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educação

- Publicada em 09 de Maio de 2017 às 18:34

Ensino Superior busca saída para driblar reflexos da crise

Instituições privadas perderam docentes e alunos nos últimos anos

Instituições privadas perderam docentes e alunos nos últimos anos


BRUNO TODESCHINI/ASCOM/PUCRS/DIVULGAÇÃO/JC
As 2.069 instituições privadas de Ensino Superior existentes no Brasil - de acordo com o levantamento mais recente do Ministério da Educação (MEC) - não passaram incólumes aos últimos anos de economia atípica vividos pelo País. O impacto gerou aumento de 35%, entre 2014 e 2016, nas demissões do corpo docente em faculdades e universidades particulares do Estado, segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS).
As 2.069 instituições privadas de Ensino Superior existentes no Brasil - de acordo com o levantamento mais recente do Ministério da Educação (MEC) - não passaram incólumes aos últimos anos de economia atípica vividos pelo País. O impacto gerou aumento de 35%, entre 2014 e 2016, nas demissões do corpo docente em faculdades e universidades particulares do Estado, segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS).
Já em 2015 e 2016, a queda acumulada na captação de alunos chegou a 20%, aponta levantamento da CM Consultoria. Para consultor de Ensino Superior e fundador da CM Consultoria, professor Carlos Monteiro, esse número é reflexo dos 13,5 milhões de desempregados e da queda de 3,6% do PIB em 2016, segundo dados do IBGE. "A conjuntura leva não só à diminuição do número de ingressantes, mas também a uma evasão acentuada", analisa o especialista.
A Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, chegou a ter 30 mil alunos matriculados em 2009, entre ensino presencial e a distância. A instituição adota como política contatar cada aluno que opta pela interrupção do curso. A justificativa mais recorrente é a dificuldade financeira. "A população, em geral, está sem recursos para investir em qualquer coisa, o que inclui a educação", lamenta o reitor da UCS, Evaldo Kuiava.
Pelo levantamento do MEC de 2015, a taxa de sucesso das instituições era de 42%. Isso significa que, a cada 100 alunos que ingressaram em um estabelecimento de ensino, apenas 42 ainda se mantêm na universidade. "É uma taxa baixíssima, talvez a menor da série histórica", afirma Monteiro, que espera por um número ainda mais baixo neste ano, dado às dificuldades de programas governamentais como Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
O número de inscritos por vagas nos cursos de graduação presenciais nas instituições de educação superior privadas continua significativamente inferior ao das instituições públicas, conforme aponta a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes). Isso, na prática, não leva em consideração pessoas que prestam vestibular sem que haja a efetiva condição de permanência na universidade.
O reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Evilázio Teixeira, acrescenta outro argumento à discussão. "O número de universidades e faculdades aumentou significativamente nos últimos anos no Estado, além do poder aquisitivo ter diminuído", afirma Teixeira. Na contramão dos dados brasileiros, com o fechamento de 31 estabelecimentos de 2010 a 2015, o Estado teve aumento de 15% no mesmo período, e passou de 100 instituições privadas, em 2010, para 115, em 2015, dados do Censo da Educação do MEC.
Para Monteiro, o modelo mais tradicional de ensino - presencial e de transmissão de conhecimento em um único fluxo - costumava ser hegemônico e ter pouca concorrência. "Não existe mais uma instituição dominante em um determinado município; há diversos concorrentes que chegam no modelo presencial e ensino a distância", relata. O modelo de ensino a distância (EaD) também influiu na queda dos clientes das instituições tradicionais.
Monteiro comenta que uma das primeiras medidas de readequação orçamentária que as instituições de ensino costumam tomar é a dispensa de parte do corpo docente, geralmente a mais qualificada e cara. A manobra é classificada pelo consultor como "tiro no pé", uma vez que traz consigo a possibilidade de rebaixamento das notas das instituições junto ao MEC. Mesmo assim, de acordo com dados do Sinpro-RS, o número de demissões deve continuar em alta. Até abril deste ano, 486 profissionais foram desligados dos quadros de faculdades e universidades no Estado.
Por outro lado, assim como indicadores econômicos do País, o número de ingressantes do Ensino Superior privado começa a mostrar sinais de maior estabilidade, sugere o diretor de desenvolvimento institucional da Universidade Feevale, Alexandre Zeni. "É um gráfico muito semelhante ao de nossa economia: o número de matrículas cai, mas cai menos", alega o professor. O mesmo pensamento é acompanhado pelo reitor da Unisinos, Marcelo de Aquino, que espera que haja estabilização no número de matrículas em 2017, e retomada de crescimento em 2018 e 2019.

