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habitação

- Publicada em 26 de Setembro de 2016 às 20:03

Governo corta uso do FGTS no Minha Casa

Ministério das Cidades afirma que planejamento de contratações de recursos se mantém neste ano

Ministério das Cidades afirma que planejamento de contratações de recursos se mantém neste ano


FERNANDO FRAZÃO/ABR/JC
O governo Michel Temer atendeu a mais uma orientação do Tribunal de Contas da União (TCU) no sentido de blindar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de novas pedaladas com recursos destinados a bancar o Minha Casa Minha Vida. Com a decisão, o Tesouro Nacional terá um controle maior sobre a liberação dos recursos do fundo no programa.
O governo Michel Temer atendeu a mais uma orientação do Tribunal de Contas da União (TCU) no sentido de blindar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de novas pedaladas com recursos destinados a bancar o Minha Casa Minha Vida. Com a decisão, o Tesouro Nacional terá um controle maior sobre a liberação dos recursos do fundo no programa.
A prática condenada pelo tribunal consiste na dívida que o governo acumulou com o FGTS referente aos 10% da parcela do Tesouro Nacional nos subsídios dos financiamentos da faixa 2 do programa de habitação popular - o FGTS é responsável pelos outros 90%. Nos últimos anos, porém, o fundo pagou a totalidade dos "descontos" para cobrar da União depois, com a promessa de que os recursos seriam liberados.
Com a crise das finanças públicas, a dívida com o fundo foi se acumulando nos últimos anos e chegou a R$ 9 bilhões no fim de 2015. Depois de a pedalada ter sido questionada pelo TCU e vista como operação de crédito, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff quitou, no final do ano passado, em uma única parcela, a dívida.
Com uma Instrução Normativa (IN) publicada ontem, assinada pelo ministro das Cidades, Bruno Araújo, o governo determinou que os recursos do FGTS só poderão ser usados nos financiamentos da faixa 2 (para famílias com renda de até R$ 3,6 mil por mês) se houver orçamento correspondente para bancar os 10% da parte do Tesouro. "É uma trava, mas isso não significa que o Tesouro vai pagar menos que o previsto no orçamento", disse uma fonte do Ministério da Fazenda. No ano passado, o TCU considerou que o governo violou a Lei de Responsabilidade Fiscal ao atrasar o repasse de valores ao FGTS e a bancos públicos, referentes ao pagamento de benefícios.
Na instrução normativa, o Ministério das Cidades também diz que precisa melhorar a administração das rubricas orçamentárias da pasta. O ministério informa ainda que cabe à Secretaria Executiva do órgão avaliar a conveniência e a oportunidade de fazer os registros no orçamento, bem como adotar providências para a contratação de operação de crédito interno que permita quitar passivos da União referentes ao Programa Minha Casa Minha Vida, provenientes de utilização de recursos do FGTS.
O Ministério das Cidades informou, em nota, que não existe qualquer tipo de alteração no planejamento e no ritmo de contratações do programa. A reportagem apurou que, para este ano, os recursos destinados às contratações do faixa 2 são de R$ 8,9 bilhões do FGTS e R$ 890 milhões do Orçamento Geral da União (OGU).
A IN é a segunda medida do governo Temer para corrigir normas que abriram caminho para as pedaladas com recursos do FGTS. A correção ocorre dois anos depois de esses atrasos a bancos públicos e ao FGTS durante a gestão de Dilma Rousseff serem descobertos e investigados pelo órgão fiscalizador.
Em agosto deste ano, o Ministério da Fazenda, sob o comando de Henrique Meirelles, publicou no Diário Oficial da União portaria que permitiu a transferência direta dos recursos da multa adicional de 10% por demissão sem justa causa e a remuneração de 0,5% sobre a remuneração dos recursos do FGTS para a Caixa, agente operador do fundo.
Com a portaria de agosto, o dinheiro da multa voltou a ficar sob a responsabilidade da Caixa, sem ter que circular na Conta Única da União. O banco estatal ficou sendo responsável pelo registro contábil de receitas e despesas do fundo.

