Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 16 de Setembro de 2016 às 00:14

Matando saudades com divertimento

O surgimento da ópera cômica, a ópera buffa dos italianos, foi uma contraposição ao estilo sério. A ópera buffa tinha enredos localizados nas diferentes regiões da atual Itália e se valia de uma linguagem mais popular, quando não de falares locais, enquanto a ópera séria trabalhava com o idioma mais elevado. Gaetano Donizetti foi um destes tantos compositores que se dedicaram ao gênero, realizando mais de meia centena de obras. Sua facilidade com a melodia, que enleva e seduz, trazendo simpatia ao enredo, foi o segredo de seu sucesso, como evidencia Don Pasquale, obra de maturidade.
O surgimento da ópera cômica, a ópera buffa dos italianos, foi uma contraposição ao estilo sério. A ópera buffa tinha enredos localizados nas diferentes regiões da atual Itália e se valia de uma linguagem mais popular, quando não de falares locais, enquanto a ópera séria trabalhava com o idioma mais elevado. Gaetano Donizetti foi um destes tantos compositores que se dedicaram ao gênero, realizando mais de meia centena de obras. Sua facilidade com a melodia, que enleva e seduz, trazendo simpatia ao enredo, foi o segredo de seu sucesso, como evidencia Don Pasquale, obra de maturidade.
O conceito da ópera buffa aplica ao espetáculo musical os princípios de Aristóteles dirigidos ao teatro: a tragédia trata de temas graves e envolve a aristocracia, enquanto a comédia trabalha com personagens menores, e os diminui ainda mais. No caso da ópera buffa, havia, ainda, a herança da comedia dell'arte, que trazia a tradição de tipos fixos, como o advogado, o médico, a mocinha, o galã, o velho cornudo, e assim por diante. Pergolesi, contudo, não se vale apenas desta raiz popular, quanto das lições que o dramaturgo Carlo Goldoni havia trazido à cena, elevando a tradição da comedia dell'arte, com algumas profundidades na psicologia dos tipos, transformando, ao menos os principais deles, em personagens contraditórios e divididos.
O resultado bem se pode avaliar em Don Pasquale, que tem uma trama até ingênua, mas relativamente corajosa de ser encenada, para a época. Um velho rico e relativamente simpático, Don Pasquale, teima em querer casar o sobrinho com uma jovem rica que ele escolheu. Diante da recusa do jovem, que ama uma moçoila pobre, ele se decide a casar ele mesmo com alguém que lhe venha a dar uma prole a quem deixará a herança. Seu médico e confidente, Dr. Malatesta (oriundo da comedia dell'arte) engendra um modo de ajudar aos jovens. A bela Norina se transforma em Sofrônia e o pimpão Pasquale (que na versão local tornou-se, significativamente, Pasquale Corneto) sofre toda a traição diante do público, evidenciando seu ridículo.
A encenação da ópera, produzida pela Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, recebeu versão pocket bem-resolvida. No pequeno palco do Theatro São Pedro, a orquestra ocupa o proscênio, construindo-se um tablado ao fundo, alteado, de modo que a cena ganha destaque e visibilidade. Os cantores/atores perambulam por entre os músicos e chegam até a boca de cena. Quebra-se, assim, a ilusão da quarta parede e com uma sugestão de que o público assiste à gravação de uma ópera pela televisão, pode-se criar uma metalinguagem em torno do espetáculo. A direção de Camila Bauer é bem-pensada, mas ficou mal realizada: ela mesma em cena, enquanto a diretora das filmagens, imiscui-se demasiadamente com os cantores, bem como sua equipe, com câmeras e, sobretudo, aquela maldita claquete que dá início à filmagem das cenas, que irrita.
O elenco, contudo, é de primeiríssima: o baixo Saulo Javan, como o velho Don Pasquale, é primoroso; Norina é vivida pela jovem Carla Domingues, com convicção e simpatia; Giovanni Tristacci, o Ernesto infeliz, é um tenor de tonalidade extremamente clara e de uma simpatia imensa; Douglas Hahn vive um Malatesta muito divertido e, de certo modo, leva a ação dramática; até Lucas Alves, como o tabelião, com rapidíssima passagem no segundo ato, evidencia uma voz melodiosa, a ser mais aproveitada no futuro. A regência de Evandro Matté, titular da Ospa, é comedida, como se espera, mas não se furta a participar da trama.
Figurinos de época de bons efeitos, de Daniel Lion, e bons achados - no espírito da Olimpíada, simples e inventivos - do veterano Élcio Rossini, mais a iluminação objetiva de Luiz Acosta, garantiram um espetáculo sem pretensões, mas bem acabado e respeitoso para com o público. Nas conversas de banheiro, todos louvavam a iniciativa e torciam para que ela tivesse prosseguimento. O que se pode dizer, resumidamente, é que foi divertido, alegre e recompensador ir ao teatro para assistir a este espetáculo. Que bom, a ópera ainda vive, inclusive entre nós.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO