Com o aprofundamento da recessão e a piora das condições de emprego e crédito, a venda de veículos novos no Brasil caiu 20,19% em 2016 em relação a 2015, para 2.050.327 unidades, informou ontem a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). É o menor volume desde 2006 e a quarta retração anual seguida.
Em dezembro, mês que faltava ser apurado para que o resultado final do ano fosse conhecido, as vendas somaram 204.397 unidades, recuo de 10,24% em comparação a dezembro de 2015, mas crescimento de 14,73% ante as vendas registradas em novembro de 2016 - parte do avanço é explicado pelo tradicional aquecimento do consumo no fim do ano e do maior número de dias úteis em dezembro.
O mercado de veículos começou a cair em 2013, depois de uma sequência de nove anos seguidos de alta, com o ano de 2012 marcado por um recorde de 3,8 milhões de unidades vendidas. O boom resultou em alto nível de inadimplência, o que fez com que o mercado passasse a recuar a partir do ano seguinte.
Em 2015, com o estouro da crise e a alta do desemprego, a situação se agravou, e as vendas caíram 26,5%, o maior tombo em 27 anos. Com o resultado de 2016, o setor acumula retração de quase 50% em quatro anos.
As vendas de automóveis e comerciais leves, que são a maior fatia do mercado, somaram 1.986.389 unidades no ano passado, recuo de 19,8% em relação a 2015. Só em dezembro, foram 199.024 emplacamentos nos dois segmentos, baixa de 9,78% ante o resultado de dezembro do ano passado, mas alta de 14,66% na comparação com novembro.
Entre os pesados, o mercado de caminhões teve contração de 29,92% em 2016, para 50.292 unidades. No último mês do ano, foram 4.446 caminhões vendidos, recuo de 20,29% ante igual mês de 2015, porém avanço de 17,68% sobre o volume de novembro. No caso dos ônibus, o ano terminou com queda de 32,92%, para 13.646 unidades. Em dezembro, as concessionárias venderam 927 ônibus, queda de 40,42% em relação a dezembro de 2015 e alta de 15,44% sobre novembro.
O presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Alarico Assumpção Jr., afirmou ontem que a piora da crise política acabou barrando o avanço do programa de renovação de frota que vem sendo elaborado pelo governo em parceria com entidades do setor automotivo, numa tentativa de estimular a venda de veículos no Brasil e tirar de circulação modelos mais poluentes e menos seguros.
Segundo Assumpção Jr., o projeto continua parado na mesa Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), e ainda não houve um convite do presidente Michel Temer para que o tema fosse discutido mais profundamente com os representantes do setor. "O governo tem sempre uma justificativa, lamentavelmente. Eu não quero transferir responsabilidade, mas no segundo semestre a questão política voltou muito gravemente, com essa briga entre poderes, isso abala, a inércia volta", criticou o empresário.
Em novembro do ano passado, durante o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, o ministro Marcos Pereira, titular do Mdic, mostrou otimismo com programa de renovação de frota e disse que, até o fim de 2016, o projeto seria apresentado ao presidente Michel Temer. Afirmou também que tinha a expectativa de que, até o fim do primeiro semestre, o projeto saísse do papel e estivesse apto a entrar em vigor.
Depois de 11 anos de reinado da Fiat como líder nas vendas de veículos leves no Brasil, o posto foi retomado em 2016 pela GM, que ocupou a liderança pela última vez em 2004, cedendo o espaço a partir de 2005 para a própria Fiat. Ambas amargaram quedas de mercado em 2016, assim como todo o setor, mas a GM teve recuo menor, o que permitiu a reconquista do primeiro lugar.
As vendas da GM somaram 345,8 mil automóveis e comerciais leves em 2016, ou 17,4% do total do mercado, apontam números preliminares. A Fiat teve baixa de 31%, para 305 mil unidades, com 15,3% de participação no todo.
Das principais montadoras em atuação no Brasil, apenas a japonesa Toyota conseguiu elevar as vendas. O salto foi de 3%, para 180,4 mil unidades, ficando com 9,1% de participação do mercado.