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Saúde

- Publicada em 20 de Junho de 2017 às 23:34

Tratamento da Aids em Porto Alegre é alvo de críticas

Vereadores farão emenda ou pedirão correção em Plano Plurianual

Vereadores farão emenda ou pedirão correção em Plano Plurianual


FREDY VIEIRA/FREDY VIEIRA/JC
Em audiência pública realizada pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, entidades reclamaram da precariedade das ações de prevenção e atendimento relativos à DST/Aids. Ativistas e especialistas no vírus HIV indicam essa como a principal causa da alta incidência da doença na Capital.
Em audiência pública realizada pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, entidades reclamaram da precariedade das ações de prevenção e atendimento relativos à DST/Aids. Ativistas e especialistas no vírus HIV indicam essa como a principal causa da alta incidência da doença na Capital.
Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o assunto, referente ao período entre julho de 2015 e junho de 2016, o Rio Grande do Sul apresentava a maior taxa de detecção de Aids do Brasil, de 34,7 casos para cada 100 mil habitantes, muito maior do que a média nacional, de 20,7 casos. Porto Alegre apresenta mais do que o dobro do registrado no Estado, com 74 casos para cada 100 mil habitantes. Apesar da alta incidência, a tendência nos números da capital gaúcha é de queda, uma vez que no boletim com dados entre julho de 2014 e junho de 2015 a taxa foi de 94,2 casos para cada 100 mil habitantes.
Entre todas as capitais, a maior taxa de mortalidade é de Porto Alegre. Enquanto a média nacional é de 5,6 óbitos para cada 100 mil habitantes e a do Rio Grande do Sul, de 10,2 mortes, a Capital apresenta 23,7 mortes. Da mesma forma, é a que mais detecta o vírus em gestantes. No período analisado, houve 22,9 casos de mães infectadas para cada mil nascidos vivos. No Rio Grande do Sul, o índice é de 10,1 casos, e, no Brasil, de 2,7 casos.
Mesmo encabeçando tantos índices ligados à Aids, a prevenção e o atendimento a quem já foi infectado é criticado. Ao receber as reclamações, o vereador Aldacir Oliboni (PT) solicitou a audiência pública sobre o tema. "O principal gerador da alta incidência da doença é a precariedade de políticas públicas na sua prevenção e no seu tratamento. Até onde eu sei, não há, hoje, nenhum planejamento estratégico envolvendo município e Estado nesse sentido", destaca.
Oliboni ressaltou, ainda, que o Plano Plurianual de Porto Alegre, para o quadriênio de 2018 a 2021, não contempla a meta 90-90-90 firmada pela prefeitura com a Unaids (braço da Organização das Nações Unidas de combate à doença) pelo fim da epidemia de Aids até 2030.
A meta prevê que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas (testadas) e, dessas, 90% estejam em tratamento e, ainda, dentro desse grupo, 90% tenham carga viral indetectável. Até o final de 2015, o Rio Grande do Sul tinha 84% das pessoas com HIV diagnosticadas, 49% em tratamento e, entre as pessoas em tratamento, 71% com carga viral indetectável.
Representando a prefeitura na audiência, Marina Machado Dias, coordenadora adjunta das políticas de DST/Aids e hepatites, relata que, desde 2013, os serviços ligados à doença são descentralizados, a fim de melhorar o acesso da população. "Construímos uma linha de cuidado que anualmente sofre adaptações e, agora, está novamente sendo repensada. Trabalhamos muito na prevenção combinada, a fim de reduzir a transmissão vertical", informa. A transmissão vertical se dá quando uma criança é infectada ao nascer ou ao ser amamentada por uma mãe com HIV.

'Prefeitura deveria falar de HIV em todos os eventos'

Izidoro Souza, da ONG LGBT Outra Visão, salienta que muitos jovens abandonaram o uso da camisinha, devido à taxa de mortalidade decorrente da Aids ter diminuído ao longo dos anos. "A campanha precisa aumentar. A prefeitura deveria estar em todos os eventos falando a respeito, especialmente na periferia. As reuniões para a realização da Parada Livre, por exemplo, ocorrem desde o início do ano e não percebemos interesse do município em participar de nenhuma forma", lamenta.
O médico epidemiologista Breno Santos, do Hospital Nossa Senhora da Conceição, aponta que "tudo sobre a Aids foi descoberto, menos a cura. Por isso, é um paradoxo que vivamos uma epidemia". Para combater a alta incidência, afirma ser necessário analisar os dados de forma científica, e não política, como é feito hoje. "Temos múltiplos dados que não se conversam e, por isso, não se transformam em ações."
Na primeira segunda-feira de cada mês, a prefeitura promove uma reunião técnica de avaliação da questão da Aids em Porto Alegre. Normalmente, não tem tido muita procura - apenas servidores da área e o representante do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids no Rio Grande do Sul (Gapa-RS), José Hélio Costalunga, participam do encontro. Como encaminhamento, os vereadores integrantes da Cosmam planejam ir à reunião de julho para entender melhor a situação. Os parlamentares também pretendem fazer uma emenda ou pedir que a prefeitura corrija a meta de combate à Aids para 90-90-90.