Com receio de que o surto de sarampo registrado recentemente em pelo menos 14 países europeus chegue ao Brasil, a prefeitura da Capital e o governo do Estado emitiram alertas para que a população e os profissionais da saúde fiquem alertas para os sintomas da doença. Segundo a prefeitura, a cobertura vacinal contra a doença atinge 80% da população. Embora a taxa de proteção seja considerada alta, o ideal é que a cobertura atinja 95% das pessoas, conforme explica o chefe da Equipe de Vigilância de Doenças Transmissíveis de Porto Alegre, Benjamin Roitman.
A possibilidade de um surto atingir o País é remota. Em julho de 2016, a Organização Mundial de Saúde declarou que a doença estava novamente eliminada no Brasil depois de um surto que atingiu principalmente a região Nordeste, entre 2013 e 2015. Mesmo assim, Roitman reconhece que há uma parte da população desprotegida. "Algumas crianças e adolescentes não fizeram. Entre os mais velhos, com mais de 50 anos, ou se imunizaram ou tiveram a doença", comenta. As vacinas oferecidas são a Tríplice Viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), aplicada quando a criança completa um ano de idade, e a Tetra Viral (contra sarampo, rubéola, caxumba e catapora), para crianças com um ano e três meses.
Na Capital existe, inclusive, uma lei (nº 12.091/2016) que obriga os pais ou responsáveis de crianças em idade de vacinação a apresentar, no ato da matrícula em estabelecimentos de ensino, a caderneta de saúde da criança, contendo o registro da aplicação das vacinas obrigatórias à idade. No entanto, a lei entrou em vigor somente no ano passado, o que pode justificar uma possível falta de fiscalização.
Uma das explicações para o surto no continente europeu é a consequência de um forte movimento antivacina, causado devido à publicação de um artigo na revista médica britânica The Lancet. Em 1998, o médico Andrew Wakefield assinou uma pesquisa que relacionava a imunização oferecida pela Tríplice Viral a casos de autismo. Em 2010, o médico teve a licença médica cassada, uma vez que a relação apontada por ele não foi comprovada.
"Toda essa polêmica gerou um grande número de estudos, e todos mostraram que não havia relação alguma. No entanto, foi algo bem marcante que diminuiu muito a cobertura vacinal na Europa. Aqui, no Brasil, pode ser que até tenha um grupo contrário às imunizações, mas é um movimento que não tem muita importância", pondera Juarez Cunha, membro do Comitê de Infectologia e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul.
Roitman concorda com a opinião de Cunha. "Aqui, no Brasil, não é um problema. Às vezes, (os pais não vacinam os filhos) por negligência mesmo, não vão aos postos de saúde, consultam menos, ficam de fazer e depois não fazem. Além disso, como a doença não aparece, a gente acaba pensando que desapareceu, não vê como algo perigoso", explica o pediatra. As crianças que são levadas aos postos de saúde sempre têm as carteiras de vacinação revisadas. "Não perdemos a oportunidade de fazer a vacina - isso não só em Porto Alegre, mas em todo o Brasil. Também há atividades em creches e escolas que promovem a revisão da carteira, com encaminhamento, caso seja necessário completá-la", conta.
Segundo Cunha, a recomendação oficial da sociedade é pela vacinação. Para que o indivíduo seja considerado imunizado, é necessário que tenha recebido as duas doses. "Se a criança não receber nos primeiros 15 meses de vida, existe uma dose disponível para outras faixas etárias, até os 39 anos de idade", ressalta.
O sarampo é uma doença contagiosa, que pode levar a diversas complicações, como pneumonia e encefalite (inflamação do cérebro), especialmente em crianças com menos de um ano, levando à internação e até ao óbito. Os sintomas incluem tosse, coriza, olhos inflamados, dor de garganta, febre e erupção cutânea com manchas vermelhas. A vacina, como qualquer outra, pode causar efeitos adversos, como febre e pintinhas pelo corpo, conhecidas como "sarampinho", que somem depois de dois ou três dias.