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Política

- Publicada em 20 de Fevereiro de 2017 às 17:22

Para delator, Cunha era o 'Vesgo', Funaro o 'Maluco' e Cleto o 'Rapaizim'

Não era apenas a empreiteira Odebrecht - cujos executivos tiveram um acordo de delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - que costumava identificar políticos por apelidos. O gosto por dar alcunhas também era compartilhado pelo empresário Alexandre Margotto, que firmou um acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF). O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, era o "Vesgo". Seu ex-sócio, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, era o "Maluco". E Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, era frequentemente chamado de "Rapaizim". Além disso, tanto Margotto como Cleto costumavam reclamar que Funaro não era bom pagador, atrasando os repasses prometidos.
Não era apenas a empreiteira Odebrecht - cujos executivos tiveram um acordo de delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - que costumava identificar políticos por apelidos. O gosto por dar alcunhas também era compartilhado pelo empresário Alexandre Margotto, que firmou um acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF). O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, era o "Vesgo". Seu ex-sócio, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, era o "Maluco". E Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, era frequentemente chamado de "Rapaizim". Além disso, tanto Margotto como Cleto costumavam reclamar que Funaro não era bom pagador, atrasando os repasses prometidos.
O acordo de delação premiada de Margotto - em que ele expõe irregularidades no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa - foi homologado na semana passada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília. Segundo os termos do acordo, ele se comprometeu a falar de irregularidades envolvendo Cunha, preso atualmente em Curitiba; o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima; o ex-ministro do Turismo Henrique Alves; e os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS e do frigorífico Friboi.
Funaro - que era o operador de Cunha e está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília - também é exposto na delação de Margotto. Os dois eram sócios e, pelas mensagens entregues por Margotto ao MPF, alternavam momentos de amor e ódio. Ora trocavam palavras amistosas, ora se xingavam, principalmente quando Margotto reclamava que estava sem dinheiro.
Na manhã de 5 de agosto de 2014, Margotto escreveu para Funaro que não tinha mais limite no banco e que iria pedir dinheiro emprestado para a mãe. "Não paguei a Cida, a empregada. A escola. Plano de saúde. Consegui sacar 150 reais, que é gasolina. Gasolina e almoçar", escreveu Margotto.
Em 13 de setembro, novas reclamações: "Neste momento dependo de você. Se você falha, eu me fodo. Ajudei meu pai que tá com câncer. A mulher dele que tá. Tem escola. O básico. Então quando você fala que vai fazer algo, tô contando com aquilo. Se você falha, é efeito dominó. Pedi emprestado Cleto. Ele disse que vai ver, se você não me ajudar, ele vai dar jeito".
Em 15 de agosto, Cleto escreveu para Margotto, falando de Funaro: "é o mestre dos mestres, que dá aula de não pagar ninguém, você já conhece". Em geral, Funaro respondia agressivo às reclamações de Margotto, acrescentando que, enquanto um ou outro negócio não fosse fechado, não poderia adiantar dinheiro.
Em sua delação, homologada no ano passado, Fábio Cleto já tinha apontado um episódio em que Funaro tinha enganado o próprio Cunha. O ex-deputado foi acusado de receber propina de contratos do FI-FGTS. Segundo ele, o combinado era que Cunha ficasse com 80% da propina paga por empresas interessadas em obter financiamentos do fundo. Mas isso não ocorreu em um caso: na liberação de R$ 500 milhões para um projeto habitacional em Pernambuco, da empresa Cone.
Cleto contou que, normalmente, ficava com 4% da propina, Funaro com 12% e Margotto com outros 4%. Mas, no financiamento do projeto habitacional, Funaro combinou com os dois para não falarem nada a Cunha. Assim, os três dividiriam igualmente a propina, que totalizaria R$ 14 milhões. Funaro, porém, não cumpriu o acordo e Cleto recebeu apenas R$ 75 mil. Não restou alternativa a não ser aceitar calado. Segundo o termo de depoimento prestado em abril do ano passado, Cleto disse que "não cobrou de Funaro o valor restante da propina devida pois sabia que seria infrutífera a cobrança".
Os delatores que vêm expondo irregularidades nas relações entre empresários e agentes públicos vêm demonstrando gosto pelos apelidos. Na Lava-Jato, a lista da Odebrecht expõe dezenas de políticos e suas alcunhas, como Angorá, Primo, Índio, Botafogo, Santo, Todo Feio e Boca Mole.
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