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Indústria

- Publicada em 13 de Novembro de 2016 às 22:25

'Chocolate de Gramado' deverá ser oficializado

IP protege região que se tornou conhecida pela fabricação do doce

IP protege região que se tornou conhecida pela fabricação do doce


JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Em um futuro breve, a marca 'Chocolate de Gramado' ganhará status oficial. Em parceria com a prefeitura e empresas do setor, o município da Serra desenha desde o início do ano as bases para solicitar a Indicação de Procedência (IP) do produto junto ao governo federal. O objetivo é evitar a utilização da marca por empresas de outras regiões e manter a qualidade do chocolate daquela que reivindica ser a capital do produto no País: são pelo menos 29 as fábricas no município.
Em um futuro breve, a marca 'Chocolate de Gramado' ganhará status oficial. Em parceria com a prefeitura e empresas do setor, o município da Serra desenha desde o início do ano as bases para solicitar a Indicação de Procedência (IP) do produto junto ao governo federal. O objetivo é evitar a utilização da marca por empresas de outras regiões e manter a qualidade do chocolate daquela que reivindica ser a capital do produto no País: são pelo menos 29 as fábricas no município.
A ideia, que já existia há algum tempo, foi tirada do papel quando a prefeitura de Gramado venceu um edital do Ministério do Turismo com o projeto, ainda em 2015. Com recursos previstos em R$ 290 mil, foi contratada uma empresa gestora, que deu início aos trabalhos técnicos. O que não se esperava é que, em junho deste ano, o governo federal cancelaria o convênio. "Nos pegaram de surpresa, pois nunca vimos, depois de assinado um convênio, ele ser cancelado", lamenta a secretária de Turismo de Gramado, Rosa Helena Volk.
Mesmo assim, com recursos próprios de um fundo municipal, contrapartida das empresas e um redimensionamento do contrato, o projeto foi levado adiante, pela relevância do chocolate para a cidade. "O chocolate é o item mais comprado pelos nossos visitantes. Além disso, pelas fábricas locais terem lojas em grandes centros do País, ele se transformou em um promotor de Gramado", argumenta Rosa que, embora lamente a quebra do convênio, defende que o importante é ver a ideia se concretizar.
Nos últimos meses, têm sido realizadas na cidade reuniões quinzenais entre as 10 empresas que aderiram à ideia. As fábricas, todas as que produzem a sua própria matéria-prima a partir do cacau, praticamente refundaram a Associação das Indústrias de Chocolate de Gramado (Achoco), entidade que estava adormecida. Elas discutem, nos encontros, quais serão os parâmetros mínimos na produção e apresentação do chocolate para que ele possa receber o selo da IP - além, evidentemente, da exigência de que seja produzido no município.
A IP é um dos tipos de indicação geográfica que existem no Brasil, e consiste, basicamente, em proteger regiões que se tornaram conhecidas pela fabricação de algum produto (como já acontece, por exemplo, com os Doces de Pelotas e o Couro do Vale do Sinos) - o outro tipo é a Denominação de Origem (DO), mais restritiva, que protege a designação de produtos com características únicas no mundo, sendo o champagne o caso mais famoso.
"O selo é uma necessidade para preservar a qualidade e o aspecto artesanais, diferenciais em relação ao chocolate comum. Não deixar vulgarizar um produto que demoramos muito a construir", analisa o presidente da Achoco e diretor da Chocolate Gramadense, Altanísio Ferreira de Lima. Os produtores reclamam de empresas de outras regiões do estado e do País, e até indústrias de panetones, que utilizam o nome de Gramado em seus produtos sem ter ligação com a cidade e com uma qualidade julgada inferior.
Quando definidos todos os parâmetros, a Achoco e a empresa gestora protocolarão o pedido oficial no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi). Antes previsto para o fim do ano, o prazo fixado para a conclusão do projeto foi adiado para junho de 2017 após o impasse com o governo federal. O Inpi não faz projeções, mas trabalhos acadêmicos calculam a tramitação média em torno de 16 meses nos processos de IP. Tanto a prefeitura quanto os chocolateiros acreditam, porém, que o pedido será aceito ainda em 2017. Entre as empresas que participam do projeto estão Caracol, Prawer, Lugano, Gramadense, Do Parke, Planalto, Canto Doce e Chocolataria Gramado.

