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conjuntura

- Publicada em 29 de Maio de 2017 às 10:19

Empresariado quer reformas

Expectativa é que a economia volte a girar mais rapidamente para garantir a sobrevivência das companhias

Expectativa é que a economia volte a girar mais rapidamente para garantir a sobrevivência das companhias


JANNOON028/JANNOON028/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
A delação dos irmãos Batista, da JBS, caiu feito uma bomba em Brasília e gerou uma crise política que deixou sob ameaça o mandato do presidente Michel Temer, poucos dias depois de ele completar um ano no cargo e justamente quando a economia começava a dar os primeiros sinais de recuperação. Para presidentes e fundadores de grandes empresas, a prioridade número um agora deve ser a agenda econômica, com a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária.
A delação dos irmãos Batista, da JBS, caiu feito uma bomba em Brasília e gerou uma crise política que deixou sob ameaça o mandato do presidente Michel Temer, poucos dias depois de ele completar um ano no cargo e justamente quando a economia começava a dar os primeiros sinais de recuperação. Para presidentes e fundadores de grandes empresas, a prioridade número um agora deve ser a agenda econômica, com a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária.
A maior parte dos empresários parece estar menos preocupada com a manutenção ou não de Temer no cargo e espera que, na medida do possível, os objetivos econômicos caminhem separados dos projetos políticos de deputados e senadores. Fundador e presidente do conselho de administração da construtora MRV, Rubens Menin diz que "ficou triste" com as denúncias, mas considera que o presidente Temer "não cometeu um pecado mortal".
A maioria dos empresários defende o direcionamento que a economia teve ao longo do último ano. Tanto o presidente da Telefônica, Eduardo Navarro, quanto o do Grupo Pão de Açúcar, Ronaldo Iabrudi, dizem que é necessário ter pressa para recolocar a economia nos trilhos. O primeiro vê risco de "paralisia" na atividade, enquanto o segundo teme que os poucos avanços já conseguidos possam ser perdidos.
Os presidentes da Renner e do Grupo Boticário - José Galló e Artur Grynbaum, respectivamente - pedem que o Congresso aja rapidamente. "Fazer as reformas deveria estar na agenda de todos os deputados", diz Grynbaum. "É a hora de termos calma, e não de vermos os nossos políticos se batendo e empurrando", pondera Galló. O presidente da Whirlpool na América Latina, João Carlos Brega, corrobora essa visão: "Temos de buscar mais Brasil, e menos Brasília".
Embora a maior parte dos entrevistados diga que ainda não alterou planos de investimento para este ano, o presidente do conselho da construtora Cyrella, Elie Horn, afirma que o fôlego dos empresários não é eterno. Pelo contrário: as empresas precisam que a economia volte a girar mais rapidamente para garantir sua sobrevivência. "Os negócios estão parados e vão ficar mais um tempo assim, infelizmente. Um dia, a situação vai melhorar, mas as empresas precisam ter fôlego para aguentar", frisou Horn.
Fundador e sócio da Natura, Pedro Passos admitiu que a crise política deixou a visão dos empresários sobre os rumos da economia menos clara do que antes da divulgação da gravação da conversa de Temer com Joesley Batista, da JBS, em reunião fora da agenda, no Palácio do Jaburu. "É difícil fazer previsão de como será o desdobramento dessa crise, seja do ponto de vista da permanência do presidente, seja por julgamento do TSE. É muito difícil neste momento fazer uma previsão."
O fato é que a delação premiada que abalou o governo do presidente Michel Temer aumentou o clima de incerteza vivido pelos brasileiros. Na economia, isso significa mais cautela para investir, contrair dívidas e fazer planos. Com a recuperação ainda frágil da atividade, alguns decidiram esperar antes de se endividar - como na compra de um apartamento ou de móveis novos para casa. Quem apostava no mercado financeiro amargou perdas por causa dos dias turbulentos e ficou mais conservador. E, entre os que dependem do comportamento do câmbio para fazer negócio, houve quem precisasse suspender operações, à espera de dias mais calmos.
Para o educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, a reação imediata aos acontecimentos da semana passada foi adotar uma atitude conservadora. Ele conta que, no dia em que o conteúdo da delação da JBS foi revelado, seu telefone não parou de tocar. E acredita que, passado o pânico no mercado financeiro, os planos de consumo devem ser mais comedidos daqui para frente.
"Até dezembro, o que acontecia era o seguinte: quem estava desempregado não sabia como ia estar o futuro e não consumia nada. E quem estava empregado, se comportava como desempregado, também consumindo o essencial, com pouquíssimo luxo. As pessoas estavam voltando a buscar produtos imobiliários, trocar de carro. O que aconteceu depois daquele dia? Vejo todo mundo mudo", avalia.

