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- Publicada em 16 de Outubro de 2016 às 19:21

BB e CEF têm juros mais altos que privados

Banco do Brasil apresenta o maior juro no financiamento de veículos

Banco do Brasil apresenta o maior juro no financiamento de veículos


itaci Batista/AE/JC
Bancos públicos foram na contramão da concorrência e ajustaram gradualmente o juro cobrado dos clientes nos últimos meses. O movimento foi suficiente para mudar o ranking do crédito do Banco Central. No passado recente, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF) operavam os juros mais baixos; agora, as duas instituições já cobram algumas das maiores taxas. Entre os cinco grandes, o BB tem o maior juro no financiamento de veículos, e a Caixa opera o segundo maior no rotativo do cartão de crédito.
Bancos públicos foram na contramão da concorrência e ajustaram gradualmente o juro cobrado dos clientes nos últimos meses. O movimento foi suficiente para mudar o ranking do crédito do Banco Central. No passado recente, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF) operavam os juros mais baixos; agora, as duas instituições já cobram algumas das maiores taxas. Entre os cinco grandes, o BB tem o maior juro no financiamento de veículos, e a Caixa opera o segundo maior no rotativo do cartão de crédito.
Após o estouro da crise em 2008, bancos estatais foram protagonistas quando os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff incentivaram o consumo via queda de juros. O plano, porém, mudou. Em 2015 - ainda no governo Dilma -, os dois bancos federais começaram a elevar lentamente os juros em reação à subida da taxa Selic e diante de necessidade de melhorar a estrutura de capital.Com a chegada de Michel Temer ao Palácio do Planalto, o movimento ganhou velocidade. Em maio, o peemedebista indicou Paulo Caffarelli para a presidência do BB e Gilberto Occhi para a Caixa. Sob o novo comando, os dois bancos adotaram o discurso de recompor receitas para recuperar a rentabilidade perdida. Pouco mais de quatro meses com a nova chefia e as instituições já exibem juros bem próximos dos concorrentes. Às vezes, até maiores.
Para o economista Roberto Troster, sócio da Troster & Associados, a mudança da política do BB e CEF é o reconhecimento de que a persistência da ação mais agressiva poderia comprometer o futuro dos bancos estatais. "Essa recomposição acontece porque o governo viu que, se não mudasse, os bancos iriam quebrar. Afinal, precisam de lucro para continuar emprestando."
Um dos símbolos dessa guinada está no crédito para veículos. No fim de 2015, o BB tinha juro médio de 26,5% ao ano, o menor entre os cinco grandes bancos - BB, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander. Com a atual crise no setor automotivo, a demanda despencou e concorrentes reagiram com redução das taxas.
O juro médio do Santander, por exemplo, caiu quase 5 pontos e, atualmente, perto de 24%, é o mais competitivo do grupo, segundo dados do BC de 15 de setembro. Bradesco e Itaú reduziram taxas entre 1 e 2 pontos no mesmo período. Já o BB, na contramão, subiu ligeiramente o juro para 27,2% e, diante da queda dos demais, agora concede o crédito com o maior juro médio. Na Caixa, o custo ficou praticamente estável e atualmente é o terceiro mais caro.
Outro exemplo aparece no crédito rotativo do cartão. No fim de 2015, clientes da Caixa que não quitavam a fatura integral tinham de pagar 350,4% ao ano. Na época, era a menor taxa entre os cinco grandes. Desde então, o número tem subido: 412% em março, 433% em maio, 459% em agosto e 508,2% em 15 de setembro. Com a escalada, a Caixa deixou de ser a mais barata para ocupar o posto de segunda mais cara. O banco federal está apenas atrás do Santander, pratica o maior juro rotativo: 581% ao ano.
Entre as demais linhas, o BB é o segundo mais caro no crédito consignado para aposentados, a Caixa é a segunda mais cara no consignado para empregados de empresas privadas e, no cheque especial, a opção mais barata deixou de ser do BB e passou a ser do Bradesco.
 

Para analistas do setor bancário, situação de instituições públicas era insustentável

Para economistas, o aumento dos juros dos bancos públicos é uma reação esperada ao atual cenário mais desafiador enfrentado por essas instituições. Segundo Erin Celasun, diretora da Fitch Ratings e responsável pela avaliação dos bancos federais, BB e Caixa agem para reforçar a estrutura de capital e, ao mesmo tempo, precisam de mais dinheiro para compensar a crescente despesa com provisões para calotes. "Ainda estamos no início desse processo, e o reposicionamento pode ficar até mais visível", afirmou.
A analista acredita que o movimento do BB e da Caixa deve continuar até que os indicadores de retorno e lucro das duas casas sejam mais parecidos com os dos concorrentes. Para a diretora da agência, há um aumento da pressão sobre a capitalização desses bancos. "Atualmente, está claro que, para sustentar uma base de capital adequada, a rentabilidade dos negócios tem de ser reforçada. Além disso, haverá exigências cada vez mais rígidas de capital", disse.
O analista do setor bancário da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, também acredita que as duas instituições tiveram de contrair a oferta e aumentar provisões contra calote diante do maior risco gerado pela economia em recessão. Essa guinada mostraria que o uso do crédito para alavancar a demanda chegou ao limite. "O modelo com bancos públicos ativistas no crédito já não respondia mais. Pessoas já estavam endividadas e não havia mais espaço. Ao mesmo tempo, a inadimplência começou a crescer."

Caixa Econômica Federal diz que alterou política de juros para garantir resultados

Os bancos públicos reconhecem que modificaram a política de juros. A Caixa disse que o patamar dos juros foi alterado "para garantir o resultado do banco frente ao cenário macroeconômico". Já o Banco do Brasil explica que as taxas praticadas seguem critérios técnicos que consideram o juro básico da economia, o risco de cada operação, a estratégia da casa e a concorrência.
Em nota, a Caixa explicou que "adotou um papel anticíclico para minimizar os efeitos negativos na economia brasileira durante a crise financeira". Depois de 2012, enquanto privados elevaram margens de lucros, o banco diz que "manteve esforços em se manter como o banco das melhores taxas". Desde 2014, porém, a instituição "iniciou processo de ajuste nas suas taxas de juros". "O movimento de recomposição das margens foi necessário para garantir o resultado do banco frente ao cenário macroeconômico", explica a Caixa, ao lembrar que o aumento da taxa Selic também resultou em elevação do juro para manutenção das margens. Apesar desse aumento, o banco nota que permanece "competitivo em todas as modalidades de crédito".
Já o BB informou, em nota, que "as taxas de crédito são definidas por critérios técnicos que consideram, entre outros fatores, as taxas de juros da economia, avaliações de risco, estratégias comerciais e movimentos da concorrência". Em nota, o banco diz que "mantém estratégia de educação financeira e de oferta da melhor linha de crédito". A instituição cita que, apenas em setembro, a instituição realizou mais de 4 milhões de abordagens a clientes para sugerir "linhas de crédito mais baratas em detrimento de outras mais caras, como é o caso do cheque especial e do rotativo do cartão (de crédito)".
Entre os privados, o Santander explica que a taxa de incidência sobre os cartões de crédito varia de acordo com o produto e o benefício oferecido. Sobre o cheque especial, o banco espanhol lembra que a taxa é adequada ao produto da casa que oferece 10 dias sem juros por mês. Já o Itaú esclarece que as taxas praticadas no consignado para empregados de empresas privadas levam em consideração o juro básico da economia, a Selic, hoje em 14,25%. Para os aposentados, o custo é definido pelo INSS. O Bradesco não se pronunciou. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) também não quis falar sobre o tema.