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Relações Internacionais

- Publicada em 21 de Junho de 2017 às 19:37

Temer e Putin defendem agenda oposta à de Trump

Putin e Temer estiveram reunidos por mais de duas horas no Kremlin

Putin e Temer estiveram reunidos por mais de duas horas no Kremlin


SERGEI KARPUKHIN/SERGEI KARPUKHIN/AFP/JC
Brasil e Rússia anunciaram ontem acordo para tentar alinhar objetivos de política externa, adotando posições contrárias às defendidas pelos Estados Unidos sob Donald Trump. Os presidentes Michel Temer e Vladimir Putin encontraram-se por mais de duas horas no Kremlin e assinaram declaração conjunta chamada "Diálogo estratégico", na qual defendem o combate ao aquecimento global como "inadiável" e a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina - para ficar em dois exemplos de antagonismo a Trump.
Brasil e Rússia anunciaram ontem acordo para tentar alinhar objetivos de política externa, adotando posições contrárias às defendidas pelos Estados Unidos sob Donald Trump. Os presidentes Michel Temer e Vladimir Putin encontraram-se por mais de duas horas no Kremlin e assinaram declaração conjunta chamada "Diálogo estratégico", na qual defendem o combate ao aquecimento global como "inadiável" e a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina - para ficar em dois exemplos de antagonismo a Trump.
"O Brasil é um parceiro-chave da Rússia", disse Putin, que enfatizou os "aspectos econômicos" da relação entre os países. "Renovamos a parceria estratégica", disse Temer, que, como seria previsível, não citou suas dificuldades internas em declaração à imprensa. Ao contrário, exaltou "o compromisso do governo com a agenda de reformas", ignorando a derrota de terça-feira na tramitação da reforma trabalhista. "Tal como Rússia, o Brasil voltou a crescer", disse - ambos os países tentam deixar recessões.
No campo externo, não que sejam posições políticas novas para os dois países, mas inédito é o contexto político norte-americano e a declaração conjunta em si. O isolacionismo de Trump é atacado de forma indireta, com a exortação do sistema multilateral e das instituições internacionais.
A resolução de conflitos por meio de organismos como a ONU é considerada "imperativa" na declaração, em oposição ao unilateralismo bélico de Trump, já demonstrado na Síria e Afeganistão.
Os países também concordaram com o processo de tentativa de solução da guerra civil síria largamente comandado pelo Kremlin, com aval da ONU. O apoio brasileiro já existia, mas foi formalizado e ocorre numa semana em que a Rússia anunciou a virtual criação de uma zona de exclusão aérea no país árabe, onde atua em favor da ditadura local desde 2015, ameaçando abater aviões norte-americanos. "Defendemos uma segurança igual, e não dividida, para todos", afirmou Putin.
Os russos novamente manifestaram apoio à entrada do Brasil num Conselho de Segurança reformado, o que até aqui não significou políticas objetivas.
Não deixou de ser irônico o pedido de esforço mútuo no combate à corrupção, dada a avalanche de denúncias contra Temer e seu governo e os recentes protestos em massa contra Putin na Rússia, por esse exato motivo.
No campo econômico, foram assinados atos concretos que visam melhorar a corrente de comércio entre os países, que está em irrisórios US$ 4,3 bilhões anuais. Não houve nenhum ato concreto, além de conversas conjuntas, sobre o principal produto que o Brasil exporta para a Rússia, a carne bovina.
"Após uma queda no ano passado, as trocas comerciais estão crescendo", afirmou Putin, que citou interesse energético das gigantes Rosneft (petróleo) e Gazprom (gás).
Os russos se comprometeram a negociar cooperação tecnológica na área nuclear, visando fazer um depósito decrementos radioativos da usina de Angra 3, paralisada no escopo dos escândalos apurados pela Operação Lava Jato, e eventual instalação de novas unidades no Brasil.
Embora não fabriquem mais reatores do modelo que explodiu em Chernobyl (então na União Soviética, hoje Ucrânia) em 1986, os russos têm tido sucesso limitado em exportar essa capacidade técnica.
"Queremos novas alianças tecnológicas", disse o russo, que se ofereceu para lançar foguetes da base de Alcântara (MA) e ajudar o Brasil a desenvolver seu lançador de satélites, programa que rasteja desde 2003. Temer, por sua vez, se disse interessado em ampliar testes do sistema Glonass, o GPS russo, que tem quatro bases no Brasil.
Mais cedo, Temer encontrou-se com o premiê Dmitri Medvedev, que sugeriu a troca do dólar pelas moedas nacionais nas negociações entre os países. A medida é improvável, contudo. Putin foi convidado a visitar o Brasil, o que aceitou. A data poderá ser em 2018. E Temer repetiu a história de que gostaria de ver uma final entre Brasil e Rússia na Copa do Mundo que ocorre no país em 2018.

Atos assinados durante o encontro

Área Econômica
Instalar mecanismos de intercâmbio alfandegário para desburocratizar o processo de liberação prévia de envios de carga.
Programa de estímulo a investimentos mútuos.
Intercâmbio de dados sobre sistemas alfandegários entre o Brasil e a União Euro-Asiática, bloco de seis países liderado pela Rússia.
Área Política
Implantação de um processo de consultas políticas permanentes entre ambos os governos, criando um grupo de trabalho para isso.
Estabelecimento de uma agenda comum de política externa, a ser defendida em fóruns como a ONU e o Brics - bloco integrado pelos dois países.
 

Presidente brasileiro é alvo de protesto discreto em Moscou

Até então poupado de protestos durante sua visita a Moscou, o presidente Michel Temer foi alvo de um discreto protesto durante a homenagem ao soldado desconhecido. "Fora, Temer", gritaram duas vozes femininas de uma ponte distante na frente do túmulo, que fica no jardim Alexandrovski, junto à muralha do Kremlin.
É difícil saber se o presidente ouviu os gritos, dado que a banda militar tocava o clássico "Katiucha" no momento.
Temer depositou uma coroa de flores com o cruzeiro do brasão brasileiro em frente à chama eterna do túmulo. A obra foi erguida em 1967 para homenagear os soldados soviéticos mortos na Segunda Guerra Mundial, conflito que vitimou 25 milhões de cidadãos do então centro do império comunista.