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Empresas & Negócios

- Publicada em 31 de Janeiro de 2017 às 16:29

Össur projeta maior demanda de próteses biônicas

Jairo Blumenthal, diretor da Össur Brasil.
Na foto: Jairo Blumenthal

Jairo Blumenthal, diretor da Össur Brasil. Na foto: Jairo Blumenthal


CLAITON DORNELLES/JC
Patrícia Comunello
Cenas do goleiro Jakson Follmann, que sobreviveu à queda do avião da Chapecoense na Colômbia, dando os primeiros passos com a nova perna, mostram o impacto de uma prótese para quem teve um membro amputado. O efeito poderia se multiplicar a mais pessoas se o setor não tivesse barreiras no Brasil, sinaliza o diretor da Össur na operação brasileira da companhia islandesa, líder mundial em tecnologia, o gaúcho Jairo Blumenthal. Ele cita que os seguros não cobrem os materiais e a lista de itens cobertos pelo sistema público de saúde é de 20 anos atrás. Blumenthal, primeiro protesista do Brasil, que largou o curso de Medicina para fazer a formação nos EUA, é da terceira geração da família que fundou a Sapataria Cientifica Correto, que ainda tem uma loja em Porto Alegre e que começou sua história, em 1943, com o avô de Blumenthal, o alemão Kurt Wiener. A Össur acabou comprando as empresas da família, que inclui distribuição e área clínica. Com receita anual de US$ 500 milhões e 2,5 mil funcionários no mundo, a islandesa de capital aberto lidera em próteses biônicas e está de olho nos movimentos para montar um cluster de saúde no Estado.
Cenas do goleiro Jakson Follmann, que sobreviveu à queda do avião da Chapecoense na Colômbia, dando os primeiros passos com a nova perna, mostram o impacto de uma prótese para quem teve um membro amputado. O efeito poderia se multiplicar a mais pessoas se o setor não tivesse barreiras no Brasil, sinaliza o diretor da Össur na operação brasileira da companhia islandesa, líder mundial em tecnologia, o gaúcho Jairo Blumenthal. Ele cita que os seguros não cobrem os materiais e a lista de itens cobertos pelo sistema público de saúde é de 20 anos atrás. Blumenthal, primeiro protesista do Brasil, que largou o curso de Medicina para fazer a formação nos EUA, é da terceira geração da família que fundou a Sapataria Cientifica Correto, que ainda tem uma loja em Porto Alegre e que começou sua história, em 1943, com o avô de Blumenthal, o alemão Kurt Wiener. A Össur acabou comprando as empresas da família, que inclui distribuição e área clínica. Com receita anual de US$ 500 milhões e 2,5 mil funcionários no mundo, a islandesa de capital aberto lidera em próteses biônicas e está de olho nos movimentos para montar um cluster de saúde no Estado.
JC Empresas & Negócios - Como a Sapataria Correto se aproximou da Össur?
Jairo Blumenthal - Em 1997, começamos a distribuir como Sapataria Correto a tecnologia da empresa islandesa, que era o uso do silicone e que mudou o paradigma de materiais e fez a Össur explodir no mercado mundial. Nosso mercado só cresceu no Brasil. Em 2013, assinamos um acordo, pelo qual a Össur comprava a distribuidora da nossa marca, a Correto Clínica e a Sapataria Correto. Hoje fazemos parte da holding, que manteve as operações preservando os nomes e a tradição familiar. Operamos em toda a América Latina, e a distribuição é o grande foco. 
Empresas & Negócios - Como evolui este mercado?
Blumenthal - Basicamente, em tecnologia de materiais e biônica. O que se emprega hoje é bem diferente das famosas pernas de pau. Uma boa medida desses avanços foram as duas últimas paralimpíadas, onde vimos atletas com índices para competir com os não amputados. Só o fator homem sozinho demoraria muito mais para alcançar este estágio, portanto, o equipamento passou a ser decisivo. Muitos consideram que o amputado pode ter até vantagem, o que já é o maior elogio às próteses. 
Empresas & Negócios - Qual é a tendência em materiais?