STJ suspende ações que tentam aumentar a correção do fundo

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou ontem a suspensão temporária de todos os processos que discutam a possibilidade de a TR (Taxa Referencial) ser substituída como índice de correção monetária dos saldos das contas vinculadas ao FGTS. A suspensão vale até que a Primeira Seção do STJ julgue um recurso especial apresentado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de Santa Catarina (Sintaema), que alega ilegalidade no uso da TR pela Caixa Econômica Federal para correção do FGTS dos trabalhadores representados pela entidade. Pelo menos 29,4 mil ações que tratam do assunto já estão suspensas, segundo STJ.
O novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor em março deste ano, determina que, quando houver um grande número de recursos especiais com teses idênticas, os méritos podem ser julgados por amostragem. Isto é, são selecionados alguns recursos para serem julgados, enquanto todos os outros têm a tramitação suspensa, e as decisões publicadas são igualmente aplicadas aos demais. O ministro Benedito Gonçalves, responsável pela suspensão, estabeleceu prazo de 30 dias para que entidades e órgãos interessados no julgamento se manifestem.
Segundo o Sintaema, o parâmetro fixado para a correção monetária, estabelecido pela Lei nº 8.177/91, não promove efetiva atualização monetária desde 1999, o que distanciaria progressivamente os saldos aplicados no fundo dos índices oficiais de inflação.
O sindicato quer que a TR seja substituída por índices como o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) ou o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) - o índice oficial de inflação do País. Em agosto, o INPC foi a 0,31%, e o IPCA, a 0,44%, enquanto a TR ficou em 0,25%.

Maiores bancos privados disputam FGTS com a Caixa

Ministério das Cidades afirma que planejamento de contratações de recursos se mantém neste ano

Ministério das Cidades afirma que planejamento de contratações de recursos se mantém neste ano


FERNANDO FRAZÃO/ABR/JC
Grandes bancos privados começam a se movimentar para defender o fim do monopólio da Caixa Econômica Federal na gestão dos mais de R$ 450 bilhões do FGTS. A principal bandeira é a promessa de maior rentabilidade para o trabalhador, mas os argumentos passam até pelo tema fiscal com a chance de geração de receita extra para o Tesouro.
Operadora única prevista em lei, a Caixa reage e prepara discurso de que eventuais mudanças podem resultar em "desequilíbrios econômicos", como crédito mais caro para a casa própria ou redução de recursos para habitação popular e saneamento básico.
O movimento que começa a ganhar corpo entre os concorrentes da Caixa tenta aproveitar a agenda reformista do governo Michel Temer para tentar emplacar uma profunda mudança na gestão do FGTS: acabar com a exclusividade da Caixa. Desde 1990, o banco federal é o único administrador do dinheiro depositado mensalmente em nome de todos os trabalhadores com carteira assinada. No fim de 2015, eram mais de 235 milhões de contas e patrimônio de R$ 457,6 bilhões.
Concorrentes, especialmente os privados, reclamam que o FGTS representa uma enorme fonte de dinheiro com baixíssimo custo para a Caixa, o que distorceria o funcionamento do mercado bancário. Isso aconteceria porque o Fundo representa uma parcela relevante do chamado "funding" do banco estatal. Para efeito de comparação: o FGTS já representa 70% do total depositado nas cadernetas de poupança no País. "É o dinheiro mais barato disponível no Brasil e canalizado exclusivamente para a Caixa", diz o executivo de um dos grandes bancos privados.
Segundo o executivo, há apoio para a mudança entre os cinco maiores bancos do País. Ele diz que o "placar mostra 4 a 1" a favor do fim do monopólio da Caixa. Entre os maiores nomes estão Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa. A pesquisadora da Universidade de São Paulo e consultora em financiamento habitacional Cláudia Magalhães Eloy diz que a mudança do sistema poderia ajudar a aumentar a oferta de crédito imobiliário no longo prazo, mas é preciso ter cautela para não haver distorção do papel do Fundo.