Quando finalmente conseguiu reabrir o mercado norte-americano à carne in natura brasileira, em 2016, a principal comemoração da bovinocultura brasileira residia na esperança de, com isso, chegar a outros países. Afinal de contas, os Estados Unidos são conhecidos pela sua rigidez, o que torna o país uma espécie de avalista da qualidade do produto para todo o mundo. Não à toa, agora a suspensão da importação da proteína brasileira pelas autoridades norte-americanas, na semana passada, preocupa mais pela repercussão da notícia do que pelas vendas em si.
"Vamos ter que aguardar o impacto. Essa notícia chega a todos os países na mesma hora em que acontece", analisa o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle. Em termos de transações efetivas, o diretor argumenta que o efeito é pequeno. No Rio Grande do Sul, apenas a planta da Marfrig, em São Gabriel, estava exportando aos Estados Unidos (além dela, outras 30 no Brasil estão habilitadas), e a estimativa é de que não tenha chegado a 500 toneladas embarcadas no ano.
O abalo na credibilidade tende a ser ainda pior pela sequência de episódios envolvendo a pecuária, como a Operação Carne Fraca e a delação da JBS, principal empresa do setor. "Repercute negativamente em todos os lados. Parece vir uma coisa atrás da outra, criando uma crise na pecuária nacional", acrescenta o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Ambos os dirigentes argumentam que os abscessos criados pela vacinação contra a aftosa, motivo alegado para a suspensão, não oferecem risco algum à sanidade. Moussalle afirma ainda que é praticamente impossível que um nódulo externo não seja identificado no processo produtivo ou na inspeção - e que os que se formam internamente são impossíveis de serem descobertos. "É provável que isso já deve ter sido visto com produtos de outros países também, pois, como o Brasil a exporta, a vacina é a mesma", garante Moussalle, que vê influência de retaliação comercial na decisão.
Outro temor para os produtores é a possibilidade de uma nova queda nos preços pagos pelos animais, já bastante abaixo de patamares dos últimos anos, principalmente no Brasil Central. "Esse problema é culpa da situação da JBS, mas o mercado norte-americano se torna uma pedrinha a mais", comenta Pereira, que não vê espaço, porém, para uma queda abrupta no Estado, tanto pelo nível já baixo quanto pela diferenciação das raças criadas aqui.