Resultado de uma cadeia produtiva sujeita a variáveis internas e externas, a produção de leite não vive o otimismo presente em outros setores do agronegócio. Por um lado, os criadores de gado têm encontrado insumos a preços bem menores que os do ano passado. Mas os altos índices de desemprego e a queda no poder aquisitivo da população urbana influem na queda do consumo dos laticínios - tendência que dificilmente será revertida em 2017.
"Em 2015 e 2016, as indústrias compraram menos leite do que em 2014, o que indica redução no consumo", observa o zootecnista Jaime Ries, assistente técnico estadual do setor do leite da Emater-RS. "Enquanto não houver melhoria nas condições de renda das famílias, o setor não voltará a crescer", prevê.
Um indicativo das dificuldades enfrentadas pelo setor costuma ser o índice de importações de leite em pó, que chegou a bater recordes históricos em 2016. No início deste ano, o ritmo se manteve. "Em janeiro e fevereiro, importaram-se 35 milhões de quilos. Em 2016, no mesmo período, tinham sido 15,79 milhões", explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra.
Entidades do setor argumentam que o poder público deveria interferir nesse processo. "O governo poderia monitorar importações e estabelecer cotas", propõe o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios, Ernesto Krug, lembrando que já existem cotas para produtos argentinos, mas não para a importação de países como o Uruguai - que vendeu ao Brasil 6,8 mil toneladas apenas em janeiro deste ano.
Nesse cenário, a expectativa é de que os obstáculos dos últimos dois anos levem a uma queda no número de produtores de leite no Estado. Uma ampla pesquisa realizada pela Emater e pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL), em 2015, apontou que o Estado tinha cerca de 84 mil produtores na indústria leiteira. Os dados serão atualizados neste ano, e a previsão é de que esse número tenha uma redução de 15%. "Os pequenos produtores, acabaram ficando para trás", explica Ries. Na contramão, um sinal de otimismo veio de indústrias como Lactalis e Santa Clara, que anunciaram investimentos de mais de R$ 200 milhões em ampliação da capacidade de produção.