5- Educação
6- Cultura
7- Meio ambiente
8- Governança
9- Padrão de vida