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- Publicada em 19 de Outubro de 2016 às 13:07

O fantástico antes do fantástico

É na infância, com a leitura de contos de fadas ou de mitos, que geralmente começa o nosso fascínio pela literatura fantástica. O volume Antologia Fantástica da Literatura Antiga (Ateliê Editorial, 264 páginas, R$ 65,00), organizado pelo diplomata e escritor Marcelo Cid, contempla trechos relativamente curtos que podem ser entendidos como literatura fantástica, um gênero que só passa a ter esse nome no século XX, mas é encontrado ao longo das narrativas históricas ou poéticas, ou mesmo em obras filosóficas de séculos passados.
É na infância, com a leitura de contos de fadas ou de mitos, que geralmente começa o nosso fascínio pela literatura fantástica. O volume Antologia Fantástica da Literatura Antiga (Ateliê Editorial, 264 páginas, R$ 65,00), organizado pelo diplomata e escritor Marcelo Cid, contempla trechos relativamente curtos que podem ser entendidos como literatura fantástica, um gênero que só passa a ter esse nome no século XX, mas é encontrado ao longo das narrativas históricas ou poéticas, ou mesmo em obras filosóficas de séculos passados.
A antologia reúne cerca de 300 histórias provenientes da antiguidade greco-latina num arco de tempo que começa no século VIII a.C., com excertos de Homero, e se estende até o século VI d.C., com textos poéticos mas também obras de Filosofia, História, Teologia e Medicina (quem diria?), são narrativas breves, dotadas não só de algum evento extraordinário, mas também de certa incômoda estranheza, que só faz aguçar a curiosidade dos leitores.
"O fantástico em literatura tem certa dose de pathos, ausente no maravilhoso. Remete ao insólito, ao onírico, ao inconsistente, e funciona especialmente bem quando o autor diminui o estranhamento do que narra e aumenta sua credibilidade ou sua conexão emocional com o leitor, por meio de artifícios que este logo aprende a reconhecer", explica o organizador Cid.
Quem tiver predileção pelo gênero fantástico se verá brindado não com poucas histórias do seu gosto, sem o trabalho de encontrá-las dispersas entre outras de gênero diverso ou perdidas em livros inalcançáveis. Como anfitriões educados, elas nos convidam gentilmente à leitura, mas aos convidados é difícil parar de ler e ir embora.
O certo é que, mesmo hoje, em nossa civilização "pós-moderna", tão tecnológica e eletrônica, com tantas facilidades de comunicação, ainda queremos ler o que não podemos ver, queremos aquelas antigas histórias contadas à beira de uma fogueira, sobre deuses, monstros, coisas mágicas e, como os leitores não têm tempo de garimpar as pepitas em livros espalhados por aí, Marcelo Cid, durante anos, fez esse trabalho para eles. Todo leitor é um aventureiro, é alguém que deseja ser seduzido. Os leitores vão reconhecer, nesta antologia, personagens que conheceram em obras modernas. Tempos e histórias se misturam. Para quem lê, como se sabe, a história da literatura é a história de suas leituras.
Portanto, na antologia, os textos que misturam sonho com realidade mostram que Jorge Luís Borges tinha razão: "cada escritor crea sus precursores", ou seja, os leitores são livres.

lançamentos

Todos querem ser Mujica (Diadorim, 160 páginas), do consagrado jornalista Moisés Mendes, com apresentações de Luis Fernando Verissimo e Denise Nunes, traz crônicas bem escritas e posições claras de quem sempre disse o que pensa e sente sobre vários temas atuais, especialmente política brasileira.
A força do tempo - Histórias de um repórter fotográfico brasileiro (Libretos, 182 páginas), de Kadão Chaves, um dos maiores profissionais do fotojornalismo no Brasil, traz centenas de fotos que mostram sua paixão pelo registro da história brasileira. Sua vida e suas aventuras fotojornalísticas são uma coisa só, em mais de 40 anos de trabalho.
O que cabe em um abraço (L&PM Editores, 214 páginas), novo livro de crônicas do médico, professor e escritor J.J.Camargo, traz histórias, reflexões, lembranças e anedotas que vão além de relações entre médicos e pacientes. Mostram a natureza humana e que é melhor ser feliz hoje que ficar esperando o amanhã.

