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relações internacionais

- Publicada em 02 de Maio de 2017 às 13:26

Brasil volta ao livre-comércio

Depois de uma década de virtual abandono, a agenda econômica do Mercosul começa a dar sinais de vida e caminha para alcançar, no fim deste ano, seu objetivo mais ambicioso: um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE). As engrenagens começam a girar também para concretizar acordos mais antigos assinados na região, que permitem formar, na prática, uma zona de livre-comércio na América do Sul a partir de 2019. Porém ainda há um estoque de problemas acumulados nas transações na região e dentro do próprio bloco.
Depois de uma década de virtual abandono, a agenda econômica do Mercosul começa a dar sinais de vida e caminha para alcançar, no fim deste ano, seu objetivo mais ambicioso: um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE). As engrenagens começam a girar também para concretizar acordos mais antigos assinados na região, que permitem formar, na prática, uma zona de livre-comércio na América do Sul a partir de 2019. Porém ainda há um estoque de problemas acumulados nas transações na região e dentro do próprio bloco.
Negociadores do acordo entre Mercosul e UE acham possível chegar até o fim do ano a um "acordo político", ou seja, às linhas principais do entendimento. Se tudo ocorrer como o planejado, o anúncio ocorrerá em dezembro, paralelamente à reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Buenos Aires. "Será o primeiro acordo do Mercosul com países desenvolvidos", disse o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Alexandre Lobo. "Isso, sem dúvida nenhuma, significa uma mudança para nossa indústria e todo o conjunto produtivo brasileiro."
"Essa é uma negociação longa, mas aparentemente a última rodada foi bastante positiva", comentou o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da Barral M. Jorge Consultores. Do lado europeu, disse ele, avalia-se que haverá um período favorável a avançar após as eleições na França.
Do lado do Mercosul, os entendimentos foram facilitados pelo alinhamento estratégico dos novos governos do Brasil e da Argentina. Ambos escolheram as exportações como alavanca para retomar a atividade econômica. Essa coincidência facilita o diálogo. "Antes, nas negociações, a gente nunca sabia como a Argentina ia se posicionar e isso gerava insegurança", disse o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi.
Não é só com a UE que o Mercosul retomou a rota do entendimento. Há algumas semanas, paralelamente a uma reunião do Fórum Econômico Mundial, em Buenos Aires, chanceleres e ministros da Indústria do bloco se reuniram com seus contrapartes na Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru) e desenharam uma rota de negociações em busca de maior integração.
Na mesma ocasião, os países do Mercosul fecharam acordo de facilitação de investimentos, que protege empreendimentos de um país instalados em outro. Esse é o tipo de acordo chamado de segunda geração, ou seja, trata de outras relações econômicas e não só do comércio de bens. O Brasil tem acordos desse tipo com Colômbia, Chile, Peru e México, assinados em 2015.
Também às margens do fórum, o governo brasileiro manteve uma série de reuniões com a Colômbia, parceiro estratégico. Nelas, foi destravado um acordo que cria cotas de exportação de automóveis com tarifa zero para ambos os lados. No caso do Brasil, permitirá triplicar a venda em três anos, chegando a 50 mil unidades por ano. Esse entendimento, fechado em 2015, estava parado por resistência dos colombianos.
As montadoras consideraram o acordo positivo, mas, nos bastidores, dizem que o ideal seria chegar ao livre-comércio. Esse acordo está em renegociação e as conversas ficaram paradas por causa da Venezuela. Na avaliação de Barral, essa nova dinâmica é movida por dois fenômenos. Um é a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de não entrar na Aliança Transpacífica. Essa era a principal aposta de países como Colômbia, Peru, Chile e México.
 

Empresas focam mercado externo como saída para enfrentar reflexos da crise

O câmbio menos competitivo e a perda de rentabilidade não reduziram o apetite das empresas brasileiras por mercados internacionais, num contexto em que as exportações se tornaram a porta de saída da crise. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), o número de companhias exportadoras do País, que já tinha sido recorde em 2016, continua em alta neste ano.
Só no mês de março, 12,2 mil empresas exportaram seus produtos ao exterior, na maior marca mensal de uma série iniciada em janeiro de 2015. Levantamentos anteriores, que consolidam resultados anuais, já mostravam que o número vem subindo desde 2013 e, não por acaso, ganhando corpo à medida que a recessão econômica se agravava.
Com a crise, as empresas tiveram de buscar mercados no exterior para, de um lado, diminuir a ociosidade das linhas de produção e, de outro, escoar estoques não consumidos por clientes nacionais. Hoje, porém, o comércio exterior não oferece o mesmo rendimento de quando novatos nesse ramo - a maioria, pequenas empresas, com exportações inferiores a US$ 1 milhão - decidiram explorar rotas internacionais.
De acordo com a Funcex - instituição que, mensalmente, calcula um índice de quanto diversos setores lucram a mais ou a menos com vendas ao exterior -, a rentabilidade das exportações brasileiras caiu 10,2% no acumulado de 12 meses até fevereiro, se comparada a igual período do ano anterior. Com alta de 5% da rentabilidade, a mineração de metais, favorecida pela forte valorização do minério de ferro, é exceção entre 29 atividades monitoradas no período.
A apreciação do real, que reduz o montante obtido em moeda nacional com as exportações, mais o avanço de 6% do custo de produção, corroeu a recuperação de preço dos produtos exportados. Tendo como base os dados da Funcex - ajustados a valores de janeiro de 1985 para obter índices comparáveis numa série de 32 anos -, Luís Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimentos, diz que a rentabilidade dos exportadores brasileiros está no segundo pior momento em mais de três décadas. "Só no começo desta década estava mais baixa do que agora."
Ainda assim, as empresas não deixam de exportar, porque, segundo dizem analistas, o mercado doméstico segue fraco e, num quadro de recuperação econômica lenta, a ocupação das linhas de produção continua muitas vezes dependente das encomendas vindas do exterior. Da mesma forma, as empresas não querem abandonar mercados internacionais conquistados a duras penas.
"Conquistar clientes estrangeiros é difícil, perder é fácil, e reconquistar é muito mais árduo e custoso, ainda mais quando se tem pela frente chineses com preços competitivos", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que congrega empresas exportadoras e importadoras.