Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Comércio Exterior

- Publicada em 13 de Novembro de 2016 às 22:19

Governo de Donald Trump coloca em risco comércio internacional

Republicano deve levar adiante intenção de proteger indústria do país

Republicano deve levar adiante intenção de proteger indústria do país


JIM WATSON/AFP/JC
O comércio mundial não deve ficar imune ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu discurso protecionista. As promessas de campanha podem até não se transformar 100% em realidade, mas tudo aponta para mudanças no fluxo dos negócios internacionais. E o Brasil, mesmo que indiretamente, deve ser afetado, avaliam especialistas. Com um déficit comercial crônico de cerca de US$ 500 bilhões ao ano e com desemprego elevado, apoio interno para Trump não deve faltar.
O comércio mundial não deve ficar imune ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu discurso protecionista. As promessas de campanha podem até não se transformar 100% em realidade, mas tudo aponta para mudanças no fluxo dos negócios internacionais. E o Brasil, mesmo que indiretamente, deve ser afetado, avaliam especialistas. Com um déficit comercial crônico de cerca de US$ 500 bilhões ao ano e com desemprego elevado, apoio interno para Trump não deve faltar.
Para gerar empregos, a tendência é que o novo presidente adote medidas para expandir a produção industrial. Trump quer criar empregos, que andam escassos para os padrões norte-americanos, e boa parte do mercado de trabalho está na indústria. Ao longo de sua campanha, o empresário se manifestou contrário às políticas de comércio da China e prometeu proteger a indústria dos Estados Unidos. Afetando a China, o repique nas exportações brasileiras é bastante provável. Ainda que o presidente dos EUA tenha poderes limitados pelo congresso, como explica o professor Adroaldo Lazzarotto, coordenador do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), algumas ferramentas podem dar certa autonomia a Trump.
"Nos EUA, temos uma situação simples: Trump tem a maioria no congresso, e existe o chamado fast track, que permite ao presidente decidir sozinho sobre determinado caso. Ele pode, com o fast track, retirar ou derrubar acordos já feitos, por exemplo, sem necessidade de aprovação dos congressistas", diz Lazzarotto.
Os setores que podem ser afetados dependem de diferentes fatores. Inclusive de quem foram os financiadores da campanha, afirma o professor da Pucrs. Lazzarotto alerta que Trump tende a gerar uma nova guerra tarifária mundial e deve atuar na quebra de acordos de caráter regional, como Nafta e a parceria Transpacífica, ainda em formação. No caso da China, se restringir a entrada de importações no país, Trump tende a desestabilizar parte dos grandes mercados mundiais.
"A logística mundial faz com que uma empresa busque sempre os componentes e mão de obra mais baratos. Muitas vezes, o tecido de uma roupa que está na sacola do consumidor norte-americano carrega a economia de vários países. Um fio brasileiro pode virar tecido na Índia e depois ser transformado em roupa na China. Depois, a peça é vendida nos Estados Unidos. Se esse produto deixa de ir para a sacola do consumidor norte-americano, muitas economias são afetadas", exemplifica o especialista em Negócios Internacionais.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, mesmo sendo limitado pelo Congresso, Trump tem à mão ferramentas rápidas para barrar importações. Uma das formas, diz Castro, é adotar ações antidumping e sobretaxar produtos.
"Quando se acusa um setor de estar cometendo dumping, se coloca uma sobretaxa no produto em questão. Só depois o país ou setor afetado vai discutir a questão na Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo. Mas, enquanto o assunto é discutido, a barreira já está criada. Ele pode adotar esse tipo de ação especialmente com a China, que é superavitária nos negócios com os Estados Unidos", avalia Castro.
Para Paulo Feldmann, professor de Economia da Universidade de São Paulo, ainda que as ações que Trump adotará sejam incertas e que ele não deva fazer tudo o que disse na campanha, ao menos parte das promessas ele deve cumprir. E, com isso, esfriar a economia mundial.
"É grande o risco de que a economia mundial, que já não estava aquecida, tenha seu crescimento reduzido. De alguma forma, deve haver redução nas importações norte-americanas" avalia Feldmann, lembrando que o fator Trump se soma, no esfriamento da economia mundial, à crise na Europa com a saída do Reino Unido da União Europeia, que também tende a reduzir o fluxo de mercadorias.
O economista, porém, ressalta que Trump tem o desafio de reduzir as compras da China sem afetar as próprias empresas norte-americanas que lá estão instaladas. Outro problema, diz Feldmann, é que, ao criar sobretaxas e dificultar a entrada de produtos vindo da China, por exemplo, o presidente estará elevando o custo de vida dos norte-americanos. É essa mesma linha de pensamento que defende o administrador e mestre em Relações Internacionais Sherban Leonardo Cretoiu, professor da Fundação Dom Cabral, menos pessimista em relação ao governo Trump no que se refere a barreiras comerciais e comércio internacional.
"Ações contra a China podem se tornar um tiro no pé e levar a retaliações em outras áreas. Vale lembrar que a China é um dos grandes credores dos Estados Unidos. Não acho que será com um canetaço que Trump mudará todo fluxo do comércio mundial. Outro ponto que precisa ser levado em conta é que, ao sobretaxar importações, ele estará criado uma forte pressão inflacionária no país", pondera Cretoiu.

Ministros europeus adotam compasso de espera com administração do norte-americano

Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) concluíram ontem que terão que esperar para ver o que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, fará nas próximas semanas, e trabalhar no fortalecimento do papel da Europa nos assuntos mundiais até que o futuro das relações transatlânticas se torne mais claro.
Durante jantares informais em Bruxelas, os ministros sublinharam a importância de respeitar a escolha dos eleitores norte-americanos e fazer contato com a equipe de transição de Trump. "Teremos de ver que posições serão assumidas pela nova administração nos próximos meses", disse o ministro das Relações Exteriores da Bélgica, Didier Reynders, após a reunião ter terminado. "O debate agora é ver como a União Europeia pode elevar a importância de seu papel no mundo".
As nações da UE estão ansiosas para ver quantas promessas de campanha de Trump - como posições isolacionistas sobre segurança, sua rejeição a pactos de comércio internacional e recusa em criticar o presidente russo Vladimir Putin - podem se traduzir em políticas reais. Mas Reynders negou que o encontro teve caráter de uma reunião de emergência, ou que a Europa está em desordem.

O que Trumpjá disse sobre...

eco exportações crédito Visual Hunt

eco exportações crédito Visual Hunt


VISUAL HUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Nafta
O novo presidente avalia que o acordo é um dos "piores" já feitos pelos Estados Unidos, beneficiando apenas Canadá e México e, ou será rompido, ou terá de ser renegociado.
Parceria Transpacífica
O acordo para ampliar o comércio com o Japão e outros 10 países que estão na costa do Pacífico não deve mais sair.
Brasil
Em 2015, Trump afirmou que o Brasil tem relações comerciais injustas com os EUA (ainda que o Brasil seja deficitário na balança comercial) e disse que o país "rouba" empregos dos norte-americanos. Mas, em tese, o Brasil não deve sofrer sanções econômicas diretamente, pois vende principalmente alimentos aos Estados Unidos (que não tem mais área agriculturável a ser explorada).
China
O país é o principal alvo do novo presidente. Trump já disse que taxaria os produtos chineses em 45% para compensar a fraqueza da moeda local e a política comercial.