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Seguros & Previdência

- Publicada em 17 de Outubro de 2016 às 11:37

Os riscos e os custos da sobrevivência

Vivência do consumidor determina a escolha por seguros, diz Saut

Vivência do consumidor determina a escolha por seguros, diz Saut


Marco Quintana/JC
O pensamento do consumidor sob uma ótica comportamental e sociológica é a forma com a qual o vice-presidente corporativo da Icatu Seguros, César Saut, trabalha para entender as razões para que ele adote, ou não, produtos como seguro de vida e de previdência. Um dos conceitos que aplica nessa análise ele define como Risco Social de Sobrevivência (RSS). Ao olhar para a vida sob a ótica dos danos a que estamos sujeitos, Saut avalia que a ausência de precaução do consumidor tem mais relação com falta de consciência sobre as consequências econômicas do envelhecimento e seus custos do que propriamente com a renda atual. Nesta entrevista, ele mostra como o risco de viver é ampliado dia a dia e por que é melhor pensar desde cedo na questão para não depender do Estado, se manter no futuro de forma mais tranquila e sem sobrecarregar a família por falta de planejamento.
O pensamento do consumidor sob uma ótica comportamental e sociológica é a forma com a qual o vice-presidente corporativo da Icatu Seguros, César Saut, trabalha para entender as razões para que ele adote, ou não, produtos como seguro de vida e de previdência. Um dos conceitos que aplica nessa análise ele define como Risco Social de Sobrevivência (RSS). Ao olhar para a vida sob a ótica dos danos a que estamos sujeitos, Saut avalia que a ausência de precaução do consumidor tem mais relação com falta de consciência sobre as consequências econômicas do envelhecimento e seus custos do que propriamente com a renda atual. Nesta entrevista, ele mostra como o risco de viver é ampliado dia a dia e por que é melhor pensar desde cedo na questão para não depender do Estado, se manter no futuro de forma mais tranquila e sem sobrecarregar a família por falta de planejamento.
O que é o Risco Social da Sobrevivência, de forma prática?
Vamos pensar em um casal que tem dois filhos, os mantém na escola privada e ainda conta com um plano de saúde para os dois. Isso é pago, por exemplo, com a receita de duas pessoas, que somam, figurativamente, 10 unidades de salário cada uma. Eles vivem, portanto, com 20 unidades. Só que a Maria ou o João, um dos membros do casal, faleceu prematuramente. A renda mensal dessa família cairá para a metade, e não se conseguirá mais arcar com ensino e saúde privados. Os filhos imediatamente irão para uma escola pública, e o resto das coisas começa a ser reduzido por necessidade. Esse é um dos Riscos Sociais da Sobrevivência, a morte prematura. Parece um fato isolado, mas todos são afetados. A família fica desassistida financeiramente e vai recorrer aos serviços públicos, que, por fim, serão onerados. E quem paga? Toda a sociedade.
Quais são os outros riscos dessa falta de previdência para a sociedade e para uma família?
A invalidez, que é ainda pior, financeiramente falando. A família, nesse caso, além de não passar a ganhar apenas 10 unidades de renda, ainda terá um custo de mais dois, digamos assim, com os cuidados dessa pessoa. A família empobreceu substancialmente. E vamos para outro risco, esse ainda mais comum: você trabalhou, contribuiu com o sistema, chegou aos 65 anos e se aposentou. Ainda terá pela frente uns 15 ou 20 anos, mas seu custo de vida subiu, o plano de saúde aumentou, há maior gasto com remédios e procedimentos médicos. Mesmo que a incidência seja pequena, isso vai aumentar. É natural. No meu próprio caso, minha mãe tem 85 anos, e o plano de saúde dela custa hoje R$ 2,5 mil. Se ela dependesse de salário-mínimo ou mesmo mais que isso, como iria pagar? Não iria. Ela tem problema de saúde, como ocorre com muita gente nessa idade, e precisa de remédios, que também não são baratos. Ela acabaria indo buscar ajuda no serviço público, onerando ainda mais o Estado.
Mas o brasileiro não enfrenta problemas econômicos e a crise, o que dificulta esse planejamento?
É mais do que problema econômico. É uma lógica social. No Japão, já se estimula que eles consumam mais, porque os japoneses só poupam. Ou seja, eles já têm economia para viver e seguem poupando, em vez de consumir. É cultural. O Brasil está no outro oposto. Consome mesmo sem ter poupança e terceiriza para toda a sociedade os problemas que a idade acarretará. E isso em um Estado que já não dá conta de atender com qualidade a população. Se você tem um determinado nível de exigência, não adianta achar que, sem pagar por isso, terá o mesmo atendimento no sistema público. O serviço que o Estado oferece é o mínimo. Se você quiser mais, vai ter que se responsabilizar por isso desde cedo. O que o Estado vai te dar é previdência e saúde básicos. O primeiro modelo de previdência pública, lá de 1901, se chamava Lei dos Pobres. O sistema sempre foi pensado para dar as condições mínimas, e não aquilo que as pessoas gostariam de ter. Se você quiser manter uma renda e um padrão de vida maiores, vai ter que se planejar para isso.
