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Contas Públicas

- Publicada em 13 de Novembro de 2016 às 17:11

Previdência nos estados pode ter rombo de R$ 100 bilhões

No Rio Grande do Sul, 9% dos inativos possuem mais de 80 anos

No Rio Grande do Sul, 9% dos inativos possuem mais de 80 anos


ANTONIO PAZ/JC
Parte do problema para se identificar e corrigir distorções na Previdência dos estados está no fato de sequer haver um padrão para acompanhar os seus resultados. Existem três cálculos. Todos são oficiais e corretos, mas têm resultados distintos. Neste ano, parte dos estados passou a considerar a metodologia do Tesouro Nacional, que inclui mais dados. Por esse parâmetro, os rombos previdenciários deram saltos. A soma totalizou R$ 77 bilhões no ano passado e, pelo ritmo de crescimento observado, tende a encostar em R$ 100 bilhões ao final deste ano.
Parte do problema para se identificar e corrigir distorções na Previdência dos estados está no fato de sequer haver um padrão para acompanhar os seus resultados. Existem três cálculos. Todos são oficiais e corretos, mas têm resultados distintos. Neste ano, parte dos estados passou a considerar a metodologia do Tesouro Nacional, que inclui mais dados. Por esse parâmetro, os rombos previdenciários deram saltos. A soma totalizou R$ 77 bilhões no ano passado e, pelo ritmo de crescimento observado, tende a encostar em R$ 100 bilhões ao final deste ano.
A estimativa foi feita pelos pesquisadores Vilma da Conceição Pinto e Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Entre 2014 e 2015, os déficits somados tiveram alta de 18% acima da inflação. "Pela velocidade do aumento, se as regras da Previdência não forem revistas, em pouco tempo todo mundo vai ser Rio de Janeiro", diz Pessôa.
O que chama a atenção no caso do Rio é principalmente a velocidade com que o rombo se revelou. O estado não tem o maior déficit. São Paulo é o líder: foram R$ 16 bilhões no vermelho no ano passado, pela regra do Tesouro. Mas o governo paulista adotou uma série de medidas para reorganizar o sistema e freou o crescimento, que foi de pouco mais de 3% entre 2014 e 2015. Minas Gerais é o segundo colocado, com um déficit de quase R$ 14 bilhões. O Rio vem em terceiro lugar, mas de um ano para outro o buraco foi de R$ 4,9 bilhões para quase R$ 10,8 bilhões. Descontada a inflação, o fosso dobrou de tamanho.
Não houve uma corrida a aposentadorias. O problema é que a recessão escancarou as distorções. A maioria dos servidores está no antigo regime, que não se paga: são 233 mil na ativa para cobrir benefícios de 260 mil aposentados e pensionistas. A maioria se aposenta aos 56 anos. Professores, aos 50. O governo identificou a bomba relógio e criou um sistema novo. Quem entrou no serviço público após setembro de 2013 está num fundo capitalizado e superavitário. Mas são apenas 18 mil ali. A banda deficitária, que atende a vasta maioria, era coberta por receitas extras. Com a recessão, virou pó, levando caos a todos os servidores.
"Os royalties do petróleo estavam sustentando o déficit e a transição de um modelo para o outro - vários economistas criticaram, mas era o necessário. Com a crise, a reforma da Previdência, que já era importante, se torna urgente", diz Gustavo Barbosa, ex-presidente da Rioprevidência e, desde julho, secretário de Fazenda, numa sinalização de onde reside o maior problema das contas do Estado.
Quem conhece a máquina pública por dentro é categórico em afirmar que uma combinação de regras generosas na concessão de benefícios e a leniência em elevar salários nos últimos anos foi decisiva para acelerar a deterioração da Previdência nos Estados. "Pesaram muito os reajustes salariais dos últimos anos que, pela regra atual, são estendidos aos inativos", diz Andrea Calabi, que acompanha as contas públicas federais e estaduais desde os anos 1980.
Nessa dinâmica, o que mais pesa é a aposentadoria especial, por ser precoce. Ela não está apenas colocando mais gente no sistema, numa velocidade maior. Como se vive cada vez mais, tem o efeito de antecipar um período de descanso que tende a ser cada vez mais longo. O Rio Grande do Sul é um exemplo desse efeito. "A nossa expectativa de vida já é alta e no serviço público é maior ainda - se compara a de países nórdicos, como a Suécia", diz José Guilherme Kliemann, secretário adjunto da Casa Civil e conselheiro da RS Prev. Nada menos que 9% dos inativos gaúchos têm mais de 80 anos e a tendência, segundo ele, é que esse efetivo aumente. "Agora imagine que a pessoa ganha uma aposentadoria especial aos 50 e viva mais de 80: é ótimo viver mais e melhor, mas, no aspecto previdenciário, é insustentável pagar isso", diz Kliemann. A crise gaúcha é tão grave quanto à do Rio. Lá, também há atrasos no pagamento de salários e o rombo previdenciário beira R$ 7,5 bilhões.
Quem ainda não chegou ao limite, teme o futuro pelas mesmas razões. Alagoas, por exemplo, tem cerca de 40 mil inativos e 30 mil na ativa - 20% deles vão poder se aposentar nos próximos quatro anos. A maior pressão, diz George Santoro, secretário de Fazenda, também vem das aposentadorias especiais, em particular de policiais militares. "Os PMs estão se aposentando aos 48 anos e a gente precisa repor constantemente, pois bombeiros e policiais prestam serviços essenciais - não se terceiriza isso", diz. A solução, porém, não está na mão dos governadores. "Sozinhos, os estados não conseguem enfrentar essa questão, porque a legislação dos militares é federal, precisamos da União para resolver isso."
 

