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Porto Alegre, quinta-feira, 11 de maio de 2017. Atualizado �s 22h04.

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PALCO GIRAT�RIO

Not�cia da edi��o impressa de 12/05/2017. Alterada em 11/05 �s 16h36min

Espet�culo internacional Mar � presen�a confirmada no Palco Girat�rio Sesc

Alice Guimar�es, do Teatro de los Andes, fala sobre a cena teatral da Am�rica Latina

Alice Guimar�es, do Teatro de los Andes, fala sobre a cena teatral da Am�rica Latina


MAX TORANZO/MAX TORANZO/DIVULGA��O/JC
Michele Rolim
Neste ano, o Palco Giratório Sesc conta com a presença de um espetáculo internacional Mar, do Teatro de Los Andes da Bolívia - o grupo já esteve na Capital com a montagem Ilíada em 2002. Referência da América Latina, o Teatro de Los Andes deve realizar no festival um intercâmbio com a Usina do Trabalho do Ator (UTA), ambos com 25 anos de estrada. Em comum, além dos princípios que regem o trabalho, existe a figura da atriz Alice Guimarães, que foi uma das fundadoras do UTA e é integrante do Teatro de Los Andes. O grupo realizará na Capital o workshop Construir a cena, de 23 a 26 de maio, na Casa de Cultura Mario Quintana. Na entrevista ao Jornal do Comércio, ela descreve o trabalho teatral desenvolvido na América Latina.
JC Panorama: Como você começou a atuar no Teatro de Los Andes?
Alice Guimarães: Eu sou de Porto Alegre, vivi a minha infância e adolescência em Pelotas, onde comecei a fazer teatro, e depois voltei para a Capital para estudar Artes Cênicas no Departamento de Arte Dramática (DAD) da Ufrgs. Com companheiros do departamento e mais alguns colegas, com o apoio de Mauricio Guzinski, fundamos a UTA. Estávamos inspirados no trabalho desenvolvido pelo grupo Lume de Campinas, de São Paulo, e no mítico Odin Teatret da Dinamarca. Em 1997, tive a oportunidade de fazer uma oficina com o Teatro de Los Andes, na Bolívia, e em 1998 recebi o convite para participar de uma experiência com eles de um ano. Me identifiquei com o trabalho e com um dos atores do grupo (meu companheiro até hoje) e acabei ficando por lá. Já são 19 anos na Bolívia.
Panorama: Como que o Teatro de Los Andes dialoga com a UTA?
Alice: O Teatro de Los Andes completou 25 anos no ano passado e, agora, a UTA celebra esta data. Ainda que com histórias e contextos muito diferentes, os princípios que regem o trabalho dos dois grupos são os mesmos. Acreditamos no trabalho de grupo (não em elencos efêmeros), na criação coletiva, na disciplina, no olhar aos nossos ancestrais e nas manifestações da cultura popular, na preocupação de encontrar um diálogo e uma comunicação com nosso público.
Panorama: Como você pode compara os processos de treinamento que se desenvolveram no Brasil com o trabalho feito na Bolívia?
Alice: Os contextos brasileiro e boliviano são muito diferentes. No Brasil existem escolas, universidades de teatro, um movimento artístico consistente. Na Bolívia, a primeira escola de teatro começou como um curso técnico e agora é uma licenciatura, tem apenas 10 anos. E é a única até agora. A maioria dos atores se forma através de oficinas, autodidatismo ou saindo para estudar fora. Os processos são regidos pela prática. Existe um movimento teatral emergente liderado por artistas que foram estudar no exterior e agora voltam para desenvolver seu trabalho na Bolívia. Acredito que o Teatro de Los Andes tem muita responsabilidade nesses processos. A maioria das pessoas que atualmente trabalham na Bolívia fizeram em algum momento uma oficina ou foram membros do grupo.
Panorama: Como você vê a experiência de grupo na América Latina?
Alice: Acho que a América Latina é o lugar onde mais grupos sobreviveram no tempo. Acredito que a necessidade de sobreviver em meios muitas vezes hostis (politicamente falando) e de conviver com realidades muito cruas provocaram a necessidade de estabelecer um diálogo com a comunidade onde estão inseridos e isto propiciou esta permanência no tempo. A ideologia, artisticamente falando, e o comprometimento, politicamente falando, são comuns a praticamente todos esses grupos. Não os une uma estética comum, mas sim uma ética comum.
Panorama: A Bolívia recentemente conseguiu uma vitória na disputa com o Chile a respeito da saída para o mar. O espetáculo faz referência a isso?
Alice: A Bolívia tinha uma grande extensão litorânea, fronteiriça com Chile e Peru. Uma região muito cobiçada por suas reservas de cobre e salitre. Em 1879 (estimulados e ajudados pelos ingleses), os chilenos invadiram essa porção boliviana e também uma parte peruana. Depois da invasão, declararam a guerra. Foi a Guerra do Pacífico, em que a Bolívia perdeu seu litoral e o Peru também sofreu perdas. É uma guerra considerada injusta e traidora pelos bolivianos. Ainda que tenha como ponto de partida a Guerra do Pacífico e do que este fato representou para a sociedade boliviana, a peça não pretende ser uma reconstrução histórica sobre o tema. O espetáculo é uma alegoria poética da perda e da ausência-presença de um "mar" no imaginário, nas aspirações de um povo, na cobrança de uma dívida histórica. O Chile questionou no tribunal de Haia a pertinência desta demanda boliviana e o tribunal decidiu a favor dos bolivianos o direito de reclamar e revisar os acordos feitos depois da guerra. Agora a Bolívia está preparando a sua demanda e o Chile, a sua defesa. Nosso espetáculo conta a história de três irmãos que decidem fazer uma viagem para cumprir o último desejo da mãe: ter o corpo abandonado nas ondas do mar, desconhecido para ela. Na peça, há personagens que representam muitos mitos que a Bolívia tem com respeito a este tema, desde os lugares comuns sobre o fato de não ter mar até reflexões profundas sobre o significado desta perda. Metaforicamente, o espetáculo também fala de um "mar" pessoal, de "oceanos íntimos", de sonhos e desejos inalcançados, da necessidade de reencontrar o que foi perdido.
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