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Ferrovia

- Publicada em 16 de Outubro de 2016 às 21:41

Transnordestina, após 10 anos, ainda está na metade

Projetada para operar em 2010, obra não será concluída antes de 2020

Projetada para operar em 2010, obra não será concluída antes de 2020


ANTF/DIVULGAÇÃO/JC
Controlada pela siderúrgica CSN, a ferrovia Transnordestina, uma das grandes promessas do governo Lula, tem sido bancada basicamente por recursos federais. Até agora, 79% dos R$ 6,3 bilhões investidos na obra - que está seis anos atrasada e só concluiu metade do traçado - saíram dos cofres de órgãos públicos. A CSN colocou R$ 1,3 bilhão, metade financiada pelo Bndes.
Controlada pela siderúrgica CSN, a ferrovia Transnordestina, uma das grandes promessas do governo Lula, tem sido bancada basicamente por recursos federais. Até agora, 79% dos R$ 6,3 bilhões investidos na obra - que está seis anos atrasada e só concluiu metade do traçado - saíram dos cofres de órgãos públicos. A CSN colocou R$ 1,3 bilhão, metade financiada pelo Bndes.
Na estrutura societária, o poder público detém 50,98% do capital total e a siderúrgica, 49,02%. Pelas regras do contrato, apesar dessa equação, o controle da ferrovia continua nas mãos da empresa de Benjamin Steinbruch. "É uma obra pública transvestida de concessão", diz o presidente da consultoria InterB, Claudio Frischtak.
O problema é que, em tempos de ajuste fiscal, o governo tem revisado uma série de práticas adotadas até agora. Nos últimos dias, além de limitar novos aportes no empreendimento - que deveria ligar a cidade de Eliseu Martins, no interior do Piauí, aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco -, já levantou a hipótese de intervenção na ferrovia, uma ameaça também feita no início do governo de Dilma Rousseff.
O mal-estar no governo se deve à sequência de cronogramas frustrados e à constante necessidade de financiamento. Há 10 anos em obras, a Transnordestina está na metade e com o orçamento estourado. Os primeiros estudos apontavam que a obra girava em torno de R$ 8 bilhões. Mas o governo pediu mudanças no projeto e reduziu o valor para R$ 4,5 bilhões.
Em 2012, o valor já estava em R$ 5,4 bilhões, e subiu para R$ 7,5 bilhões depois de uma série de negociações entre os acionistas. Apesar do rearranjo feito em 2012, que elevou o custo da obra, o novo orçamento não foi suficiente para concluir a ferrovia, que tem 1.753 quilômetros. Para executivos ligados ao projeto, mesmo na época da renegociação, já se sabia que o projeto beirava os R$ 10 bilhões.
O entrave atual gira em torno da liberação de R$ 300 milhões pelo Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), que detém 0,4% de participação no projeto. Em setembro, a Transnordestina enviou uma carta à estatal Valec, sócia na ferrovia com 41%, para iniciarem a aprovação de mudanças na estrutura de capital da empresa. Para receber o valor do Finor, seria necessário converter ações preferenciais (sem direito a voto) da Valec em ordinárias (com direito a voto).
Em resposta à Transnordestina, a estatal afirmou que não poderia autorizar a medida sem a aprovação dos ministérios dos Transportes e da Integração Nacional. Além disso, afirma que não foi informada do aporte de R$ 300 milhões pelo Finor. Na CSN, a informação é de que esses recursos já estavam previstos e que os aportes atrasados, prejudicam o andamento das obras. Projetada para iniciar operação em 2010, a ferrovia não ficará pronta antes de 2020.
O bloco de acionistas públicos é formado por Bndes, BndesPar, Valec, Finame e Finor. Pelos dados apresentados pela Valec, até agora, apenas 31,9% do volume acordado em 2012 foi liberado pelo Finor e 57% pelo Bndes. Em compensação, o volume liberado pela Valec aumentou 489%. "O problema de ter uma obra pública em forma de concessão é que fica difícil a fiscalização para garantir que está sendo tocada sob os melhores métodos de engenharia e custos ideais. Afinal, o dinheiro é público", diz Frischtak.
Segundo ele, em qualquer lugar do mundo, ferrovias são construídas com dinheiro público. Mas não nesse modelo. Fontes afirmam que, embora o controle esteja com a CSN, o governo federal tem um forte poder político dentro da empresa. Para o ex-diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) Rodrigo Vilaça, apesar de todo imbróglio envolvendo a obra, o governo precisa tomar uma medida que permita seu término. "Se a opção for um novo sócio, é necessário um cronograma fiel do projeto, pois nenhum investidor estrangeiro vai querer entrar no empreendimento na situação atual."

Viabilidade técnica do projeto foi questionada desde 2003

Desde o início dos estudos para construção da ferrovia Transnordestina, os modelos indicavam que o projeto não tinha viabilidade econômica no curto e médio prazos. Na época, 2003, a principal aposta era o minério de ferro e o agronegócio. Só essas cargas, no entanto, não justificavam a obra. A expectativa era de que, com o desenvolvimento da região, haveria um crescimento das cargas. Hoje, com o preço do minério em baixa, o cenário piorou ainda mais.
Outra falha que justifica o aumento do valor da obra foi a falta de um projeto executivo. "Numa obra desse tamanho, um solo mais duro ou com mais água influencia sensivelmente a parte civil", diz um executivo que prefere não se identificar. Além disso, o fato de passar por 80 cidades em três estados diferentes dificultou os processos burocráticos, como a desapropriação de área.
Só em 2006, quando as obras foram iniciadas, é que se teve a dimensão do trabalho que a empresa teria pela frente. A partir daí, a CSN viu que a necessidade de dinheiro era bem maior do que a prevista inicialmente e que precisava haver um rearranjo acionário para aumentar os aportes. Ao transferir o projeto para a CSN, a administração federal prometeu crédito de bancos e órgãos públicos. Por esse motivo, a revisão do orçamento, pleiteada desde 2011, dependia do aval do governo. Na ocasião, todos os sócios decidiram aumentar o aporte no projeto até os R$ 7,5 bilhões, embora o orçamento já estivesse perto dos R$ 10 bilhões.
Mas os problemas não pararam por aí. Após resolver a questão orçamentária de curto prazo, a Transnordestina entrou numa briga com a Odebrecht, principal empreiteira da obra. Apesar dos erros e problemas, especialistas afirmam que, no atual estágio, o melhor que o governo tem a fazer é concluir o projeto, ainda que seja obrigado a alongar ainda mais o cronograma de operação.