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Conjuntura

- Publicada em 08 de Novembro de 2016 às 22:53

Especialistas projetam cenário econômico de incertezas para 2017

Gonçalves (e), Sater (c) e Schwartsman participaram do seminário

Gonçalves (e), Sater (c) e Schwartsman participaram do seminário


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Mais uma vez, a recuperação efetiva da economia brasileira deverá ficar para depois. Para analistas econômicos e políticos, reunidos ontem para o 18º Seminário Econômico promovido pela Fundação CEEE, 2017 até poderá ser um ano que marque uma retomada do crescimento em algum grau no Brasil. Mas, mesmo que a previsão se confirme, a certeza é de que a recuperação será bastante lenta e, provavelmente, só se concretize no ano seguinte. Dificuldades nos gastos públicos e nos investimentos, o pequeno crescimento da economia mundial e os reflexos sociais do ajuste fiscal são vistos como os principais obstáculos.
Mais uma vez, a recuperação efetiva da economia brasileira deverá ficar para depois. Para analistas econômicos e políticos, reunidos ontem para o 18º Seminário Econômico promovido pela Fundação CEEE, 2017 até poderá ser um ano que marque uma retomada do crescimento em algum grau no Brasil. Mas, mesmo que a previsão se confirme, a certeza é de que a recuperação será bastante lenta e, provavelmente, só se concretize no ano seguinte. Dificuldades nos gastos públicos e nos investimentos, o pequeno crescimento da economia mundial e os reflexos sociais do ajuste fiscal são vistos como os principais obstáculos.
"Nosso problema é recuperar a demanda", argumenta o economista Alexandre Schwartsman, que afirma não ver outra saída que não passe pela redução no juro básico. Outras alternativas, como o investimento privado e, principalmente, os gastos públicos, não devem ter resposta imediata. "Com juro baixo, o consumo costuma reagir bem, ainda que, claro, com uma defasagem de tempo, não sendo algo instantâneo", analisa. A velocidade na redução da taxa Selic dependerá, na visão de Schwartsman, do sucesso do ajuste fiscal, que estabilizaria o endividamento público.
Via mais comum em momentos como esse, os gastos com infraestrutura tampouco parecem promissores na visão do também economista José Francisco de Lima Gonçalves, que se diz "cético" em relação ao interesse privado nas obras. "Mesmo que sejam contratos de longo prazo, o custo atual do capital atrapalha e torna difícil que se viabilizem investimentos nessa área", defende. Gonçalves ressalta que, mesmo que os juros caíam consideravelmente, para em torno de 10% ao ano, a convergência da inflação para o centro da meta manteria o juro real acima de 5%, o que seguiria afastando os investidores.
Além disso, para Gonçalves há grandes riscos também no cenário político, com o processo de sucessão nas duas casas do Congresso no ano que vem e o início do processo eleitoral visando à eleição presidencial de 2018. "O ambiente é totalmente desfavorável", sinaliza o economista. O cientista político Emir Sader acrescenta que não há nenhuma agenda positiva na esfera federal, e que as medidas de ajuste gerarão convulsões sociais. "As consequências sociais mais graves deverão acontecer no ano que vem", prevê Sader, que defende que a cartilha da austeridade não teria dado certo em país algum até hoje.
Embora defenda que o ajuste fiscal "tem que andar" como forma de segurar o câmbio em um patamar razoável, Gonçalves concorda que há a possibilidade de uma frustração na população brasileira. "No último período o mercado de trabalho se diversificou, aumentou em qualidade. Sem o controle fiscal, corremos risco de arrebentar tudo o que foi feito e gerar uma frustração enorme", defende o economista, que diz não se autorizar a ser otimista com o quadro atual.
O mercado de trabalho, aliás, também não deve nutrir grandes expectativas para 2017. Tanto Schwartsman quanto Gonçalves afirmar ver o índice de desemprego passando dos 12%, podendo chegar a mais de 13% antes de retomar o aquecimento. "Deveremos ter uma recuperação da economia bastante lenta, que se concentre no segundo semestre", projeta Schwartsman. A aceleração deste processo, argumenta o economista, deve acontecer apenas em 2018.

Situação internacional deverá continuar desfavorável

Se o cenário interno é complicado, também é difícil acreditar que a salvação possa vir do mercado externo, segundo os analistas. "A demanda externa não ajuda, e o preço das commodities deverá continuar deprimido por ainda muito tempo", projeta o economista José Francisco de Lima Gonçalves. Mercados estratégicos, como China, Japão e os países europeus, devem continuar enfrentando estagnação em 2017.
"A retomada chinesa é mais desejo de economista do que realidade, pois o processo de transição de um modelo baseado em investimentos para outro, baseado no consumo, leva uma geração inteira", argumenta Gonçalves. As constantes tensões na Europa, que não dão sinais de arrefecimento, ainda indicam que o continente seguirá com a sua política de juros baixos, de acordo com o economista Alexandre Schwartsman. "Podemos esperar um dólar forte em 2017, portanto", garante.
A projeção é baseada na expectativa de crescimento da economia norte-americana, aliada à projetada elevação dos juros básicos no país. As eleições nos Estados Unidos, realizadas ontem, podem influenciar a situação, mas o quadro tido como o mais provável, de vitória da democrata Hillary Clinton, é apontado por Schwartsman como também o mais "previsível".
O fato mais relevante nas relações internacionais para o ano que vem, a saída do Reino Unido da União Europeia, também deverá finalmente cobrar sua conta, segundo Gonçalves. "Não existe país que perca 20% do valor de sua moeda e siga a vida como se nada tivesse acontecido", assegura o economista, que, para além disso, afirma não antever outros movimentos importantes na Europa.