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Teatro

- Publicada em 18 de Maio de 2017 às 22:39

Diversidades na sensibilidade

Uma semana inteira se passou com as múltiplas apresentações do Palco Giratório de 2017, em boa hora promovido pelo Sesc. Na semana passada, chamou-me especial atenção três espetáculos absolutamente diversos entre si - por isso mesmo os destaco - e que evidenciam as diferentes tendências que o Palco Giratório procura oferecer a seu público. Registre-se, desde logo, com absoluto sucesso: todas as sessões a que assisti estavam absolutamente cheias e algumas delas com ingressos esgotados. Isso mostra que a curadoria do Palco Giratório tem acertado em suas escolhas.
Uma semana inteira se passou com as múltiplas apresentações do Palco Giratório de 2017, em boa hora promovido pelo Sesc. Na semana passada, chamou-me especial atenção três espetáculos absolutamente diversos entre si - por isso mesmo os destaco - e que evidenciam as diferentes tendências que o Palco Giratório procura oferecer a seu público. Registre-se, desde logo, com absoluto sucesso: todas as sessões a que assisti estavam absolutamente cheias e algumas delas com ingressos esgotados. Isso mostra que a curadoria do Palco Giratório tem acertado em suas escolhas.
Comecemos por Mar, do grupo boliviano Teatro de los Andes. Trata-se de uma criação coletiva do grupo, com direção musical de um dos integrantes do elenco, Lucas Achirico, com cenografia de Gonzalo Callejas, outro membro do elenco - aliás, brilhante, com aquela porta que se monta e desmonta, que se completa com Alice Guimarães, esta brasileira, oriunda dos grupos teatrais de Pelotas, animados por Walter Sobreiro, que, aliás, estava presente ao espetáculo. O figurino é assinado pela atriz, junto com Jacqueline Lafuente Covarrubias, sendo a direção de atores responsabilidade de Maria del Rosario Francés, providência muito boa, já que o elenco idealizou o trabalho e não existe uma direção específica de espetáculo. O resultado é excelente. Três irmãos se dirigem ao mar para ali depositar o corpo da mãe, recém-falecida, que fez tal pedido. É sobre a jornada e as reflexões que ela produz que o espetáculo foca seu interesse. Dramático, mas sobretudo poético, Mar é uma metáfora da história do país - a Bolívia perdeu seu acesso ao mar depois de uma guerra com o Chile - mas também da história individual de cada um dos personagens, porque se refere àquilo que se encontra no interior de cada um.
As interpretações são sentidas, fortes, personalizadas, e o espetáculo de quase hora e meia de duração prende e emociona.
Muito diverso, mas ao mesmo tempo muito próximo, é Se eu fosse Iracema, escrito por Fernando Marques para a interpretação extraordinária de Adassa Martins. O tema é a questão indígena brasileira, assunto tão atual quanto dramático - na verdade, trágico para os índios - tal a sua destruição. Trata-se de um espetáculo solo em que a atriz incorpora o espírito indígena que alterna com uma personalidade do universo branco. Aliás, é o choque entre estas duas culturas o que relata este trabalho, de pouco mais de uma hora de duração. É evidentemente mais que um espetáculo, é um trabalho de militância, tanto da parte do dramaturgo quanto da atriz, cuja subjetividade está inteiramente presente no espetáculo, levando-a diversas vezes às lágrimas. É esta emoção que eleva o trabalho ao nível artístico, na medida em que está muito bem exploradas as potencialidades vocais da intérprete (preparo vocal de Ilessi). O figurino de Luiza Faron se constitui de uma saia comprida, de ilex, apresentando-se a atriz de busto nu, o que certamente traduz sua situação indefesa diante da sociedade do entorno, ali representada pelo público. O texto, por vezes, escorrega para certa discursividade que poderia ser evitada, mas graças à intérprete, mesmo nestes momentos o espetáculo se mantém. Foi um dos grandes momentos da atual mostra.
Por fim, um destaque especial a Na esquina, do Coletivo na Esquina, de Minas Gerais. Um grupo de jovens artistas circenses que, mais do que apresentar um espetáculo de malabarismos - aliás, em si mesmos espetaculares, com alto grau de tensionamento e risco pessoal e sem qualquer rede de segurança - traz um espetáculo bem-humorado e inteligente, com sensibilidade, em que a sucessão de performances acaba por formar uma espécie de enredo dramático no espetáculo de pouco menos de uma hora de duração. O músico Julinho Ibituruna, que atua ao vivo, integra-se perfeitamente ao elenco, e o resultado é um trabalho sensível, que levantou a plateia, na medida em que cada grupo de intérpretes (sete, ao todo) tem suas especialidades. A montagem da pirâmide humana, ao final do espetáculo, é uma síntese daquilo a que o grupo se propôs realizar. Isso ocorre porque, embora jovens, seu currículo evidencia experiência múltipla, com escolas internacionais e brasileiras, somando prática e inovação.
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