Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Agronegócios

- Publicada em 04 de Novembro de 2016 às 19:12

Sotaque francês e sabor brasileiro na Campanha

Suinocultura é o novo negócio de Gaspar Desurmond, com a aposta em raças tipicamente brasileiras

Suinocultura é o novo negócio de Gaspar Desurmond, com a aposta em raças tipicamente brasileiras


ARQUIVO PESSOAL DE GASPAR DESURMOND/DIVULGAÇÃO/JC
O enólogo francês Gaspar Desurmond, produtor de vinho e suínos, radicado em Dom Pedrito, desenvolve seus estudos no Rio Grande do Sul desde 2008. Há quatro anos, decidiu se mudar para a região da Campanha e começar a produzir vinho de alta qualidade. Desde que fundou a Vinhetica (união de vinho e ética), a produção só cresce e alcançou mercados seletos: vai do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, aos mercados de Paris e Bruxelas. Agora, Desurmond está inovando em outro segmento do agronegócio: a criação de suínos, com o desenvolvimento genético de raças tipicamente brasileiras, como Moura, Canastra e Piau. Em parceria com pequenos produtores, o francês busca um "terroir" tipicamente brasileiro para a carne suína.
O enólogo francês Gaspar Desurmond, produtor de vinho e suínos, radicado em Dom Pedrito, desenvolve seus estudos no Rio Grande do Sul desde 2008. Há quatro anos, decidiu se mudar para a região da Campanha e começar a produzir vinho de alta qualidade. Desde que fundou a Vinhetica (união de vinho e ética), a produção só cresce e alcançou mercados seletos: vai do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, aos mercados de Paris e Bruxelas. Agora, Desurmond está inovando em outro segmento do agronegócio: a criação de suínos, com o desenvolvimento genético de raças tipicamente brasileiras, como Moura, Canastra e Piau. Em parceria com pequenos produtores, o francês busca um "terroir" tipicamente brasileiro para a carne suína.
"O Brasil tem que valorizar suas raças. Aqui, se prioriza as raças europeias, como Duroc, Large White e Landrace. Essas raças nacionais, indígenas ou introduzidas aqui nos séculos XVII, correm até risco de desaparecer", explica Desumord.
No próximo dia 10, no Country Club de Porto Alegre, o francês vai apresentar a um grupo de convidados sete versões de carne suína especial, fruto do primeiro abate próprio, feito neste mês, com seletos 18 animais. Em parceria com três microcriadores, ele testa a qualidade e o sabor de animais criados livres (fora do confinamento) e alimentados principalmente com bagaço de uva e de olivas, com soro de leite e bata doce. É com fala de enólogo que Desurmond explica o que pretende com sua inovadora produção de carne.
"Assim como fiz com o vinho, minha procura no trabalho com suínos pelo terroir que mostra uma identidade da produção no Brasil. O vinho, ou melhor, a uva, tem seu sabor alterado devido ao clima onde se planta, ao solo, a incidência de luz e outros fatores. Com a produção de suínos não é diferente, tem terroir, em razão da alimentação, da criação sem confinamento, da quantidade sol que o animal pega, do estresse que ele não tem sendo criado solo", explica o francês, em português fluente.
A criação sem confinamento, avalia Desurmond, altera significativamente o sabor da carne em razão da gordura. No caso do suíno criado solto, como o animal anda mais, a gordura se introjeta nos músculos, dando marmoreio e mais sabor à carne. No caso do confinamento, a gordura fica toda concentrada separadamente da carne, facilitando a retirada, inclusive.
"Não quero uma carne light, definitivamente. Não estou em busca disso. Estou desenvolvendo sabor", ressalta o enólogo, que morou em Bento Gonçalves, onde atuou em parceria com a Embrapa Uva e Vinho, antes de migrar para a Campanha.
Além de buscar um diferencial no mercado, Desurmond também se diferencia nos modelos de parceria e negociação. Hoje, trabalho apenas com três pequenos suínos, para acompanhar de perto. Na uva, prioriza agricultores com no máximo 9 hectares de cultivo e de quem nunca compro mais de 50% da produção de uva de um ele não fique dependente economicamente de uma única fonte.
"No caso dos suínos, pago 30% a mais pelo produto em relação à média do mercado, e compro antecipado. Além de pagar mais ao produtor, de quem exijo produção diferenciada, ele não tem custos com estrutura de confinamento e muito menos gastos com alimentação", pondera o empresário.
 

Vinhos para o mundo, suínos para o Brasil, ovelhas para o futuro

Vinhetica deve produzir cerca
de 28 mil garrafas da bebida

Vinhetica deve produzir cerca de 28 mil garrafas da bebida


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Gaspar Desurmond não tem no currículo uma história muito comum entre os empreendedores. Até porque ele é, antes de tudo, um pesquisador que resolveu investir no agronegócio. A formação de Desurmond explica boa parte do seu sucesso.
"Esse trabalho que estou desenvolvendo também é um estudo de mestrado em que consegui reunir três universidades europeias onde já estudei: SupAgro Montpellier, Instituto Superior de Agronomia de Lisboa e da Universidade de Geisenheim, na Alemanha", conta o enólogo.
No começo de sua investida verde-amarela, em 2008, ele se debruçou sobre os dados de clima registrados entre os anos 1960 e 2000. Analisou as informações sobre chuva, vento, luminosidade, frio, serração e outros dados de centenas de municípios. O objetivo inicial era apenas a produção de vinho, que deu mais do que certo. Hoje, com a Vinhetica, o francês deve produzir cerca de 28 mil garrafas, também com compras de uva de pequeno produtores.
"Com a uva de Santa Catarina produzimos vinho branco. Da serra gaúcha sai a uva para espumantes. Na Campanha, a prioridade é para a produção de vinho tinto", explica Desurmond.
O próximo passo? Desenvolver criação de ovelhas. Mas sobre esse projeto ele ainda prefere manter segredo.