O risco social da sobrevivência seria, então, uma corrosão das condições da renda e das condições físicas ao longo da vida?
Isso faz parte do ciclo natural da vida. Normalmente, ao mesmo tempo em que tuas necessidades vão aumentando, os teus recursos vão diminuir, pela queda na capacidade laboral. Temos a infância, a juventude, a senioridade e a velhice. É ciclo de decrepitude. Conforme você vai vivendo, cumpre-se o ciclo da vida. No fim, é óbvio que você vai morrer. E você não morre, porque chegou a sua hora, salvo um acidente ou algo assim. Tua máquina não para de um hora para outra. O teu organismo vai se desgastando aos poucos e, para mantê-lo, você vai gastar mais. E qual é o papel do seguro e da previdência nisto? Defender o teu futuro e o da tua família. Ou melhor, te dar condições de enfrentar isso da melhor forma possível. É um sistema que te permite acumular renda para quando tua capacidade de trabalho diminuir. Qual a consequência de não pensar nisso? Tu vais depender de alguém: da família ou do Estado.
E como as seguradoras trabalham com essa falta de educação financeira?
As seguradoras e corretoras deveriam fazer mais esse tipo de trabalho de conscientização financeira das pessoas. Temos que trabalhar mais no conceito e menos no produto. Tem que vender mais essa segurança e menos um produto. As pessoas dizem que não guardam, porque não têm como. Mas é o nosso trabalho também mostrar como guardar, mostrar os meios para isso. Na Icatu, temos feito muitas palestras de conscientização dos próprios corretores nesse sentido. Temos 3 milhões de segurados no Sul em capitalização e previdência, o que mostra o quanto isso é possível. A dificuldade é menos financeira e mais de conscientização. Costuma-se dizer que o seguro de vida é caro. Não é. Você pode fazer seguro a partir de R$ 5, R$ 10, R$ 20. O que determina o valor é teu nível de exigência. Costumo dizer que o seguro de vida é uma das coisas mais corretas no mundo. Ele se adapta a qualquer renda, e não vai sair mais caro para a classe A ou E. Todos vão pagar pela renda que estão projetando para o futuro. Agora, uma pessoa que quer viver melhor não poderá pagar R$ 200, porque não terá o que quer. E uma pessoa que tem renda menor, e não precisará de tanto depois, não precisa pensar em um plano de R$ 200. É questão de adequação.
Mas em qual faixa de renda está mais concentrada, hoje, a venda de seguros de vida e planos de previdência?
A primeira linha de corte, na realidade, é a das necessidades fisiológicas, a necessidade que a pessoa tem de comer e de se sustentar. Após essa etapa, ela tem determinada capacidade de fazer escolhas. Não é renda a maior diferenciação entre quem faz seguro e previdência ou não. É a idade. Começa a partir dos 35 aos 40 anos essa atitude, independentemente da renda.
E qual o impacto da carência de previdência e da falta de segurança públicas sobre os negócios e sobre a conscientização das pessoas da necessidade de se precaver desses riscos sociais da sobrevivência?
Com certeza, faz aumentar o pensamento neste sentido. Hoje, temos cerca de 2 mil propostas aprovadas por dia, o que ocorre em um contexto mais nítido de longevidade, principalmente. Até há pouco tempo, a idade média de vida era 50, 60 anos. Agora, é 80, e as pessoas estão vendo isso muito próximo delas. Mas por que não há ciência e planejamento melhor para isso? Porque as pessoas são mais sensíveis ao que sentem e vivenciam diretamente. E só se morre e só se envelhece uma vez.
Por que o brasileiro tem uma visão diferente na questão do seguro de veículos? Neste caso, o consumidor costuma se precaver mais.
Qual a lógica de um seguro de carro? Por que todos fazem seguro de carro? Porque você já teve um roubado, danificado, e vai ser roubado de novo. O consumidor tem um carro de R$ 100 mil, por exemplo, e paga R$ 5 mil ao ano de seguro, por exemplo. Mas não tem um seguro de vida de R$ 25 ao mês, que dará pouco mais de R$ 300 em um ano em caso de morte acidental e dará à tua família R$ 500 mil. Qual a lógica de fazer do carro e não de vida? É que o ser humano aprende pela experiência. E o carro será roubado mais de uma vez, a invalidez e a velhice, não. Por isso que eu digo: não temos que vender um produto, mas lucidez.
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