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gestão

- Publicada em 30 de Janeiro de 2017 às 14:46

Bancos tentam evitar quebra de empresas

Objetivo das instituições financeiras é trabalhar débitos de forma preventiva

Objetivo das instituições financeiras é trabalhar débitos de forma preventiva


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de amargarem perdas com a deterioração financeira de grandes empresas, que entraram em recuperação judicial ou estão envolvidas na Lava Jato, os maiores bancos privados do País - Itaú, Bradesco e Santander - começaram, nos últimos meses, a se organizar para evitar uma crise ainda maior. A preocupação é que essa onda de recuperações se intensifique e provoque um efeito cascata de estragos na já combalida economia do País.
Depois de amargarem perdas com a deterioração financeira de grandes empresas, que entraram em recuperação judicial ou estão envolvidas na Lava Jato, os maiores bancos privados do País - Itaú, Bradesco e Santander - começaram, nos últimos meses, a se organizar para evitar uma crise ainda maior. A preocupação é que essa onda de recuperações se intensifique e provoque um efeito cascata de estragos na já combalida economia do País.
Com equipes especializadas, esses bancos criaram departamentos totalmente focados na reestruturação de médias e grandes empresas. A ideia é trabalhar de forma preventiva, antes que o problema leve mais companhias a um processo de recuperação judicial ou falência - o que é prejudicial também para o balanço dessas instituições, que no último ano tiveram de fazer provisões para perdas bilionárias. Os casos mais emblemáticos foram os da Oi, com dívidas de R$ 65 bilhões, e da Sete Brasil, criada para entregar sondas para a Petrobras, com débito de R$ 20 bilhões.
Fontes de mercado afirmam que há uma "watch list" (lista de monitoramento) de cerca de R$ 300 bilhões em dívidas de médias e grandes empresas na mira de bancos para reestruturação. Esse valor exclui a dívida da Oi e parte das renegociações de dívidas já feitas por algumas das empresas do grupo Odebrecht.
A qualquer sinal de alerta sobre a saúde financeira de empresas, seja pela piora de indicadores do balanço ou por atrasos em contas (dívidas ou impostos, por exemplo), as equipes de reestruturação desses bancos entram em ação para tentar estancar o problema de forma preventiva.
"Queremos nos antecipar ao problema", diz Eduardo Armonia, diretor responsável pela área de reestruturação e recuperação de crédito de atacado do Itaú. "A queda da rentabilidade de uma empresa ou atraso de pagamento já acendem um alerta para o banco."
Diante de uma grande quantidade de empresas em dificuldades - seja por causa da crise econômica ou por causa da Lava Jato -, o time de reestruturação dos bancos inicia o pente-fino pelos setores nos quais as instituições têm maior exposição. Nessa lista, estão os segmentos de construção, infraestrutura, varejo, revenda de carros e mercado imobiliário.
Partindo dos setores, esses executivos afunilam as análises até chegar às empresas mais frágeis. Em alguns casos, as companhias não têm noção da realidade que vivem e precisam ser alertadas pelos bancos, diz o vice-presidente do Bradesco, Domingos Abreu, responsável pela área de crédito e reestruturação.
Com esse diagnóstico em mãos, as instituições financeiras oferecem um "pacote de ajuda", que vai desde tomar ativos como garantia e alongar as dívidas até buscar um novo investidor para injetar capital na empresa.
Em muitas situações, a venda de ativos é a melhor saída. Foi o que ocorreu com a Renova Energia, uma das maiores geradoras de energia eólica do País. A empresa rolou uma parte de seus débitos e vendeu ativos para honrar compromissos. Inicialmente a reestruturação buscava um sócio para capitalizar a empresa - o que foi adiado com a venda de um parque eólico por R$ 650 milhões.
Outro que está em reestruturação é o grupo Rossi, que tenta evitar o mesmo caminho da concorrente PDG, cuja recuperação judicial é dada como certa. Fontes afirmam que o grupo renegocia o alongamento das dívidas e está em conversas para dar imóveis como garantia. A empresa não quis se pronunciar.
A mudança de postura dos bancos é explicada pela rápida escalada dos pedidos de recuperação. Só no ano passado, 1.863 empresas entraram com pedidos na Justiça - volume 44% superior ao de 2015, com 1.287 ocorrências. "Criamos essa estrutura em 2015 por causa da piora na economia, do aumento das recuperações e da Lava Jato", diz Gustavo Alejo Viviani, superintendente executivo de negócios de recuperação da área de atacado do Santander.
Para este ano, a recuperação da economia, com a queda dos juros e aumento dos preços das commodities, deve dar algum alívio às empresas. Mas os bancos seguem atentos e querem evitar um déjà vu de 2016.

Geração de caixa de companhias não é compatível com dívida

Cerca de 60% de 800 médias e grandes empresas do País não conseguem pagar os juros das dívidas com a atual geração de caixa

Cerca de 60% de 800 médias e grandes empresas do País não conseguem pagar os juros das dívidas com a atual geração de caixa


DIVULGAÇÃO/JC
Em uma recessão que já dura mais de dois anos, o número de empresas em dificuldades tem crescido significantemente. Cerca de 60% de 800 médias e grandes empresas do País não conseguem pagar os juros das dívidas com a atual geração de caixa, de acordo com levantamento feito pela RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como Ricardo K, especializada em reestruturações de empresas.
Com isso, a busca por reestruturação vai elevar as operações de fusões e aquisições no País neste ano. Os principais bancos, que são muitas vezes credores das grandes empresas, também buscam investidores para injetar capital novo nas companhias com problemas. No ano passado, a gestora canadense Brookfield e a chinesa State Grid foram protagonistas em grandes transações.
A expectativa é que, neste ano, diversos fundos de private equity (que compram participação em empresas) sejam mais ativos em aquisições. Eduardo Armonia, responsável pela área de reestruturação e recuperação de crédito do atacado do Itaú, afirma que muitas das empresas que enfrentam dificuldade financeira hoje não foram afetadas necessariamente pela crise econômica. O problema, nesses casos, é a má gestão. Isso significa que o ativo pode ser uma boa opção de compra no mercado.
A combinação explosiva nos últimos dois anos de recessão, escassez de crédito e má gestão, em alguns casos, não tem dado uma alternativa que não seja a recuperação judicial. "Quando há um trabalho preventivo, a empresa não tem de seguir esse caminho. Mas, tradicionalmente, no Brasil, as companhias chegam para reestruturar a dívida quando a situação está muito complicada", diz Fábio Flores, sócio da consultoria TCP Latam. Ele lembra ainda que o índice de sucesso nas recuperações judiciais brasileiras é muito pequeno.
Na visão do vice-presidente do Bradesco, Domingos Abreu, a escolha pela recuperação judicial não é o melhor caminho, seja para a empresa ou para o banco. "Diferentemente dos Estados Unidos, onde as empresas se recuperam e voltam ao mercado, no Brasil esse instrumento precisa ser aprimorado."
Para Gustavo Alejo Viviani, do Santander, a recuperação da economia poderá dar um alívio a parte das empresas. "O mercado de capitais (tanto para emissão de dívidas como de ações) está reagindo."