Presidente do Conselho de Administração da Endeavor Brasil desde 2016, Fabio Barbosa tem um extenso currículo como líder. Em 1996, assumiu a direção do ABN-Amro Bank no Brasil; em 1998, liderou a aquisição do Real pelo banco holandês; e, em 2007, quando a instituição foi vendida ao Santander, tornou-se presidente deste banco no Brasil até setembro de 2011. Naquele ano, decidiu dar uma "repaginada" em sua vida profissional e trocou o mercado financeiro pelo mundo das comunicações. Foi quando assumiu a presidência do Grupo Abril, do qual já havia integrado o Conselho de Administração, entre 2004 e 2007. Além de administrar o dia a dia da Abril, Barbosa mantém presença constante em eventos de sustentabilidade e empreendedorismo. Quando questionado sobre o que é preciso fazer para tocar um negócio bem-sucedido, ele recorre ao seu histórico no mundo financeiro. "Vi muitas empresas com boas propostas não crescerem, por ceder demais em aspectos sociais e trabalhistas. Não importa tanto o que se faz, mas como se faz", afirma o dirigente da Endeavor. Na entidade, ele atua há 10 anos com o foco no empreendedorismo como gerador de empregos e riquezas.
JC Empresas & Negócios - O que o senhor encontrou de mais curioso durante esse tempo na Endeavor?
Fabio Barbosa - O que mais me impressiona é que existe, neste País, uma disposição muito grande por parte dos jovens de começar seus próprios negócios. Então nossa função na Endeavor tem duas vertentes: contribuir para que o jovem entenda quais são as armadilhas, as oportunidades e as dicas que poderão fazer com que esta jornada seja mais bem-sucedida, mas também pavimentar o caminho para que o empreendedor possa focar o seu projeto, e não ficar preso em questões burocráticas. A experiência mais bem-sucedida é justamente em Porto Alegre, onde reduzimos o número de dias necessários para abrir uma empresa, que passou de 480 para menos de 20 dias, em coordenação com o governo do Estado, a Assembleia Legislativa, a prefeitura e, obviamente, alguns órgãos ligados a empresas - como é o caso do Sebrae e da própria Endeavor -, com o objetivo de simplificar de maneira que o empreendedor não fique desanimando diante das dificuldades burocráticas que ele encontra.
Empresas & Negócios - Empreender no Brasil ainda é motivador?
Barbosa - É muito animador, e esse exemplo de Porto Alegre despertou em outras cidades e está acontecendo Brasil afora. Na verdade, queremos que o empreendedor sinta que tem vocação para isso. O Brasil, durante muito tempo, contou com empreendedores mais por falta de alternativas, que abriam o próprio negócio, porque não conseguiam emprego; mas que também acabavam dando certo, porque descobriam um talento que nem conheciam. Mas existe outro empreendedor que surge porque vê uma oportunidade, decide correr o risco e se junta com mais um colega aqui e outro acolá, e "vamos fazer o negócio". Cada um tem uma participação, cada um faz uma coisa. A ideia da Endeavor de multiplicar o número de empreendedores está se concretizando, e estamos usando muita tecnologia, além de uma rede de mentores que nos apoia e que orienta os empreendedores. Nesse sentido, o portal da Endeavor compartilha muitas experiências e divulga diversos estudos de maneira a ampliar o impacto que se tem. No portal da entidade, é possível obter informações de como abrir uma empresa, lidar com a questão do crescimento, da gestão, da estrutura, da parte fiscal, trabalhista, de financiamento.
Empresas & Negócios - Como estão os trabalhos no Rio Grande do Sul?
Barbosa - A Endeavor já apoiou 50 empresas no "Scale-Ups", um programa de aceleração no Estado. No Brasil, foram 500 empresas em dois anos, também com esse modelo de apoio direto.
Empresas & Negócios - A crise pela qual o País passou nos últimos dois anos afetou o empreendedorismo?
Barbosa - Não. As empresas que nós apoiamos diretamente, que hoje são 100 empresas, têm crescido em um ritmo de 25% ao ano, nos últimos três anos. Ou seja, a empresa pequena consegue crescer independentemente de como vai a economia. É lógico que uma economia mais forte facilita. Mas é diferente de uma empresa muito grande, que vive ao sabor das ondas da economia. Então o que vemos quando começa a recuperação da economia é que há menos pessoas empreendendo por necessidade e mais aquelas que buscam isso por vocação. Nosso objetivo, seja lá qual for a motivação que levou a pessoa a empreender, é orientá-la e dar dicas e informações que facilitem esta jornada de crescimento que o empreendedor, certamente, quer ter.
Empresas & Negócios - Como obter sucesso com tantos obstáculos que o pequeno empresário enfrenta, desde pagar tributos ao governo até atender bem seu público-alvo?
Barbosa - Observamos, até porque acompanhamos as empresas há muitos anos, que existe mais um mito do que efetivamente um problema. Vamos chamar de falso dilema: tínhamos, no começo, muitas empresas que afirmavam não ser possível atender aos quesitos fiscais e trabalhistas e que, portanto, buscavam atalhos. Mas não apoiamos isso. Todas empresas que apoiamos são bem-sucedidas, e todas trabalham dentro da transparência e da boa governança, o que é extremamente importante. Também é verdade que o Brasil avançou no quesito estrutura, a exemplo do Simples, que facilitou muito a vida das pequenas empresas.
Empresas & Negócios - Em qual faixa etária mais surgem empreendedores? A geração Y, por exemplo, está acomodada ou se arriscando?
Barbosa - Acho que, pela primeira vez, temos uma geração na qual a oportunidade de empreender se tornou uma opção concreta de carreira. Existe um contingente grande de jovens entre 20 a 35 anos que está empreendendo. Mas, à medida que o empreendedorismo se torna uma alternativa para todos, percebe-se um incremento em todas as faixas etárias de pessoas querendo empreender ou considerando a ideia. Agora, do ponto de vista geracional, tem um pessoal que trabalha naturalmente com tecnologia, que é a ferramenta que diminui o custo para se montar um negócio. Enfim, as barreiras de entradas estão muito menores, e isso faz com que mais jovens considerem empreender.
Empresas & Negócios - Atualmente, qual é o percentual de empreendedores operando no País e qual é o índice de mortalidade destes negócios?
Barbosa - Pesquisas recentes apontam que atualmente 30% da população adulta brasileira está envolvida com a montagem de uma operação de negócios, sendo que apenas 5% tem um negócio que empregue alguém. Quanto ao índice de mortalidade de empresas após quatro anos de operação, no Brasil é na casa de 60% a 70%. No caso dos negócios que a Endeavor apoia, este índice fica abaixo de 5%.