Desconstruindo padrões

Há 10 anos, a Organização da Sociedade Civil (OSC) Mulher em Construção capacita mulheres para a ingressarem no ramo da construção civil. Segundo a fundadora, Bia Kern, a intenção é capacitar e empoderar ainda mais mulheres.

"Já fazia parte da área do terceiro setor e via que as mulheres precisavam de curso de formação. E sem formação, elas não conseguiriam ingressar no mercado de trabalho", destaca Bia. São três cursos ministrados pela OSC, Mulheres em Construção e Cimento e Batom - gratuitos e com foco nas mulheres das comunidades de Porto Alegre -, e Criadoras da Obra - com custo e destinado a profissionais ligadas a construção civil, arquitetura, engenharia, etc. Este último subsidia a realização do demais cursos.

O Mulher em Construção é uma parceria da OSC com uma empresa da iniciativa privada. Agora em dezembro as mulheres estão participando de um curso com a empresa especializada em energia solar, Young Energy, que ensinará a aplicar placas fotovoltaicas nos locais. O curso totalizado em 56 horas é dividido em 40 horas da empresa e 16 da OSC. A parte prática do último Mulher em Construção de 2016 será a instalação das placas energia solar do ginásio da Vila Santa Terezinha. Além das aulas teóricas e técnicas sobre o assunto, inicialmente as mulheres têm aulas com ativistas sociais, para trabalhar questões como feminismo, empoderamento feminino, linguagem de gênero e etc. "Temos que preparar essas mulheres para entrar em um canteiro de obras, preparar elas com a linguagem de gênero, para elas saberem como lidar com os homens", ressalta a fundadora.

Bia afirma que este tipo de trabalho ainda é muito masculino e não existem projetos similares ao Mulher em Construção, que trabalhem exclusivamente com mulheres. Segundo o Ministério do Trabalho e a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), entre os anos de 2002 e 2012 a participação de mulheres na área da construção civil aumentou 65%. Desde sua fundação, a Mulher em Construção já capacitou 3.960 mulheres. "Não existiam mulheres no mercado da construção civil, então fomos construindo aos poucos. Tinham cursos que mulheres poderiam participar, mas não tinham cursos apenas para mulheres. E ensinar mulher é diferente", salienta Bia.

O outro curso ministrado pelo Mulher em Construção tem uma carga horária menor e também um objetivo diferente. O Cimento e Batom busca fomentar a mulher ao conhecimento mínimo ou de formação a pequenos reparos, como alvenaria, cerâmica, pintura, hidráulica e elétrica. O curso é ministrado pela equipe da Mulher em Construção, com a intenção de que as mulheres possam realizar em suas próprias casas os consertos. "Tem vindo cada vez mais mulheres. Apostamos na igualdade de gênero sempre, na questão de que nós somos sim iguais. E é essa educação que damos desde o início, de que todas podem fazer", aponta a fundadora da OSC.

No mês passado, através de um crowfounding - financiamento coletivo online -, a Mulher em Construção arrecadou R$ 25 mil para realizar o Cimento e Batom no próximo ano para as mulheres da Restinga. "Queremos fortalecer o trabalho e a aprendizagem delas, para elas trabalharem no próprio bairro", reitera Bia. A intenção é que as mulheres montem um grupo de trabalho na região.

A fundadora destaca que o feedback que elas recebem das mulheres é muito positivo. Principalmente o aprendizado básico, que serve para realizar os consertos em suas casas. Agora, o objetivo da Mulher em Construção é realizar um curso de formação total, com uma carga horária de aproximadamente 200 horas, porém a OSC ainda está buscando recursos para colocar a ideia em prática.

As mulheres interessadas em participarem dos cursos devem se inscrever direto com a Mulher em Construção, seja via e-mail ([email protected]), telefone, facebook ou na sede da OSC, no Vila Flores (São Carlos, 759).