'Reformas combateriam a queda da confiança'

 José Galló, presidente da Lojas Renner

José Galló, presidente da Lojas Renner


JEFFERSON BERNARDES/DIVULGAÇÃO/JC
"Queria que um rastro de lucidez tomasse conta dos nossos políticos, que eles se lembrassem que são eleitos pelo povo. Precisamos de tranquilidade na tomada de decisões, e não de cenas dignas de moleques. É a hora de termos calma, e não de vermos os nossos políticos se batendo e empurrando. Esse tipo de atitude serve a um grupo político, que acredita que 'quanto pior, melhor'. Está na hora de pensar no País, de garantir a aprovação das reformas e dar estabilidade à economia. Encastelado em Brasília, esse pessoal se esquece dos 210 milhões de brasileiros e dos 14 milhões de desempregados", afirma José Galló, presidente da Lojas Renner.
"A aprovação das reformas previdenciária e trabalhista seria uma definição, um contraponto à queda de confiança no País. Essa nova crise política veio no momento em que se falava de estabilidade e até de crescimento. A estabilidade econômica estava acontecendo, influenciada pela política. O governo vinha tomando decisões que ajudavam nesse sentido. Havia um direcionamento de controle dos gastos públicos. Espero que se mantenha esse caminho, construtivo, que pensa grande e no País. Neste momento, há muitas variáveis fora do controle da empresa. Na segunda-feira passada, enviei comunicado aos trabalhadores da Renner dizendo que todos devem estar confusos. Meu recado foi: devemos focar os esforços nas variáveis sob nosso controle, deixar lojas impecáveis, fazer liberação do crédito de forma mais ágil e deixar nossa logística ainda mais eficiente. Essa é a forma de atacar a ansiedade. Não sentimos nenhuma alteração nas vendas. Isso vai levar um pouco mais de tempo, não será de imediato."

'O Brasil precisa de continuidade'

"Temos de apurar tudo o que está ocorrendo, quanto a isso não há dúvida. E já temos uma longa fila de coisas que devem ser apuradas e julgadas. Mas também acho que a economia e a política podem andar separadas - deveria ser assim, independentemente de quem estiver no poder. Isto dito, não podemos negar que o presidente Michel Temer trouxe uma agenda positiva para o País. E essa evolução, essa questão estrutural, com as reformas, tem de continuar a acontecer", diz Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário.
"O Brasil já está com três anos de Produto Interno Bruto (PIB) negativo - e quando se olham os ciclos, nunca houve um momento histórico negativo tão longo para a economia. Então, existe uma força que, naturalmente, puxaria a economia para andar um pouco melhor. E é muito importante ajudar esse processo. Precisamos entender o que está acontecendo (com a economia) e deixar de misturar as coisas (economia e política). Antes da delação da JBS, havia um consenso no mercado de que a economia voltaria a andar mais rápido no segundo semestre e que poderia já crescer mais fortemente no fim de 2017.
Na minha opinião, o que se está chamando de reformas deve ser considerado, na verdade, como atualizações necessárias e estruturais para o crescimento da economia. Por isso acredito que é a hora de os políticos focarem seus esforços nesse sentido. Fazer as reformas deveria estar na agenda de todos os deputados. Além disso, sou a favor também da manutenção da equipe econômica. O Brasil precisa de continuidade."
 

'Não há sinalização da matriz para retroceder'

"Vejo o atual momento com preocupação, porque corremos o risco de o País entrar em paralisia por conta da falta de confiança, que o Brasil vinha retomando. Havia boa vontade do mercado externo, e víamos perspectiva positiva. Tenho medo de que a gente não avance mais dessa inércia positiva em que o País estava. Há boa vontade de todos para encontrar um caminho para o País avançar, não retroceder. Há um consenso de que não é permitido ao País entrar de novo em paralisia", diz Eduardo Navarro, presidente da Telefônica/Vivo.
"No dia que essa crise estourou, estava em Nova Iorque em um evento com outros empresários, falando com investidores. Na quarta-feira, o Brasil estava em lua de mel. No dia seguinte, era outro movimento, com muitos questionamentos e curiosidade de entender o que estava se passando. O negócio da Telefônica/Vivo é muito resiliente. Mesmo com o País em crise, fomos menos impactados. Os investimentos que temos projetado ao País são de longo prazo (R$ 8 bilhões por ano até 2019). Não há sinalização da matriz para alterar nossos projetos de expansão. Acredito que as famílias podem, em momento de crise, abrir mão de comer fora, mas vão querer ficar conectadas à internet. Evidentemente, pode ter mais pressão das tarifas. Independentemente de quem seja o sucessor de Temer, a agenda de reformas tem que avançar. Vamos torcer para que seja encontrado o caminho para que o País volte para a agenda positiva."

