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Internacional

- Publicada em 26 de Novembro de 2016 às 22:36

Morte de Fidel gera incertezas sobre futuro da reaproximação de Cuba e EUA

Cubanos americanos celebram em Miami a morte do líder da revolução

Cubanos americanos celebram em Miami a morte do líder da revolução


RHONA WISE/AFP/JC/
Enquanto centenas de cubanos expatriados festejavam nas ruas de Miami com panelas e bandeiras a morte de Fidel Castro, paira a incerteza sobre o futuro da reaproximação entre Cuba e Estados Unidos. Apesar de todas as etapas de retomada diplomática terem sido cumpridas entre o castrismo e o governo de Barack Obama, a eleição de Donald Trump à Casa Branca provoca temores de que o degelo seja desfeito pelo presidente eleito.
Enquanto centenas de cubanos expatriados festejavam nas ruas de Miami com panelas e bandeiras a morte de Fidel Castro, paira a incerteza sobre o futuro da reaproximação entre Cuba e Estados Unidos. Apesar de todas as etapas de retomada diplomática terem sido cumpridas entre o castrismo e o governo de Barack Obama, a eleição de Donald Trump à Casa Branca provoca temores de que o degelo seja desfeito pelo presidente eleito.
Neste sábado (26), Trump não sinalizou se romperá com Havana. Mas foi muito duro quanto a Fidel. "Hoje, o mundo marca a morte de um ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas. Seu legado é um de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação dos direitos humanos fundamentais", disse em comunicado. "Nosso governo fará de tudo que puder para garantir que o povo cubano possa finalmente começar sua jornada rumo à prosperidade e à liberdade."
Um tom muito distinto daquele do atual chefe de Estado, Barack Obama, que adotou um tom cordial. Obama fez uma sutil referência à célebre frase de Fidel "A História me absolverá". "A História registrará e julgará o enorme impacto de sua personalidade singular no povo e no mundo em volta dele. Durante minha Presidência, trabalhamos duro para deixar o passado para trás, perseguindo um futuro no qual a relação seja definida não por nossas diferenças, mas pelo que compartilhamos como vizinhos e amigos."
A notícia da morte de Fidel chegou a Miami em um comprido fim de semana: logo após o Dia de Ação de Graças e a Black Friday, motivo pelo qual lojas estavam abertas até tarde da noite - e pelo qual muitos deixaram as compras de lado e, depois de meia-noite, saíram às ruas para celebrar. "Temos que dar graças a Deus. Foram muitos anos esperando que isto acontecesse. Ainda que fosse melhor que Fidel morresse quando estava no poder, pois isso teria gerado uma mudança positiva na ilha", disse o cubano Carlos Casanova, 72 anos.
O exílio cubano esperava a morte de Fidel há tanto tempo que, há mais de 20 anos, as autoridades do condado de Miami-Dade já contavam com um plano de segurança para controlar a situação nas ruas caso isso acontecesse.
Em Little Havana, coração dos cubanos de Miami, expatriados de todas as idades - uns nascidos em Cuba e outros em Miami - levaram panelas, bandeiras, camisetas e bonés para expressar seus sentimentos. Alguns com cartazes saudando o presidente eleito, Donald Trump ("Trump ganhou, Fidel perdeu"). Mas nem todos se manifestaram da mesma forma. Os mais velhos não se acanharam em dizer que se alegravam da morte, mas alguns jovens eram mais cautelosos.
"Não se deve se alegrar com a morte de alguém. O que celebramos hoje é que a liberdade está mais perto do que nunca para Cuba", disse a jovem Nicole López. Segundo Eduardo Gamarra, professor do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade Internacional da Flórida, é crucial que o mundo entenda as razões da celebração dos exilados cubanos, mesmo que seja difícil. "É inegável que a revolução foi construída sobre sangue, separação e lágrimas das famílias. É uma ferida que continua doendo nelas", disse Gamarra. "Acredito que a morte de Fidel seja um golpe moral para a esquerda latino-americana, que tentará se revitalizar através de sua memória."
Durante a campanha, Trump disse que endureceria as condições da reaproximação, citando direitos humanos e a perseguição a dissidentes. Na Flórida, apelou ao voto dos exilados prometendo até cancelar a retomada das relações. Ele incluiu em sua equipe figuras do lobby a favor do embargo comercial do início dos anos 1960. O lobby pró-embargo, que inclui os senadores republicanos de origem cubana Ted Cruz e Marco Rubio, quer um imediato rompimento da retomada. Neste sábado, o primeiro disse que "a ditadura continua"; e o segundo, que "o dia é de honrar o povo que sofreu" sob o regime.
Na Casa Branca, Trump poderá desfazer concessões econômicas criadas por atos executivos de Obama, ignorando o Congresso. Elas incluem entrada de investimentos americanos, afrouxamento das restrições a transações privadas e restituição de serviços aéreos e postais. Gigantes americanas já começam a expandir seus negócios para a ilha - o que motiva pedidos pela manutenção da reconciliação.
"Mais do que nunca, deveríamos fazer todo o possível para eliminar as barreiras e ajudar os cubanos a se integrarem totalmente", avaliou o diretor executivo da ONG pró-degelo Cuba Now, Ric Herrero. Para o jornalista especializado em Cuba Peter Kornbluh, este é um momento muito delicado nas relações. "Os cubanos não sabem o que esperar e têm grandes medos do governo Trump", resumiu ele à CNN. "Mas isto não muda realmente a relação entre EUA e Cuba e nem o futuro da liderança em um futuro próximo na ilha."
Jorge Duany, diretor do Instituto de Investigação Cubana de Miami, é contido sobre o futuro das relações, apesar de acreditar que a morte não interfira. "Devemos esperar o presidente eleito se instalar", disse Duany.
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