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- Publicada em 27 de Outubro de 2016 às 22:45

As nove vidas do menino estranho

A nona vida de Louis Drax (Record, 238 páginas, R$ 29,90, tradução de Maria Luiza Borges), romance de Liz Jensen, ex-jornalista e escultora inglesa, atualmente escritora em tempo integral e autora de oito romances, está sendo lançado no Brasil ao mesmo tempo em que sua adaptação para as telas de cinema em uma produção estrelada por Jaime Dornan (Cinquenta tons de cinza), Sarah Gadon e Aaron Paul (Breaking bad) chegou ao Festival de Cinema do Rio de Janeiro e aos cinemas dia 20 de outubro.
A nona vida de Louis Drax (Record, 238 páginas, R$ 29,90, tradução de Maria Luiza Borges), romance de Liz Jensen, ex-jornalista e escultora inglesa, atualmente escritora em tempo integral e autora de oito romances, está sendo lançado no Brasil ao mesmo tempo em que sua adaptação para as telas de cinema em uma produção estrelada por Jaime Dornan (Cinquenta tons de cinza), Sarah Gadon e Aaron Paul (Breaking bad) chegou ao Festival de Cinema do Rio de Janeiro e aos cinemas dia 20 de outubro.
A densa e profunda narrativa apresenta Louis Drax, um menino nada comum, como ele mesmo conta já no início. Aos nove anos, já passou por oito situações de quase-morte. Teve paradas respiratórias, caiu nos trilhos do metrô e teve 85% do corpo queimado, além de ter se afogado, se intoxicado gravemente com alimentos e sofrido uma série de doenças.
Dono de uma inteligência incomum, uma esperteza incrível e uma imaginação mórbida, no aniversário de nove anos ele sai para comemorar com os pais num piquenique. Acaba caindo misteriosamente num penhasco. Em coma profundo, será ajudado por um médico especializado em pacientes comatosos, pois o pai simplesmente desapareceu, e a mãe está em estado de choque. O médico Pascal Dannachet, neurologista especializado, é sua única chance de recuperação.
O menino é um desafio para o médico, que se vê arrastado para o universo sombrio de Louis, envolto pelas intrigantes circunstâncias do acidente. Foi mesmo acidente? Quem teria sido o responsável? O pai, como relatou a mãe à polícia? Conseguirá Louis comunicar-se com o médico? O doutor ouve as histórias do menino, a relação com os pais e vai usar toda sua experiência de neurologista telepata para penetrar nos mistérios da mente do garoto.
Como se vê, a escritora, que já foi indicada três vezes para o prêmio Orange Prize e que integra a Royal Society of Literature e ministra aulas de escrita criativa, apresenta uma história com fortes ingredientes, trama poderosa e personagens com alto poder de sedução. Sem deixar de ser humano, o romance é sombrio, provocador e os emaranhados de sua narrativa arrebatam os leitores.
"Pergunte só à minha mãe como é ser mãe de um menino que sofre acidentes o tempo todo, e ela vai te contar. Não tem graça nenhuma. Ela não consegue dormir, imaginando onde isso vai parar. Vê perigo em toda parte e pensa "tenho que protegê-lo, tenho que protegê-lo, mas às vezes não dá", é um trecho do romance, uma fala do menino estranho, que, com menos de 10 anos, já sobreviveu nove vezes.

lançamentos

  • A colecionadora de corujinhas (Bestiário, 118 páginas), do consagrado escritor, poeta e médico José Eduardo Degrazia, com prefácio do jornalista e escritor Eduardo Jablonski e apresentação de Alcy Cheuiche, traz minicontos poéticos, com situações, personagens e cenários do cotidiano.
  • Falar o que seja é inútil ou sobre desconsiderações (Circuito, 112 páginas), do professor, escritor e editor Carlos Alberto Gianotti, tem ensaios sobre diferentes vieses do vazio da vida contemporânea de indivíduos fartados, incapazes sequer de apreender sua fartação.
  • Paulo Freire e a pesquisa em educação (Sulina, 302 páginas, R$ 50,00) com organização da professora Bruna Sola da Silva Ramos, traz textos dela e de outros educadores sobre as contribuições de Paulo Freire para a pesquisa em educação.