'O País está dividido, mas não vejo retrocesso'

Pedro Passos, fundador e sócio da Natura

Pedro Passos, fundador e sócio da Natura


NATURA/DIVULGAÇÃO/JC
"É difícil fazer previsão de como será o desdobramento desta crise, seja do ponto de vista da permanência do presidente, seja por julgamento do TSE. A gente vinha numa tendência positiva, e o desejo era de que essa agenda (de reformas), que já fez muitas transformações, continue a produzir os seus efeitos. Temos ainda umas âncoras que podem nos ajudar em certo sentido, como inflação cadente, disciplina e boa gestão das empresas estatais. Não acredito que a saída de Maria Silvia Bastos do Bndes piore ainda mais as incertezas. Obviamente, tudo depende de como vai se desdobrar esse processo", diz Pedro Passos, fundador e sócio da Natura.
"Podemos ter certa paralisia com a falta de aprovação política. Empresas que estão para decidir investimentos podem postergá-los. Acredito que o mercado de crédito ou aberturas de capital de algumas empresas devem ser revistos. Podemos ter um adiamento de investimentos de mais fôlego, que precisam de mais estrutura de capital, que dependem de financiamentos mais longos. Isso, sim, deve ter postergação se não houver definição do quadro. É difícil (o presidente Temer) ficar sem apoio político razoável. O grande trunfo deste governo era ter uma margem de apoio e saber lidar com a base política. Não acho que se sustente um governo sem apoio popular e que, ao mesmo tempo, não tenha base política. A alternativa é um nome que consiga transitar no meio político e que convoque as forças econômicas."

'Temer não cometeu um pecado mortal'

"Havia um otimismo moderado na economia, mas nós fomos surpreendidos por essa bomba no dia 17 de maio que está mudando a história do Brasil. Já há chance de cortarem a nota de crédito do País, ficou mais difícil passar as reformas, a Selic pode cair menos do que o previsto, e essa é uma conta que vai chegar para toda a sociedade. Tem uma grande massa de brasileiros pagando pela lambança de uma minoria. Particularmente, fiquei muito triste com o episódio envolvendo o presidente Michel Temer. Acho que, de fato, ele estava com uma agenda positiva na economia e que os resultados estavam acontecendo", avalia Rubens Menin, presidente do conselho de administração da MRV.
"Agora, estamos vivendo um momento de muita aflição, porque ninguém sabe o que existe por trás de tudo isso que está sendo divulgado. E insegurança é tudo o que a gente não quer neste momento. Há muita informação desencontrada, e é difícil ter uma visão geral do que está acontecendo. Mas, com o que sabemos até aqui, cheguei à conclusão de que todo esse processo de delação está muito sujo. Temos um bandido assumido do lado da Friboi e um acordo de delação ridículo. Gostaria que houvesse uma pacificação do País e, por isso, defendo que Michel Temer continue. O presidente cometeu, sim, um pecado. O grande erro dele foi ter recebido o Joesley. Um líder político não pode receber uma pessoa física. Isso foi um 'delitozinho', não foi um pecado mortal. Sobre o restante das acusações, não há nada comprovado. Independentemente do que ocorrer daqui para frente, espero que tenham juízo e que a equipe econômica seja imexível. Todos têm de ficar, porque não temos tempo a perder."
 

'Temos de focar o Brasil, e não Brasília'

"Neste momento, temos de buscar mais Brasil e menos Brasília. Senão vamos ficar muito focados na árvore, e não vamos ver a floresta. O cenário político comanda o cenário econômico. Isso não dá para discutir. Mas precisamos focar mais o Brasil e menos Brasília, no sentido de que o Judiciário é um Poder independente e tem de fazer o que tem de fazer; o Legislativo é independente e tem de caminhar; e o Executivo, também", afirma João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina.
"No médio e longo prazos, o Legislativo precisa atuar como Legislativo. Ele já tem a pauta do que a economia precisa: atualização - não é reforma - da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal. O seu principal objetivo é analisar, discutir e implementar as atualizações necessárias para a economia se mover. Há condições institucionais para que as reformas continuem sendo aprovadas. Afinal, continuo pagando imposto e trabalhando. A economia até a eleição será isso que está aí: um setor em recuperação; outro, não. Mas nada sustentável. Não via antes da crise nem vejo agora."