Parâmetros irão de quantidade de cacau a limitação de ingredientes

Produção artesanal é um dos grandes diferenciais da cidade

Produção artesanal é um dos grandes diferenciais da cidade


LEONID STRELIAEV/PMG/DIVULGAÇÃO/JC
A preocupação com a manutenção e até mesmo melhoria da qualidade do chocolate produzido em Gramado é um dos grandes norteadores do pedido de IP. Nas reuniões das empresas, foram definidos, por exemplo, percentuais de cacau nas formulações acima do exigido pela legislação brasileira.
No chocolate ao leite, as empresas definiram 35% de sólidos de cacau como percentual mínimo, enquanto a lei estabelece 25%, situação que se repete nos outros tipos do doce. Além disso, foram proibidas a utilização de ingredientes como gordura vegetal e soro de leite e recomendados limites máximos para a adição de outros alimentos em algumas formas, como barras com frutas e sementes.
"É esse o nosso diferencial do chocolate industrial, o nosso tipo de fabricação artesanal e de maior qualidade, e não abrimos mão disso", defende o presidente da Achoco, Altanísio Ferreira de Lima. Ainda que as empresas tenham diferença de opiniões entre si quanto à formulação do chocolate, os produtores garantem que as conversas ocorrem em bom tom e com a obtenção de consenso.
"Estamos definindo os mínimos, mas a partir daí entra a diferenciação entre as marcas. Estamos cuidando para não virar uma receita de bolo, que todos passem a fazer a mesma coisa", comenta a engenheira de alimentos da Prawer, Natália Diehl.
Conforme as decisões são tomadas, as empresas já estariam se adequando nos pontos em que ainda não estiverem dentro do padrão definido. "Todas as empresas estão unidas, respeitando as regras combinadas. Claro que cada uma tem o seu segredo, a sua proposta, mas queremos manter a tradição da cidade com a união de todos", acrescenta o diretor da Lugano, Enor Francisco Terres da Luz. "Sabemos que, no final, todos vão acabar ganhando", complementa o gerente da Caracol, Jaderson Souza.
A maior dificuldade, garantem, não é nem a demanda pelo chocolate de Gramado, mas sim a oferta, já que a produção é artesanal e não permite linhas de grande escala. Lima defende que a ideia é fomentar a adesão e criação de novas empresas do setor, o que facilitaria chegar a locais hoje não alcançados por falta de produto.

Eventos farão parte das ações de promoção

Para que o selo ganhe efetividade, uma auditoria e laboratórios serão contratadas para fiscalizar as empresas e garantir que todos estejam seguindo os parâmetros definidos pelo grupo. Os chocolateiros também projetam algumas ações de marketing e publicidade que tornem a ação conhecida dos consumidores. Presidente da Achoco, Altanísio Ferreira de Lima adianta a organização de pelo menos dois eventos, aproveitando o potencial turístico da região.
Um deles será algo na linha da extinta Chocofest, voltado especialmente para o período de Páscoa, em parceria com a Gramadotur, autarquia municipal. A ideia da associação é viabilizar o evento já em 2017, mesmo que a IP ainda não tenha sido concedida até lá.
O outro evento será um Festival Brasileiro do Chocolate, que Lima projeta teria potencial de grande repercussão em todo o setor de chocolate do País. "Temos já patrocinadores alinhavados, nos moldes do Natal Luz, que será importante tanto para nós quanto para Gramado e até o Estado", projeta Lima. A atividade poderá consolidar, também, o reconhecimento até internacional do chocolate produzida na cidade.
"Estive na França nos últimos meses e lá eles nos respeitam, nos conhecem, e isso é muito importante", comemora Lima. Um dos pioneiros da atividade em Gramado, que teve início em 1976, o presidente afirma nunca ter imaginado a repercussão que a atividade ganharia.