Crise do Fies tem forte impacto

É unanimidade entre os gestores que a redução do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) atrapalha o fluxo de caixa das instituições de ensino privado. O programa sofreu uma reestruturação em 2010, e passou a operar com juros anuais de 3,4%. Após 2015, a taxa aumentou para 6,5%.
Além disso, houve uma mudança no perfil de oferta de vagas. Até 2014, não havia limite para adesão. A partir de 2015, o Ministério da Educação (MEC) determinou um limite para a demanda que, naquele ano, foi de 150,5 mil vagas disponíveis. Para se ter uma ideia, em 2014, o programa havia disponibilizado mais de 731,3 mil vagas contratadas. "Cerca de 60% do ensino presencial particular está estudando graças ao Fies", afirma o consultor de Ensino Superior e fundador da MC Consultoria, professor Carlos Monteiro.
O diretor de Desenvolvimento Institucional da Universidade Feevale, Alexandre Zeni, acredita que o programa não tem como se sustentar financeiramente. "O Fies está morto", sentencia, ao referir-se à taxa de inadimplência de quase 50% em 2016. Para Monteiro, isso faz com que a situação fique ainda mais crítica. "Por um lado, temos uma crise moral, política e econômica. O mercado do Ensino Superior particular ainda tem uma crise maior, a do Fies", lembra.
Na Unisinos, universidade com polo na região do Vale do Sinos e com unidade na Capital gaúcha, de 2015 para 2017 houve queda acumulada de 27% no número de matrículas via Fies em comparação com a base de alunos de graduação. Ou seja, em 2015, aproximadamente 13% dos alunos estudavam com o financiamento, enquanto, neste ano, o percentual passou para 9,5%. "Tivemos um período de forte expansão, em grande parte estimulado por incentivos governamentais. As novas regras do programa associadas ao desemprego determinaram o fim desse ciclo", alega o reitor da Unisinos, Marcelo de Aquino.
O interior do Estado enfrenta realidade semelhante. Dos 24 mil alunos da Universidade de Caxias do Sul (UCS), 3,7 mil estudam utilizando o Fies. Na universidade, a cada cinco alunos, um recebe algum tipo de bolsa. "À medida que esses alunos se formam, as vagas não são repostas", pondera Monteiro, em tom de preocupação. Essa é uma realidade que o consultor julga não ter sido absorvida por todos os gestores. O especialista lembra que os alunos que contrataram o programa entre 2013 e 2014 chegam perto de 1 milhão, e que esses estudantes estarão concluindo os cursos entre 2017 e 2018. "Provavelmente as instituições, especialmente aquelas que contam com grande número de alunos utilizando o Fies, terão seu fluxo de caixa prejudicado", prevê.
Dessa forma, as medidas de captação de estudantes, orienta Monteiro, precisam ser pensadas para além dos incentivos governamentais. Para Monteiro, a captação de alunos só será possível com a readequação do ensino tradicional e dos métodos de pagamento. Segundo ele, as instituições que crescem, apesar da crise, são aquelas que optaram por acumular recebíveis. "Há faculdades que, desde 2015 até agora, têm incremento mais de 10% ao ano ao permitir que o aluno pague a integralidade do valor do curso no dobro do tempo de sua duração." Enquanto isso, a queda média nas demais é de 20%.

Aulas a distância devem superar presenciais

A tendência é de que, até 2023, o número de alunos matriculados no Ensino Superior a Distância (EaD) ultrapasse o número de alunos presenciais. O levantamento realizado pela consultoria Educa Insights prevê que 9,2 milhões de estudantes estarão matriculados em universidades privadas em seis anos; destes, 51% na modalidade EaD. Em 2015, cerca de 20% dos universitários utilizavam a modalidade, segundo dados do Ministério da Educação (MEC).
Na avaliação do fundador da CM Consultoria, Carlos Monteiro, alunos que teoricamente prefeririam o ensino presencial - seja por não serem a primeira geração na universidade ou pelo desempenho acadêmico - acabam no ensino a distância. "Existe uma série de variáveis para isso, seja estudar na hora em que mais lhe convém ou pelo valor das mensalidades", explica.
O diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Stavros Panagiotis Xanthopoylos, credita o alto desempenho da modalidade à maior abrangência de público, questão criticada por Monteiro em relação ao Ensino Superior tradicional. "O nosso grande fator se resume a acesso", afirma Xanthopoylos, que vê uma busca por melhor qualidade de vida por parte daqueles que procuram pelo ensino a distância. Em sua avaliação, a alternativa de estudo via internet é "um dos processos mais democráticos que temos em mãos".
Monteiro acredita que a maior competição entre ensino presencial e EaD aconteça no interior. Sua preocupação, por outro lado, recai sobre a qualidade do ensino prestado por algumas instituições de ensino a distância. A preocupação é acompanhada pelo reitor da Universidade de Caxias do Sul, Evaldo Kuiava. "Algumas instituições oferecem cursos com mensalidade a R$ 200,00. Para nós, esse valor não paga as contas, temos um modelo pedagógico rígido a seguir", explica o reitor. A universidade oferece alguns cursos e disciplinas EaD, mas pratica outros preços.
Xanthopoylos admite que algumas instituições a distância praticam valores que levam a acreditar na precarização do ensino, assim como no caso de algumas universidades presenciais. O professor orienta que o público procure instituições ligadas ao MEC.

Estado exporta metodologia de ensino

Os parques tecnológicos gaúchos são modelo de fomento ao empreendedorismo e aproximação do mercado de trabalho com as instituições de Ensino Superior. A crise no ensino tradicional perpassa pelo entendimento de que transmissão de conhecimento acontece em via de mão única, na opinião de consultores.
O fundador da CM Cosultoria, professor Carlos Monteiro, acredita na modalidade dos parques tecnológicos. "É uma ideia excepcional, você aproxima a instituição do mercado e ao mesmo tempo isso significa aproximar alunos de melhores práticas das empresas", avalia. O professor comenta que o modelo foi exportado para o estado vizinho, Santa Catarina, e também para algumas universidades da região Sudeste.
"As instituições de ensino precisam sair da sua redoma e verificar que estamos no século 21", afirma Monteiro. O modelo das instituições de ensino do século 19 e 20 tiveram a sua contribuição, mas, atualmente, na avaliação do consultor, a aproximação das tecnologias e o incentivo da entrada de empresas consolidadas no mercado na universidade, seja através de sedes ou participações, são indispensáveis.
Nesse sentido, a Pucrs dispõe de laboratórios e um dos grandes parques tecnológicos do Estado. O Tecnopuc, parque tecnológico da universidade, conta com convênios de internacionalização que estão à disposição de suas 15 empresas incubadas. Dentro do parque também estão localizados braços de empresas consolidadas, como as empresas de softwares Microsoft e ThoughtWorks.