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Tecnologia

- Publicada em 25 de Dezembro de 2016 às 17:14

Blockchain muda as relações comerciais no mundo virtual

Contabilidade - Simples - capa - divulgação creativeart freepik

Contabilidade - Simples - capa - divulgação creativeart freepik


Creativeart/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
O bitcoin nasceu como uma moeda virtual libertária, com a promessa de subverter o sistema financeiro global. Sete anos depois, a invenção segue sendo uma curiosidade obscura, enquanto instituições financeiras, empresas de pagamento e bancos centrais - isto é, os inimigos originais do bitcoin - fazem uma corrida para capturar a tecnologia por trás da criptomoeda.
O bitcoin nasceu como uma moeda virtual libertária, com a promessa de subverter o sistema financeiro global. Sete anos depois, a invenção segue sendo uma curiosidade obscura, enquanto instituições financeiras, empresas de pagamento e bancos centrais - isto é, os inimigos originais do bitcoin - fazem uma corrida para capturar a tecnologia por trás da criptomoeda.
Eles estão de olho no blockchain, um modelo de rede virtual que permite que as transações financeiras aconteçam sem a necessidade de intermediários para validá-las. Os bancos veem na tecnologia uma oportunidade para reduzir custo, cortar intermediários e oferecer novos serviços. Para bancos centrais como o Bank of England e o da China, a tecnologia é um mecanismo importante para redução de fraudes e rastreamento de transações.
O bitcoin é muito diferente do padrão dos bancos. Quando uma pessoa transfere dinheiro para outra hoje, são os bancos que aprovam a transação, checando se o remetente tem aquele montante e se o destinatário possui uma conta para recebê-lo. No caso do bitcoin, não é nenhum banco que aprova a transação, mas os próprios "correntistas". Por se tratar de uma moeda virtual, os usuários estão conectados por meio de computadores.
Quando alguém envia bitcoins para outro usuário, um código digital é gerado. Nessa hora, os computadores de todos os usuários de bitcoin no mundo começam uma corrida para decifrar aquele código e dizer se ele é válido. Depois disso, o código é acrescentado a um arquivo com o registro de todas as transações já feitas em bitcoin. Os computadores de todos os usuários têm uma cópia desse arquivo, e ele é usado como referência para validar as transações futuras.
Por trás de toda essa engenharia está o blockchain, e é graças a ele que o bitcoin consegue viabilizar transações confiáveis, sem a necessidade de instituições verificadoras, mesmo estando fora do alcance de órgãos reguladores. Ao eliminar intermediários, ele permite o corte de custos; por usar toda a rede para confirmar as transações e um arquivo com o registro de todas elas, ele dificulta fraudes.
O Fórum Econômico Mundial está convencido de que será uma peça-chave do sistema financeiro global. Segundo o fórum, mais de US$ 1,4 bilhão já foi investido na tecnologia nos últimos três anos, e 80% dos bancos do planeta devem iniciar projetos com ela em 2017. Já são também mais de 90 bancos centrais discutindo a tecnologia. A consultoria McKinsey, por sua vez, calcula que o investimento de venture capital em blockchain foi de US$ 600 milhões entre o final de 2014 e o terceiro trimestre de 2015. Só os bancos devem investir US$ 400 milhões no ano de 2019 contra US$ 39 milhões em 2014. Em 2016, o investimento deve somar US$ 130 milhões. Os executivos esperam impacto significativo dentro de cinco anos. Nos segmentos de pagamentos e mercados de capitais, o impacto previsto é de até US$ 85 bilhões.

Aplicações práticas

  • Walmart: A maior varejista do mundo está testando o blockchain para rastrear alimentos. O objetivo é que a embalagem de cada produto contenha um código único, registrado no blockchain, com informações sobre fornecedores e detalhes sobre sua produção. Esse código ficará registrado na nota física e, caso o consumidor adoeça por causa daquele produto, o Walmart vai saber exatamente tudo sobre o item com problema
  • Registro de terras: Honduras e Grécia testam o cadastro de propriedade em arquivos de blockchain, cujo sistema de confirmação coletiva pode impedir a ação de grileiros e outros tipos de fraudes
  • Contratos inteligentes: Pesquisadores testam a elaboração de contratos eletrônicos, registrados em rede blockchain, que permitem a execução automática de cláusulas em transações entre pessoas que não se conhecem. Um setor que pode ser beneficiado é o da indústria musical. A autoria das faixas musicais, por exemplo, ficaria registrada em um arquivo em rede blockchain. A cada execução, o contrato inteligente leva ao pagamento instantâneos dos direitos autorais
  • Identificação: Por sua características, o blockchain pode ser uma opção para o registro de dados biométricos em sistemas de identificação, segundo especialistas.

