Ao contrário do ano passado, quando vivíamos um momento de contração da demanda interna por calçados ao passo que as exportações indicavam uma espécie de "porto seguro" da atividade, em 2017 a gangorra se inverteu. Com uma política internacional influenciada pelas atitudes do polêmico presidente norte-americano Donald Trump, a taxa cambial perdeu qualquer rumo.
Como sabemos, para o exportador dois fatores são essenciais: um câmbio estável e com o dólar cotado em nível de competitividade e que proporcione a formação de preços adequados ao mercado internacional. Já a estabilidade se faz fundamental porque a mudança brusca dos valores prejudica as negociações internacionais, com preços instáveis gerando insegurança para os agentes envolvidos na operação.
No final do ano passado, com um câmbio médio de R$ 3,40, os exportadores brasileiros lograram possibilidades interessantes de formação de preços. O resultado foi uma recuperação nas exportações de calçados, tendo a indústria do setor fechado o ano com uma receita gerada 4% superior à de 2015. Somente no último mês daquele ano, foram mais de US$ 128 milhões em calçados embarcados, muito acima da média mensal de 2016, que ficou na faixa de US$ 80 milhões.
Desde janeiro de 2017, convivendo com as incertezas do cenário econômico mundial, estamos trabalhando com um câmbio médio de R$ 3,15. Qual o reflexo disso na formação de preço? O pior possível. Seria ruim em qualquer caso, mas o momento em que essa valorização do real acontece torna o cenário ainda mais complicado. No primeiro bimestre de 2017, tivemos algumas das principais feiras internacionais do ano, tendo o preço do nosso produto, acima do praticado em 2016, repelido boa parte dos negócios.
Para 2017, ao que tudo indica, teremos mesmo que conviver com a inversão da gangorra. Esperemos uma recuperação da demanda doméstica e, a partir do controle da inflação, queda de juros, a esperada retomada do crescimento.
Presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)