Governadores do Rio Grande do Sul nas últimas décadas tomaram diferentes medidas para tentar contornar as dificuldades de um Estado endividado. Mesmo com os esforços, o governo fechou com déficit orçamentário em quase todos os exercícios dos últimos 40 anos.
Na segunda metade dos anos 1990, na gestão Antonio Britto (PMDB, 1995-1998), a dívida do Estado foi renegociada, sendo consolidada com a União. Desde então, a economia nacional mudou, a começar pela inflação, que influenciou na fórmula utilizada na época para definir o indexador que corrigiu essa dívida ao longo dos anos.
O resultado é que os juros superaram em muito a inflação e, depois de duas décadas pagando religiosamente as parcelas da dívida para o governo federal - o que comprometeu 13% da receita corrente líquida do Estado nesse período -, o Rio Grande do Sul está longe de quitar o seu débito.
E isso que já pagamos muito mais do que foi definido naquela oportunidade. Ainda assim, o Estado deve cerca de
R$ 50 bilhões. Sinal de que algo está errado, o que foi reconhecido, primeiro liminarmente pelo Supremo Tribunal Federal, e depois pela própria União. Tanto que o Rio Grande do Sul e outros estados ganharam um período de suspensão do pagamento das parcelas da dívida em 2016.
Enquanto isso, governadores, não só aqui, mas também no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, tomaram medidas para contornar a crise e tentar, pelo menos, pagar a folha de pagamento do funcionalismo público estadual. Mas a situação é de calamidade financeira.
O governador José Ivo Sartori (PMDB) está tendo que parcelar os salários dos servidores públicos há meses. E não se pode dizer que o Estado não fez economia ou cortes. Nem que não tentou alternativas para aumentar as receitas do Estado.
A atual gestão fez um forte contingenciamento - reduziu o número de secretarias, cortou diárias, horas extras, aprovou uma Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual, aumentou a alíquota de contribuição previdenciária dos servidores para 14%, além de recentes medidas mais drásticas, como a extinção de uma dezena de fundações, além de outras estatais, como Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) e Companhia Riograndense de Artes Gráficas (Corag). Propostas de privatização ou federalização de CEEE, Sulgás e Companhia Riograndense de Mineração (CRM) ainda não foram votadas.
Pelo lado da receita, Sartori conseguiu aprovar o aumento de impostos - as alíquotas do ICMS subiram no início de 2016 até 2018 - e ampliou o limite de saque dos depósitos judiciais, além de conseguir cobrar mais a dívida ativa.
Ainda assim, faltam recursos para serviços básicos - a superlotação de presídios, a redução do número de policiais militares, além da falta de repasses para hospitais são três exemplos emblemáticos da dramática situação.
Evidentemente, o equilíbrio das contas públicas é salutar, mas isso só vai acontecer no médio e longo prazo. Por isso, o socorro da União não pode demorar mais, a renegociação da dívida do Estado é uma questão de fundo para resolver o caso do Rio Grande do Sul.
E se o Estado deve dezenas de bilhões de reais, é bom lembrar que a União também é devedora em dezenas de bilhões de reais de compensações da Lei Kandir que não foram pagas. Assim, espera-se que a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tenha bom senso e aprove logo a ajuda ao Estado.