Instituições brasileiras estão atentas ao novo nicho

No modelo bitcoin, os integrantes da rede têm uma cópia completa do registro, embora a identidade fique preservada

No modelo bitcoin, os integrantes da rede têm uma cópia completa do registro, embora a identidade fique preservada


BLOOMBERG/DIVULGAÇÃO/JC
Três instituições brasileiras entraram neste ano para o R3, um consórcio privado com mais de 45 instituições financeiras (incluindo gigantes como JPMorgan Chase, Barclays e Wells Fargo) que trabalha no desenvolvimento de aplicações práticas do blockchain - sistema que garante a segurança das operações realizadas por criptomoedas. As brasileiras são Bradesco, Itaú Unibanco e a BM&FBovespa. Em fevereiro, o grupo informou ter obtido sucesso em um teste de negociação de ativos digitais em uma rede privada que passava por quatro continentes.
A BM&FBovespa criou um grupo com 16 profissionais de várias diretorias para entender os diversos padrões de blockchain que estão surgindo. Um deles é o Etherium, que possui uma moeda virtual pública que se apresenta como uma alternativa ao blockchain. Por trás dela está a firma de venture capital DAO, e o sistema acabou sendo abalado após recente ataque hacker. Outro modelo emergente é o Corda, desenvolvido pelo R3.
"No modelo do bitcoin, todos os integrantes da rede têm uma cópia completa do registro, embora todas elas sejam criptografadas e não dê para saber a identidade por trás da transação. No mercado de capitais, porém, tem havido uma resistência à possibilidade de todos os participantes terem uma cópia completa desse arquivo", explica Jochen Mielke de Lima, diretor de sistemas de negociação da BM&FBovespa.
Essa é a grande questão sobre o uso do blockchain no sistema financeiro. Em Wall Street, proteger informações da concorrência é o segredo do negócio. Assim, o que as instituições financeiras buscam é um sistema em que apenas os dados estritamente necessários sejam compartilhados. Como definiu Lima, um blockchain em que os registros contenham apenas as informações públicas de cada transação (como a assinatura criptográfica que a garante), mas sem detalhes como quem pagou o quê a quem.
Esse é um dos objetivos do Corda. Seu site se gaba do fato de a tecnologia "não ter o desnecessário compartilhamento de dados", afirmando que apenas as partes interessadas terão acesso às informações. Nele, a validação das transações também é feita por um número restrito de participantes - ou seja, o sistema de consenso é diferente do bitcoin.
Além de utilizar modelos diferentes do bitcoin, o blockchain dos bancos também deve se desdobrar em várias redes, cada uma dedicada a um tipo de serviço, segundo Rony Sakuragui, gerente de Pesquisa e Inovação do Bradesco. Como as regras de cada serviço são muito diversas, pode haver um blockchain apenas para tratar de remessas internacionais, outro para o sistema de pagamentos, e assim por diante. O Bradesco vem pesquisando o uso do blockchain para prevenção a fraudes. Segundo Sakuragui, a tecnologia permite um compartilhamento mais eficiente de informações sobre irregularidades entre os bancos.
A transferência de recursos internacionais é outro ponto de interesse. Por meio do sistema Swift (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, na sigla em inglês) que se usa hoje, para você fazer uma remessa internacional para um país da Ásia que não tem relacionamento com esse banco, o sistema recorre a bancos intermediários para chegar até ele, Mas você paga um pedágio, e pode ser que a transação não se complete, porque o destinatário está, por exemplo, em uma lista negra. Com o blockchain, você chega diretamente àquele banco e tem a confiança de que a transação vai terminar", afirma Sakuragui.
O Santander lançou, no primeiro semestre do ano passado, no Reino Unido, um aplicativo em parceria com a fintech Ripple para fazer remessas internacionais por meio de blockchain. O usuários são funcionários do banco que podem fazer remessas de euro para dólar ou de libra para euro por meio do celular, usando as plataformas da Ripple, Apple Pay e Elavon. Paschoal Baptista, sócio da DeLoitte, resume em quatro pontos o interesse do sistema financeiro no blockchain: reduzir custo, diminuir a intermediação, oferecer novos serviços e melhorar a capacidade dos serviços atuais. No caso dos bancos centrais, ele afirma que o objetivo principal é facilitar o processo de auditoria. "No blockchain, não se pode mexer no registro das transações. Isso permite uma auditoria muito mais rápida e completa. Logo, ele é menos suscetível a fraude e erros", alega. O Banco Central brasileiro formou, em junho, um grupo de trabalho para discutir a tecnologia.