Blumenthal - Levamos 20 anos para sair da madeira para a fibra de carbono, do algodão para silicone e do aço para o titânio, que são os três materiais mais usados. Outra grande mudança é que se sai da área mecânica para a biônica. Contamos com sensores e motores com uma interação entre a prótese e o corpo do paciente que permite resultados absurdamente mais reais e próximos à realidade. Hoje busca-se materiais que podem antecipar movimentos e participar da vida da pessoa. Quem for atuar nesta área terá de ser provavelmente bioengenheiro ou geneticista.  
Empresas & Negócios - O homem biônico virou realidade?
Blumenthal - Há uma razão triste e outra feliz para isso. Esta última é efeito dos avanços da tecnologia da informação (TI) e eletroeletrônica. O lado triste é que, geralmente, em virtude das grandes guerras, que geram muitos mutilados, os governos investem mais em pesquisa e desenvolvimento para atender à essa população. Isso permite saltos de qualidade, mas ainda é um mercado muito pequeno. Se alguém perder a perna, caso do goleiro Jakson Follmann, a vida dele não mudaria em nada tendo acesso à tecnologia.
Empresas & Negócios - Qual é o tamanho desse mercado?
Blumenthal - Não há, infelizmente, dados confiáveis na América Latina. Os números de amputações e acidentes que acontecem e não são registrados ou de pessoas que não buscam auxílio e não são contempladas com próteses desacreditam as estatísticas. O setor tem também uma regulamentação muito rigorosa em todos os países. Hoje, 62% dos casos de amputação são provocados por complicações de diabetes associados a problemas vasculares. É assim no Brasil, nos EUA, na China, com pobres e ricos. Depois, vêm os traumas e acidentes (20%) e tumores e má-formação congênita, em menor número.
Empresas & Negócios - É possível acessar essa tecnologia?
Blumenthal - Enquanto nos EUA e na Europa os seguros saúde públicos e privados cobrem os diferentes tipos de próteses e entendem que os equipamentos são tão importantes quanto um marcapasso - quanto melhor o equipamento mais rápida é a reabilitação -, estamos atrasados duas décadas no Brasil e na América Latina. A maioria das seguradoras não cobre prótese. Só nos resta o Sistema Único de Saúde (SUS), que compra materiais mais simples, baratos e é demorado - a lista é de 20 anos atrás, e o INSS, que abrange próteses melhores, mais próximas do mercado. A diferença é a mesma entre um fusquinha e uma Ferrari. Uma prótese do SUS pode custar R$ 2 mil, e uma privada R$ 20 mil, mas com esta a pessoa pode voltar a trabalhar. É uma economia burra.
Empresas & Negócios - Como isso afeta a Össur no Brasil?
Blumenthal - Atualmente, 35% da receita do setor vêm da venda para o SUS, 45% para INSS e 20% a particulares. Como não fabrica "fusquinha", a Össur atua diretamente com médicos e perícias do INSS. Em 2016, enquanto a maioria das indústrias teve queda nas vendas, a Össur cresceu, mas menos do projetado antes da recessão no País. Mesmo assim, estamos muito satisfeitos, pois o desempenho ficará em dois dígitos. O que afetou a demanda foi o menor ritmo das licitações do INSS. No período do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o setor parou e retomou as vendas no último trimestre, o que aponta para um 2017 bem melhor. O pior já passou. Em 2015, a alta nominal foi de 30%. Como a operação direta começou em 2013, o mercado brasileiro ainda não é maduro, tem muito para crescer. 
Empresas & Negócios - Quais são os planos para o Brasil e o Estado?
Blumenthal - O Brasil é ainda um mercado quase insignificante para a companhia, mas apostamos no potencial pelo tamanho da população e quanto pode crescer na transição de produtos mais simples aos mais sofisticados e com melhor resposta. Não temos ainda fábrica no País, mas sempre analisamos a possibilidade de produzir aqui. O que nos impede é o custo Brasil. O Rio Grande do Sul começa a montar seu cluster de saúde, então temos esperança de que isso possa aproximar a Össur, mas é preciso haver simplificação da regulamentação do setor. Há exigências aqui que nenhum país tem. 
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