Ações no Supremo bloqueiam multa de repatriação

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber bloqueou parte do dinheiro arrecadado pelo governo federal com o programa de regularização de recursos mantidos ilegalmente no exterior, em resposta a ações movidas por 23 estados e pelo Distrito Federal para obrigar a União a dividir com eles uma fatia maior do dinheiro.
Além de Pernambuco e Piauí, que tinham obtido liminares na sexta-feira passada, foram atendidos Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Roraima Santa Catarina, Sergipe, Tocantins e o Distrito Federal.
As decisões da ministra têm caráter provisório e ainda serão levadas ao plenário do STF. Só depois do julgamento do mérito das ações, se os governadores prevalecerem, é que o dinheiro congelado poderá ir para o caixa dos estados. Se isso acontecer, eles serão beneficiados com cerca de R$ 4 bilhões.
O governo federal arrecadou R$ 46,8 bilhões com o programa de regularização de recursos ilegais no exterior. A receita com o Imposto de Renda foi de R$ 23,4 bilhões. Os estados ficaram com pouco mais de R$ 4 bilhões dessa parcela, valor que foi repassado na última quinta-feira.
Os governadores, entretanto, querem também um pedaço a outra metade dos recursos (R$ 23,4 bilhões), referente às multas, que ficou integralmente com a União. O governo alega que a lei do programa de repatriação não prevê a partilha das multas. Os estados argumentam que as multas do IR são rotineiramente divididas com governadores e prefeitos, e que a previsão de partilha foi retirada na última hora por veto aplicado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) à lei.
Para Rosa Weber, a lei não deixa clara a natureza da multa, se é moratória ou punitiva, o que é considerado essencial para definição do destino dos recursos. Não há prazo para o assunto ser levado a plenário. O Senado discute projeto para abrir uma segunda rodada do programa de repatriação, para atrair os que não aderiram na primeira leva.
A proposta aumenta o IR de 15% para 17,5%. O mesmo percentual valeria para a multa. A previsão é que o novo programa comece em 1º de fevereiro, com prazo de 40 dias. A expectativa do governo é arrecadar mais R$ 20 bilhões.
No sábado, o presidente Michel Temer divulgou um vídeo nas redes sociais para informar os prefeitos de que receberão parte do dinheiro. "Com a repatriação de capitais de dinheiro para o Brasil, o governo federal estará entregando a você uma verba que praticamente vai cobrir as suas despesas de final de ano", disse. "Comunique-se com o governo federal que você saberá a importância que deverá receber para este fim de ano, quem sabe até para pagar o 13º salário."