Cíntia, a madrinha

O anúncio de Cíntia Moscovich como patrona da 62ª Feira do Livro de Porto Alegre brotou natural e vibrante como as flores dos jacarandás deste início de primavera.
Explico a escolha do título aí de cima. Logo que soube do anúncio, lembrei imediatamente de 1995, quando o querido e saudoso Caio Fernando Abreu foi patrono do evento. Júlio Zanotta Vieira era o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro à época (ele o foi de 1994 a 1997). Júlio - lembram-se? - foi o responsável pela introdução da cobertura de plástico e tantas outras novidades, que estão até hoje incorporadas ao evento. A feira tornou-se outra depois de suas gestões. A festa conta, há décadas, com os incansáveis e competentes Jussara Rodrigues, Sônia Zanchetta, Gerson Souza e tantos outros funcionários e colaboradores que desejo que se sintam citados. Se fosse nominar todos, precisava de todo o jornal. Hoje, o brilhante e moderno Marco Antônio Cena Lopes está no timão da Câmara e inovou com um programa de televisão sobre a feira, o TV Feira do Livro.
Mas voltando aos queridos Caio e Cíntia. O Caio disse, à época, que se sentia mais padrinho do que patrono da Feira. Pois foi o que eu senti quando ouvi o nome da Cíntia como patrona. Ela é nossa madrinha, nossa dinda da feira, por sua alegria, sua informalidade, seu bom humor e seu carinho com a literatura, os livros, os leitores, os escritores, os editores, os agentes , os distribuidores, os livreiros, os jornalistas e com as pessoas em geral. Não é por acaso que ela tem origem no Povo do Livro.
Jornalista, escritora premiadíssima, ministrante de oficinas, mestra em literatura, cronista, desde O reino das cebolas (1996) até Essa coisa brilhante que é a chuva (2012 - Prêmio Portugal Telecom), Cíntia - que já não precisa usar o sobrenome, mesmo caso de Erico, Dyonélio, Lya, Moacyr, Josué, etc - vai abençoar e dar um upgrade esportivo, alegre e bem-humorado para nossa feira, além, é claro e principalmente, de ser uma patrona altamente consistente do ponto de vista literário e jornalístico, como já disse antes. A feira e nós vamos ganhar muito com Cíntia. Tomara que ela também ganhe muito com a experiência.
Peço licença para fazer justiça e dizer que nossa madrinha tem essa energia, essa alegria e esse pique todo, porque, ao seu lado, está o fiel escudeiro e companheiro de todos os dias e noites, o escritor, músico e gatólogo Luis Paulo Faccioli, que tomo a liberdade de indicar como padrinho honorário de nossa feira. Como eu sou de Bento e ele é de Caxias, sempre chamo ele de "querrrrrrrrrrrrrridooooooo". Cosa nostra, agora revelada em público.
Nem vou repetir que o livro é uma das maiores invenções da humanidade, que é um objeto de design incomparável, que o livro impresso segue impávido, que a leitura silenciosa e solitária de um livro é uma experiência única para a fantasia, a inteligência, a liberdade e viajar pelos caminhos do infinito.
 

a propósito...

Desculpa, Cíntia, se o texto não foi exclusivamente sobre ti e tua bela e já grande obra. Como és a madrinha e como te conheço há décadas (não muitas, somos piás, ainda), sei que queres bem e abençoas, como eu, os livros, as pessoas, os leitores e essa galera do livro, que pode não ser tão grande nem tão rica ou poderosa quanto a gente gostaria, mas que tem qualidade, importância e eternidade, que é o que interessa. Gente fina, elegante, sincera e do bem. Uma pessoa, um livro, é quase sempre paz e amor. Ótima Feira, ótimo amadrinhamento, Cíntia. Deus nos abençoe!