Dois galpões da zona portuária do Rio de Janeiro podem entrar, em breve, na lista de bens tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o que vem provocando polêmica. Os prédios do Galpão Aplauso, na rua General Luís Mendes de Moraes, no Santo Cristo, e do Armazém Cultural das Artes, na avenida Venezuela, na Gamboa, com cerca de 5 mil m2 cada um, estão na mira do órgão.
O arquiteto Washington Fajardo, que foi presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) na gestão do prefeito Eduardo Paes, critica o plano. Ele conta que, antes da implantação do projeto de revitalização do porto, uma equipe do município avaliou o valor histórico e arquitetônico dos imóveis, e vê necessidade de decreto ou lei.
"A ideia de que o ato do tombamento é o que conserva o uso de um imóvel é errada. Sem dúvida, as atividades realizadas nos galpões têm tudo a ver com a zona portuária e devem continuar na região, mas há outros locais, inclusive preservados, que poderiam receber as oficinas do Aplauso e abrigar os acervos do Armazém Cultural das Artes", diz Fajardo. "A iniciativa do Inepac só viria a atrapalhar o porto e sua necessária transformação. Por que não transferem, por exemplo, os trabalhos para o prédio da Estação Leopoldina, que poderia recebê-los e fica perto?", sugere Fajardo.
O arquiteto alerta que um eventual tombamento pode criar um clima de insegurança, afastando investidores. "O porto destina 3% de seus Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) para a recuperação do patrimônio cultural. Não permitir que os planos de revitalização saiam do papel impediria a destinação de recursos para o patrimônio público e alimentaria percepções de dúvida sobre a área."
No caso do imóvel da avenida Venezuela, foi aprovada a construção de um projeto residencial de luxo, com preservação da fachada. Já o galpão da avenida General Luís Mendes de Moraes foi disponibilizado para venda pelo Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha. A incorporadora Tishman Speyer, que tem projeto para lançar o empreendimento residencial Lumina Rio no local, informou, por meio de nota, ter sido surpreendida pela notícia.
"A empresa estranha a iniciativa, após ter adquirido os imóveis de acordo com a legislação aprovada para este tipo de operação e, principalmente, por estar desenvolvendo um projeto residencial a ser implantado no local, em linha com a política de requalificação e desenvolvimento estabelecido para a área". De acordo com o Inepac, o empreendimento precisará de sua autorização se o tombamento for aprovado.
A presidente do Galpão Aplauso, Ivonette Albuquerque, defende o tombamento, e destaca que a proposta partiu da ONG. "Nós encomendamos um projeto de restauração do galpão e também uma pesquisa histórica e arquitetônica. Concluímos que o imóvel tem relevância porque foi o primeiro grande armazém de logística do País. Além disso, tem importância histórica porque representa um período em que Brasil saía do ciclo agrário e entrava no industrial." O presidente do Inepac, Marcus Monteiro, avalia que os prédios merecem ser preservados porque ajudam a contar uma parte da história da cidade. "Tombamento não é desapropriação. Portanto,é possível permitir variados tipos de ocupação do bem cultural, inclusive residencial. Aliás, é ótimo que os proprietários tenham o interesse de utilizar o imóvel.