Ambiente virtual também tem espaço para brechós

e-commerce

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Freepik/Reprodução/JC
A crise econômica tem feito cada vez mais o brasileiro recorrer, na internet, a produtos usados na hora de trocar de celular ou comprar uma bolsa "nova". No ano em que o desemprego subiu e o nível de endividamento registrou alta, até gigantes do varejo, como as Americanas.com, decidiram aderir aos itens de segunda mão para impulsionar seus negócios. Esse tipo de consumo é apontado como uma das principais tendências para o próximo ano, de acordo com estudo feito pela consultoria Dim&Canzian.
Segundo a consultoria, 81% das pessoas dizem que se interessariam por bens de segunda mão, lista que inclui até roupas. E mais: 89% das pessoas já compraram ou conhecem alguém que vende produtos usados. Os sites que vendem produtos usados corroboram a pesquisa. Na OLX, por exemplo, o número de anunciantes subiu 60,2% neste ano em relação a 2015.
O interesse não é em vão. Segundo a Loja Integrada, empresa de internet que hospeda mais de 400 mil lojas virtuais no Brasil, um produto seminovo é até 70% mais barato que um "produto zero quilômetro". Para Samantha Barbieri, diretora de planejamento e pesquisa da Dim&Canzian, todo mundo está mais consciente na hora de consumir.
"A procura maior por produtos usados e a venda direta entre amigos e vizinhos são uma das tendências de consumo no Brasil. Na pesquisa, verificamos que 92% das pessoas tiveram que cortar as despesas nos últimos 12 meses." Assim, a Americanas.com, uma das maiores varejistas do País, passou a comercializar itens usados sem alarde.
A venda é feita por meio do "Sou Barato" - em uma estratégia chamada pelas companhias de marketplace -, marca que pertence ao mesmo grupo e é especializada em itens de segunda mão. Espécie de ponta de estoque da Americanas.com e com descontos de até 70%, são vendidos produtos reembalados (produtos devolvidos por clientes ou que tiveram algum dano na embalagem durante o processo de distribuição) e usados (itens certificados, reconfigurados e higienizados, como iPhones e geladeiras, entre outros).
Na OLX, de janeiro a outubro de 2016, o número de itens vendidos no site subiu 105,9% em relação ao mesmo período de 2015. Com isso, as vendas, revela Marcos Leite, chefe executivo comercial da empresa, chegaram a R$ 77 bilhões, maior que os
R$ 70 bilhões de todo o ano passado. No site, os celulares foram os itens que mais cresceram: a venda de telefones usados teve alta de 132% ante o ano anterior.
"Em 2016, a empresa tem recebido, em média, meio milhão de novos anúncios por dia e mais de 2 milhões de vendas por mês. São 50 vendas por minuto. Em número de anúncios, o crescimento foi de 74,8% entre janeiro e outubro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Fizemos uma pesquisa e percebemos que 91% da população brasileira de internautas, ou 68 milhões de pessoas, possuem itens sem uso e estão dispostas a vender", disse Leite.
Breno Nogueira, chefe de marketing da Loja Integrada, diz que roupas, sapatos e eletrônicos são os itens usados mais vendidos hoje nos sites de compras. Ele destaca que houve avanço de 81% no número de sites que passaram a vender produtos seminovos neste ano em relação ao ano passado.