Feira do Livro, Dylan, best-sellers & cia

Não, não vou chamar a 62ª Feira do Livro de "Feira do Livro de Bolso" por conta de alguns poucos encolhimentos, nem dizer que ela é a mesma coisa cada vez melhor, por conta das realidades e das fantasias que estão e sempre devem estar intimamente associadas com o querido evento. Prefiro repetir que ela é das poucas eternidades e certezas boas que ainda temos. Pagar imposto, morrer e ver o Inter campeão de novo são as outras certezas...
Ainda estamos curtindo as letras do Bob Dylan jogadas ao vento mundial pela Academia Sueca, que não sei porque segue não premiando os brasileiros. Drummond de Andrade é o Nobel do povo, do julgamento do tempo e dos leitores, que é o que mais interessa, pronto!
Será que o Dylan vai lá buscar a medalha e a grana preta, vai dar uma de Tim Maia ou mandar um bilhete tipo Jean Paul Sartre, recusando as honrarias? Será que essa demora toda para se manifestar é marketing? Vamos ver, vamos ver. Estou escrevendo estas linhas na terça-feira passada. Se o Dylan não aceitar o Nobel, acho que a Academia até vai gostar, vai repercutir ainda mais a escolha dos suecos... Se o Dylan aceitar, poderíamos enviar o Suplicy (pai) para cantar com ele Blowing in the wind. Como coral ou "backing vocals" sugiro Philip Roth, Mia Couto, Ferreira Gullar, Elena Ferrante, Haruki Murakami, Karl Ove Knausgard, Amos Oz, Lobo Antunes e outros que meus queridos leitores indicarem.
Há quem diga que as pessoas andam lendo pouco, que ficam lendo só partes dos livros, "trecheando", acumulando livros na mesa de cabeceira, lendo vários ao mesmo tempo, lendo sobre eles na web e tal. Claro que a leitura e o livro não morreram. Se for assim, o velório está bem concorrido. Muita gente ainda curte a indispensável e incomparável leitura silenciosa e solitária das páginas escritas dos livros. Elas estimulam a inteligência, a fantasia e os sentidos de uma forma única. Os meios eletrônicos podem ser fascinantes, mas não se comparam à leitura de um livro impresso.
Mas, olha só, há dias saiu, nos Estados Unidos, um livro, The Best-seller Code, coisa de norte-americano legítimo. Dois pesquisadores, em quatro anos, examinaram 20 mil obras de ficção para desenvolver um algoritmo que pudesse identificar livros que se tornariam "best-sellers". É um velho sonho dos editores. Apuraram 2.799 características de livros mais vendidos.
Heroínas jovens e fortes, descrever intimidades mas não sexo explícito, evitar pontos de exclamação, mostrar mais cães do que gatos, falar de casamento, morte, funeral, impostos, armas, escolas, crianças, e ter estruturas em três atos - apresentação, conflito e final -, são algumas das caraterísticas. Ritmo ágil, poucos temas, palavras vagas e finais tristes estão nas preferências. Sexo, drogas e rock'n'roll estão em baixa nos Estados Unidos em termos de mais vendidos.
Como se vê, coisas previsíveis e gostos duvidosos apareceram. Em países desenvolvidos, os dados são usados e as editoras faturam, entregando o que o público leitor de best-seller quer.

a propósito...

Faço resenhas de livros há mais de 40 anos. Respeito o gosto de todos e as leis de mercado, claro. Não tenho preconceitos e, como vocês sabem, com democracia e pluralidade, de olho na qualidade mínima e no bom senso, procuro informar os leitores da melhor maneira. Mas confesso que pesquisar tanto o gosto dos leitores e processar tanto a literatura até respeito, mas não acho bom. Prefiro best-sellers que tenham brotado da liberdade criativa, do acaso, da sintonia do autor com seu tempo e seus contemporâneos, da necessidade artística de expressão. Best-sellers como Dom Quixote, O velho e o mar, Memórias póstumas de Brás Cubas, Vidas secas e outros...