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Teatro

- Publicada em 09 de Fevereiro de 2017 às 22:21

Meio século depois... onde andamos?

Na semana passada, foram eleitos, após novelescas confabulações, os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Também ficou decidido, por sorteio eletrônico, quem será o novo relator da chamada operação Lava Jato. Comédias de erros? William Shakespeare, há muitos séculos, já abordou estas questões, na série das chamadas tragédias políticas, de que Jan Kott é um dos melhores estudiosos, discutindo esta espécie de roda da fortuna que se desloca no mesmo movimento dos ponteiros de um relógio: quem está embaixo, quer subir, mas ao subir, torna-se alvo para os que estão em baixo, e assim por diante. O novo presidente da Câmara Federal se torna o primeiro na substituição do presidente da República, o que não é pouca coisa, e teria justificado as apostas do Executivo em prol de um candidato, tendo em vista os projetos que se acham na pauta de votações.
Na semana passada, foram eleitos, após novelescas confabulações, os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Também ficou decidido, por sorteio eletrônico, quem será o novo relator da chamada operação Lava Jato. Comédias de erros? William Shakespeare, há muitos séculos, já abordou estas questões, na série das chamadas tragédias políticas, de que Jan Kott é um dos melhores estudiosos, discutindo esta espécie de roda da fortuna que se desloca no mesmo movimento dos ponteiros de um relógio: quem está embaixo, quer subir, mas ao subir, torna-se alvo para os que estão em baixo, e assim por diante. O novo presidente da Câmara Federal se torna o primeiro na substituição do presidente da República, o que não é pouca coisa, e teria justificado as apostas do Executivo em prol de um candidato, tendo em vista os projetos que se acham na pauta de votações.
Para as novas gerações, tudo isso deve parecer esdrúxulo. Os mais velhos responderão que é o jogo da democracia. Pessoalmente, fiquei me lembrando dos mal afamados anos 1960, em que, mergulhados na ditadura e um Ato
In(con)stitucional nº 5, de dezembro de 1968, sabíamos que (quase) tudo era proibido, até o que a gente não sabia que era proibido, graças a uns certos decretos secretos que os militares editavam e que não eram publicados nem mesmo no Diário Oficial da União.
Não obstante, e apesar de toda a (dupla) censura, aquela do texto e a outra, a do espetáculo, a gente tinha um grande dinamismo na cultura brasileira, inclusive no teatro. Lembremos, aqui, o grupo do Arena e lembremos o CPC da UNE, gerando gente como Vianinha, Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Pontes, dramaturgos de mão cheia, cujas obras, mesmo que pagando algum preço à militância e a uma certa leitura ideologizada da realidade brasileira mais imediata, foram capazes de ler, indagar-se sobre e buscar compreender o Brasil.
Peças como as da série Arena conta..., em que se revisitaram anti-heróis brasileiros, como Tiradentes e Zumbi, Murro em ponta de faca, a criação do chamado sistema coringa, o abrasileiramento do musical norte-americano e o amadurecimento do formato do teatro de revistas, foram algumas das ricas e inconfundíveis conquistas de Boal; Guarnieri foi capaz de refletir criticamente, sem maniqueísmos, sobre a greve e o grevismo, em Eles não usam black-tie, assim como Vianinha nos apresentou emocionadas e emocionantes reflexões sobre as vanguardas exercidas pelas diferentes gerações de brasileiros, como em Rasga coração, além de conseguir incluir o futebol - o mais popular esporte brasileiro - enquanto metáfora da política, em Chapetuba Futebol Clube, que tem graças, mas também amarguras, bastando a gente observar hoje em dia a situação da CBF e da Fifa... De Vianinha recebemos, ainda, esta obra-prima que se chama Mão na luva, inesquecível, e que poucas dramaturgias foram capazes de produzir, equilibrando à perfeição a frustração do amor acabado e a percepção de quanto o amor também sofre os contextos sócio-culturais, mesmo que, num primeiro momento, não percebidos.
Tivemos grandes grupos de teatro. Conhecemos grandes criadores múltiplos, como a revelação de Chico Buarque, desde a trilha sonora de Morte e vida Severina, a partir do poema dramático de João Cabral de Melo Neto, até os textos/composições por ele desenvolvidos, quase sempre com parcerias variadas, como Roda viva, Calabar, Gota d'água etc.
Felizmente, deixamos a ditadura. Mas, e a dramaturgia? Também a deixamos? Será que é preciso um sistema autoritário para termos criatividade? Onde andam nossos dramaturgos, diante de todas as contradições que a atual realidade brasileira nos apresenta, crítica, mas rica, de qualquer modo, em potenciais reflexões?
Meio século depois de todos aqueles acontecimentos, onde andamos?
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