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Infraestrutura

- Publicada em 27 de Junho de 2017 às 22:25

Rua de Porto Alegre é abastecida há sete meses por carro-pipa

Apesar de as torneiras estarem vazias, Rosângela recebeu conta de R$ 101,70 para pagar

Apesar de as torneiras estarem vazias, Rosângela recebeu conta de R$ 101,70 para pagar


FREDY VIEIRA/FREDY VIEIRA/JC
Desde janeiro, a rotina das cerca de 100 famílias que moram na Rua do Mato, na Zona Leste de Porto Alegre, mudou. Segunda-feira virou dia de ligar para o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) para agendar a visita de um carro-pipa para a comunidade. Quarta-feira, quando o veículo vem, é dia de plantão nas residências para garantir o abastecimento das caixas d'água - se não tiver ninguém em casa, a próxima oportunidade será só na semana seguinte.
Desde janeiro, a rotina das cerca de 100 famílias que moram na Rua do Mato, na Zona Leste de Porto Alegre, mudou. Segunda-feira virou dia de ligar para o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) para agendar a visita de um carro-pipa para a comunidade. Quarta-feira, quando o veículo vem, é dia de plantão nas residências para garantir o abastecimento das caixas d'água - se não tiver ninguém em casa, a próxima oportunidade será só na semana seguinte.
Não é de hoje que a Rua do Mato, em local íngreme, tem problemas com o abastecimento - na verdade, desde que o aposentado Adão João Hernanes, de 60 anos, se mudou para lá, em 1999, o serviço só funcionava de madrugada. "Mas este está sendo o pior ano", desabafa. O ano de 2017 começou junto com uma piora no atendimento e a ausência até mesmo da água que chegava à noite.
A vizinhança não entende como um serviço que existia pode, de um dia para o outro, não funcionar mais. "O Dmae diz que a bomba não tem força para fazer a água subir. Como, se antes tinha?", questiona Fabiane Felix, de 34 anos. Ela é proprietária da creche da comunidade e diz que, mesmo possuindo três caixas d'água, chegou a fechar por dois dias, pois não havia nem água na privada para as crianças irem ao banheiro. "Para quem realmente não tinha onde deixar o filho, eu pedia para trazer uma garrafa cheia", revela.
A caixa d'água, por sinal, é item obrigatório nas residências da Rua do Mato. "Quando eu me mudei, precisava trocar o dia pela noite para tomar banho e fazer faxina de madrugada, porque não tinha caixa d'água. Eu achava que era um problema temporário, mas acabei me conformando e comprando uma", conta Rosângela Gomes, de 44 anos. Moradora há nove anos da comunidade, Rosângela costumava dar banho em seu filho com garrafas d'água e agora teme que o mesmo aconteça com seu neto, que nasce em novembro.
No final de maio, a situação piorou - uma obra de esgoto feita pelo Dmae deixou a via por onde passava o carro-pipa, de chão batido, mais irregular e permanentemente úmida. A situação impede tanto o carro-pipa quanto o caminhão de lixo de passarem pela região mais alta da Rua do Mato. O cenário é de lixo espalhado pelas vias. Os moradores mais conscientizados carregam seus resíduos por dois quilômetros, até a rua Tenente Alpoin, onde passa o caminhão. Já o carro-pipa fica estacionado na parte inferior e aguarda a ida da comunidade até o veículo.
Parte da população, sem condições de ficar de plantão esperando o carro-pipa, tem sobrevivido com água da chuva. Apesar de dificultar a circulação pelas ruelas, o volume de chuva tem sido, por esse motivo, comemorado pelos moradores, que deixam a caixa d'água aberta para enchê-la.

Comunidade não se nega a pagar conta

Apesar de viver em área irregular, a comunidade é unânime ao dizer que não se nega a pagar a conta de água, se o serviço for oferecido. Rosângela Gomes, por exemplo, tem relógio do Dmae em casa e, mesmo sem água, recebeu uma conta de R$ 101,70 no mês passado. Pagou, para não se incomodar. "Estou pagando pelo ar que sai da torneira", ironiza.
Adão João Hernanes solicitou a instalação do relógio há quatro meses. "Me deram um prazo de 120 dias e, até agora, nada. Ninguém se nega a pagar, todo mundo aqui trabalha e quer o serviço", reclama. Deficiente físico, Hernanes vive em uma casa com outras cinco pessoas. Com duas caixas d'água no pátio, a família precisa economizar para que a água dure uma semana.
Prestador de serviços para o Dmae e morador da via, Fabiano dos Santos, de 44 anos, deixa claro que a orientação para os terceirizados é que ninguém, independentemente de viver em área regularizada ou não, pode ficar sem água. "É preciso fazer uma extensão de canos para água e esgoto na região, que ainda não foi feita. Vem uma equipe do Dmae, vem outra e não resolve", informa.
Nesses sete meses, a comunidade já fez dois protestos pedindo a resolução do problema. Por enquanto, não há previsão para a execução das obras necessárias.
 

Dmae alega já ter feito vários reparos

Procurado pela reportagem do Jornal do Comércio, o Dmae afirmou ter realizado várias ações para melhorar o abastecimento da região do bairro Aparício Borges nos últimos meses, como consertos de fugas aparentes e não aparentes de água, substituição da bomba da Estação de Bombeamento Menina Alvira e reforço na rede.
Inicialmente, o departamento alegou que Porto Alegre não tinha nenhuma comunidade atendida por carros-pipa, e que o serviço era oferecido somente em casos extraordinários, para lugares como postos de saúde e escolas - no caso a creche local -, uma vez que a população é abastecida, via de regra, de forma irregular. Depois, o Dmae afirmou que "disponibiliza caminhão-pipa para as áreas sem rede de abastecimento".
"O pior é que a comunidade paga a taxa de água e não recebe o serviço. Até 2016, mesmo que de forma precária, a população era atendida. Porém, em janeiro, a responsável no Dmae que tinha boa relação com os moradores saiu, e eles ficaram sem interlocução", observa o vereador Roberto Robaina (PSOL), que, desde abril, tem pautado a questão da falta de abastecimento. 
Após a visita da reportagem à Rua do Mato, ontem pela manhã, o vereador recebeu uma solicitação do Dmae de reunião para amanhã.