Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 08 de Setembro de 2016 às 23:25

Poético e inteligente

O Rio Orinoco nasce e percorre boa parte do território da Venezuela. Indiretamente faz parte da formação do rio Solimões que, por seu lado, chega, depois, ao Amazonas. Assim, torna-se o Orinoco um rio internacional, mas, ao mesmo tempo, um rio de integração, porque une diferentes regiões, povos e civilizações. Foi este rio Orinoco, longínquo e, consequentemente, um pouco mítico, que o dramaturgo mexicano Emilio Carballido elegeu como espaço de sua peça Rainhas do Orinoco. Falecido em 2008, Carballido iniciou sua obra dramática em 1950, escrevendo copiosamente. Mais que isso, ele participou de uma geração que deu voz e identidade ao México, culturalmente falando, ao valorizar sobretudo a cultura popular do país. A iniciativa da atriz Walderez de Barros, em trazer a montagem de um texto de Carballido para o Brasil, deve ser comemorada e nós, espectadores, devemos lhe ser profundamente agradecidos. Acertou ela nesta decisão e, mais: acertou também ao escolher o diretor Gabriel Villela para conduzir este espetáculo. Villela, que tem enorme sensibilidade para este tipo de espetáculo, alcançou uma perfeita simbiose entre a cultura popular mexicana e a cultura popular brasileira que é muito difícil de ser concretizada, ainda que possamos reconhecer que vários elementos de tais culturas sejam semelhantes, certamente o principal dos quais seja a emocionalidade lacrimejante.
O Rio Orinoco nasce e percorre boa parte do território da Venezuela. Indiretamente faz parte da formação do rio Solimões que, por seu lado, chega, depois, ao Amazonas. Assim, torna-se o Orinoco um rio internacional, mas, ao mesmo tempo, um rio de integração, porque une diferentes regiões, povos e civilizações. Foi este rio Orinoco, longínquo e, consequentemente, um pouco mítico, que o dramaturgo mexicano Emilio Carballido elegeu como espaço de sua peça Rainhas do Orinoco. Falecido em 2008, Carballido iniciou sua obra dramática em 1950, escrevendo copiosamente. Mais que isso, ele participou de uma geração que deu voz e identidade ao México, culturalmente falando, ao valorizar sobretudo a cultura popular do país. A iniciativa da atriz Walderez de Barros, em trazer a montagem de um texto de Carballido para o Brasil, deve ser comemorada e nós, espectadores, devemos lhe ser profundamente agradecidos. Acertou ela nesta decisão e, mais: acertou também ao escolher o diretor Gabriel Villela para conduzir este espetáculo. Villela, que tem enorme sensibilidade para este tipo de espetáculo, alcançou uma perfeita simbiose entre a cultura popular mexicana e a cultura popular brasileira que é muito difícil de ser concretizada, ainda que possamos reconhecer que vários elementos de tais culturas sejam semelhantes, certamente o principal dos quais seja a emocionalidade lacrimejante.
Isso ficou evidente desde o início do espetáculo, por dois aspectos: de um lado, o exuberante cenário, marcado pelo telão que caracteriza o palco com a cortina multicolorida e, depois, os figurinos e o cenário propriamente dito, quando a cortina se abre. De outro, a trilha sonora, parte dela certamente indicada pelo dramaturgo, e outra parte escolhida pelo diretor do espetáculo, na medida em que substituiu composições mexicanas menos conhecidas no Brasil, por outras populares em nosso País e de origem brasileira: todas elas - e é isso que importa - foram imediatamente reconhecidas e acompanhadas pelo público presente, com evidente prazer.
O espetáculo tem um ritmo relativamente lento, que acompanha a própria ação dramática: num barco, perdido no meio da correnteza do Orinoco, duas artistas de cabaré acordam vendo-se abandonadas pela tripulação. Uma delas, a mais velha, se lembra de que batiam e forçavam a porta de seus camarotes. A outra tudo desconhece. Na cena, são acompanhadas por um músico que mais parece um "fantasma" de músico - situação que se esclarecerá ao final do espetáculo. O drama gira em torno da viagem: as duas assinaram um contrato que as envia para um distante local com poços petrolíferos (lembrar que a Venezuela é produtora de petróleo). No final do primeiro ato, o barco, desgovernado, parece que vai chocar-se contra as margens do rio. No segundo ato, sem nenhum registro explícito, troca-se o caráter aparentemente realista da encenação pela metáfora. Neste sentido, a sequência final, em que as duas mulheres se enfeitam mutuamente para a morte, é uma das cenas mais bonitas a que já assisti em teatro, ao longo dos anos. É sensível, intimista, profundamente poética e tocante.
O elenco é composto por Walderez de Barros - admirável atriz, companheira do dramaturgo Plínio Marcos ao longo de muitos anos e sua constante intérprete, tendo se iniciado nos grupos teatrais da UNE. E tem a participação de Luciana Carnielli, formada pela ECA da USP, extraordinária atriz e cantora, de belíssimo registro de voz e simpatia imensa, que tem larga experiência de convívio com Gabriel Villela, com quem já trabalhou inúmeras vezes. As duas fazem uma dupla contraditória e ao mesmo tempo complementar: a mais velha é realista e de certo modo agressiva (e hilária por sua contundência) e a outra é mais romântica e inocente (e hilária por esta ingenuidade). O que lembra as velhas duplas das comédias dell'arte do século XVI. Na cena, ainda, Dagoberto Feliz, competente músico e excelente coadjutor, porque está sempre presente, mas não impõe sua presença.
O espetáculo é bonito, divertido, lúdico, poético, inteligente e, sobretudo, inovador, quebrando a pasmaceira de muitos espetáculos comerciais.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO